Quando eu cheguei na escola hoje, Carolina estava me esperando, nós conversamos bastante, eu deixei ela falar tudo o que queria sobre si e ouvi atentamente, contei o mínimo sobre mim, eu não me importava que a visão dela sobre minha pessoa fosse a da garota estranha com depressão, mas ela se mostrou uma ótima companhia e se ofereceu para ir me buscar em casa para irmos a festa.Quando contei a Minerva que eu tinha uma festa para ir ela ficou super animada, não tinha ninguém melhor para me ajudar com o que vestir do que ela.
-Ai! Aysh, eu não acredito! Você vai a uma festa! -dizia saltitante.
Eu sorria vendo a reação dela.
-O que vai vestir? -perguntou curiosa.
-Eu não sei, por isso você está aqui, vai me ajudar.
Ao ouvir minha declaração, minha irmã vibrou, ela simplesmente amava meu guarda- roupas, cheio de roupas que eu nunca tinha usado, todas compradas na tentativa de me alegrar, elas até fizeram um efeito temporário na época, mas não serviu de muita coisa.
Minerva pintou as minhas unhas da cor favorita dela, azul claro, quando eu saí do banho e vesti meu roupão, ela já estava no quarto me esperando, super animada com uma maleta cor de rosa em mãos.
Abri meu guarda-roupa revelando uma série de vestidos que jamais usei, os olhos da Mines brilharam só de olhar para eles, deixei ela escolher o que quisesse para eu vestir. No fim, depois de fazer eu experimentar vários vestidos, Minerva chegou a uma conclusão, escolheu um vestido azul claro, todo em renda, com decote em coração e alças finas, seu comprimento ia até os joelhos, justo nos lugares certos, como disse minha irmã. Para combinar, um par de sapatos de salto alto preto, brincos prateados para combinar com o colar e com a pulseira, ela fez uma maquiagem leve, com os olhos bem marcados e a boca em um tom bem suave de rosa. No meu cabelo, ela moldou cachos com o seu babyliss e pronto, o trabalho foi terminado.-Agora quero que se olhe no espelho. -disse segurando minha mão e me guiando até o grande espelho que eu tinha na parede.
Ergui o rosto para encarar o meu reflexo, aquela não parecia eu, não me sentia bonita, mas também não me sentia feia, eu me sentia de certo modo atraente, não tão sem graça como pareço.
-Maninha, você é linda!-exclamou Minerva, que estava orgulhosa do seu trabalho.
-Você conseguiu fazer um milagre! -comentei.
-Milagre não, eu só valorizei o que já é lindo.
Fomos interrompidas pela invasão da minha mãe no quarto.
-Ah, filha, você está tão linda.-disse ao me ver e veio me abraçar. -Miguel, venha até aqui!
Meu pai apareceu na porta e sua boca se abriu em um perfeito O, os dois vieram me abraçar orgulhosos, e a Mines se juntou a nós no abraço coletivo, só faltava a Lúcia para a família estar completa.
-Essa é a minha garota! -disse o meu pai.
Ouvi o som da campainha tocando e deduzi que fosse a Carolina, desci as escadas e abri a porta.
-Oi Carolina, esses são meus pais e minha irmã, Minerva.-fiz uma apresentação breve.
-Ah, oi Ayshila, senhor e senhora Albuquerque, Minerva, é um prazer! -Carolina os cumprimentou com toda a sua simpatia.
-É um prazer, minha jovem.-disse minha mãe.
-Prazer. -Minerva disse.
E após um diálogo bem curto, eu entrei no carro com a Carolina, ela dirigia bem.
-Você vai adorar Ayshila, vai ver. -disse sorridente ao volante.
-É, eu acho que sim.-fitei a paisagem pela janela.
-É a sua primeira festa, não é? -perguntou é eu assenti.-Você não parece muito animada.
-Na verdade estou nervosa, é algo novo para mim. -confessei.
-Não precisa ficar nervosa, vai ser demais, você vai ver.
Ela estacionou na frente do que acredito que seja uma boate, tinham vários outros carros ali, saímos do carro e fomos em direção a entrada, tinha bastante gente ali, a maioria com copos nas mãos, e eu podia sentir um cheiro muito forte de bebida, todo mundo ali cheirava a bebida e a perfume, os aromas variavam entre colônia e perfume importado. Não conseguia me sentir bem naquele local, mas também não me sinto bem em lugar nenhum além da minha casa, então, normal. A música era alta, ensurdecedora, as pessoas estavam bêbadas, Carolina dançava ao meu lado, em nenhum momento ela me deixou sozinha, e eu agradecia por isso.
Nós duas fomos ao bar pegar uma bebida, eu pedi um refrigerante sem álcool e ela vinho, tinham uns rapazes perto de nós, eu quis sumir quando reconheci um deles, Ângelo.
-Eu vou ao banheiro. -disse e me distanciei do bar.
-Espera, vou com você. -disse a Carolina me seguindo.
Passamos alguns minutos no banheiro, quando me senti mais confortável, resolvi voltar ao bar para terminar minha bebida, dei um pequeno gole nela e Carolina me olhou assustada.
-O que foi? -perguntei sem entender.
-Você não devia ter bebido isso, alguém pode ter colocado algo aí. -falou.
-Okay, não vou mais fazer isso.
Alguns minutos se seguiram, comecei a sentir muito sono, meus músculos estavam relaxando aos poucos e logo eu não podia mais me aguentar sobre os meus próprios pés, antes de apagar, tudo o que vi foi um sorriso malicioso, tudo o que ouvi foi um grito desesperado.
Os momentos em que acordava duravam segundos. No primeiro, vi uma garota gritando, no segundo, homens sobre mim, no terceiro, senti dor lancinante, ouvi risadas, e um choro abafado ao fundo. Depois disso, apaguei completamente.
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Quando enfim acordei, eu estava em estado deplorável, meu corpo todo doía, minhas roupas se encontravam completamente rasgadas, Carolina estava amarrada no canto do beco escuro, chorando muito, amordaçada, porém, completamente vestida. Eu estava sangrando, tinha sangue, muito sangue, uma onda de desespero percorreu todo o meu corpo, eu quis gritar,me sentia um lixo,podre, sem valor. Desmaiei novamente.
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Reconheço o som do monitor cardíaco. Levanto minha cabeça e vejo uma sala completamente branca, deduzi que era um quarto de hospital, a dor em meu corpo estava mais fraca, mas ainda se fazia presente, mal conseguia me mexer. Uma enfermeira entrou sem bater.-Que bom que acordou senhorita Albuquerque!
-O que eu estou fazendo aqui? -perguntei.
-A senhorita foi encontrada desacordada em um beco com outra jovem, com sinais de abuso sexual e lesões corporais. -falou tentando ao máximo não falar que eu tinha sido estuprada.
Não, isso não podia ser verdade, eu me recuso a acreditar, me recuso. As lágrimas lavaram meu rosto naquele momento.
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Liberdade
RandomA felicidade não é encontrada em comprimidos, não. Essa é uma estória sobre liberdade, mais precisamente a luta por ela. Uma distopia onde a luta não é só pela liberdade política, mas por algo a mais...