Eu só ajo como uma tola, todos os dias, me afundando naquele breu incessante que eu descrevi naquela tarde, porque é assim que a depressão parece para mim, como uma coisa que me sucumbe, dessa vez como se me chicoteasse. Mas quando eu vi os pequenos raios do nascer do sol baterem no seu rosto te iluminando, e fazendo a confusão das suas sardas fazerem total sentido para mim, pelo menos por aquele momento, parecia a mais linda constelação que habitava o céu, apesar de eu nunca ter conseguido identificar sequer uma, aquilo coincidia comigo, coincidia de uma maneira insana e que me transbordava. Aquilo fez, mesmo que por um pouco, as chicotadas pararem, e eu me senti sã de novo.
Seria loucura se eu te dissesse que eu voltei a fazer meu quarto de corpo? Mesmo depois das milhas de sermões que traçaram meu caminho para o lado de fora, o meu progresso foi jogado no lixo, se é que ele nesse momento tinha sido material o suficiente para ser jogado ali. Como eu queria te dizer que eu estou bem agora, mas eu não estou, e eu me sinto na obrigação de não mentir para você, porque era você, e só você que me abraçava com as palavras, que me dizia que estava tudo bem não estar bem, e eu queria agradecer por tudo isso, por tudo que me fez sentir humana de novo naquele meio tempo.
Apesar de isso tudo me matar por dentro, eu ainda me lembro do seu perfume, o mesmo que você usava todo dia, e que me fazia sentir única no seu abraço, isso me faz sorrir as vezes, e me ainda alimenta de uma falsa esperança que as horas que eu passo sempre, olhando para a tela do celular, esperando algum sinal de te ver online, até mesmo um convite para sair, valham a pena de algum modo, e que isso alguma hora vai acontecer, como uma milagre dos céus, uma luz, mas eu estou completamente ciente de que não vai, mas tentar, não me mataria, certo?
A verdade é que a minha alma, está em cacos, pedaços completamente miúdos que se confundiriam com pó, como os da vidraça do carro que te tirou de mim a um mês, e acredite, ele me atropelou junto, porque eu não quero acreditar, que de uma hora para a outra eu não poderia te ter do meu lado de novo, sentir o seu sorriso tocar a minha alma, ou talvez ter cócegas nas pontas dos dedos quando você deixava a barba por fazer, eu sinto muito por não ter me despedido, eu não conseguiria de qualquer forma, é um martírio não ter a força de que eu precisava para tocar seu rosto mais uma vez, mesmo que gélido, ou talvez ter seu cabelo tocando a minha mão de novo.
Eu te amo, mais que a mim mesma, mais do que a qualquer coisa, eu não faço ideia de quanto tempo eu vou suportar aqui em baixo ainda, torça pelo que o que seria melhor para mim...

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UMA CARTA
Teen FictionNunca fui a mesma tendo conhecido Peter, talvez depois daquilo, tenha voltado a ser como nunca.