Carlos Eduardo - O que você fez com o carro que eu te dei?

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─ O que você fez com o carro que eu te dei? – Ela perguntava ainda ofegante por causa do ensaio. Decidimos por Dança sensual do Mc Koringa. E depois de alguns ajustes, a coreografia estava aceitável com uma pegada para o Charme e uma mistura de passos aéreos com sequências de hip hop, bem funk, na verdade.

─ Eu doei. – Respondi sério. A falta de compromisso de Bruna na semana passada tinha me irritado muito e a raiva ainda não passara. Pelo menos, era isso que eu achava que estava sentindo.

─ Doou? Para quem? – Olhava para mim incrédula.

─ Para uma instituição que cuida de idosos naquela comunidade que você me levou outro dia. Jefferson me ajudou a escolher. Pensei que você iria gostar. A doação foi em seu nome, é claro.

─ Por que você fez isso?

─ Porque você não teve culpa se o meu carro foi roubado. Porque o seguro pode muito bem cuidar disso. Porque eu não preciso de você me causando mais e mais problemas do que os que eu já tenho... – Descontei toda a minha raiva e ela, por incrível que pareça, ficou calada.

O ensaio tinha terminado. Minha cabeça estava cheia. Eu ainda tinha que estudar. As férias estavam no final e eu nem pegara nos livros. O vestibular se aproximava. Minha mãe não concordava com a minha escolha pela ciência pura. E Bruna não me dava um minuto de sossego. Eu ia estourar se continuasse a fazer tantas coisas.

Bruna juntou suas coisas e saiu sem dar uma palavra. Aquilo não era normal. Eu a magoei. Claro que me arrependi na mesma hora. Corri pela academia e a segurei pelo ombro.

─ Brunita... – Ela estava com lágrimas nos olhos. Meu Deus, eu sou um idiota. Limpei o rosto dela com meus polegares. – Por favor, você pode me desculpar?

─ Você e as suas malditas desculpas novamente... – Ela sorriu para mim engolindo o choro.

─ Não deveria ter te tratado assim, minha parceira. – Eu a abracei com carinho. – Eu sou um idiota.

─ Não, não é. – Ela me olhou nos olhos. – Eu jamais deveria ter te levado para um baile funk em plena comunidade.

─ Fui tão mal assim? – Brinquei. – Pensei que, em algum momento daquilo tudo, você estivesse se divertindo nos meus braços. Cheguei até a acreditar que...

─ Eu fui imprudente. – Ela me interrompeu com urgência. – Deveria ter te explicado tudo, ter avisado aos seus pais, ter colocado o carro num estacionamento...

─ Brunete, escuta só. Eu sei que eu fiquei nervoso, tá? Peço desculpas por isso. Mas, por mais que você se sinta mal por causa do roubo ter acontecido na sua antiga vizinhança, a culpa não é sua, ok? A cidade está perigosa mesmo, nós poderíamos ser assaltados em qualquer canto.

─ Você deveria ter aceitado o carro. Sei que você não precisa. – Ela ainda se lamentava. – Mas eu me sentiria melhor... – Ela abaixou o olhar.

─ Acho que ambos estamos nos sentindo melhor com a doação. Você não acha? – Eu sorri. Era gostoso abraçar Bruna. Principalmente quando ela abaixava a guarda. – Além disso, minha mãe não me deixaria usar o carro.

─ Por quê? – Ela me olhava com um jeito de quem inventara mil histórias escabrosas na cabeça para a recusa.

─ Porque não era blindado. – Respondi com a verdade.

─ Olha, riquinho, tudo bem que vocês têm dinheiro, mas você não acha que é um pouco demais um carro blindado, não?

─ Acho que mãe é mãe. Com elas, não se discute. – Assanhei o cabelo dela que ficou zangada. – Se andar num carro blindado faz com que Dona Débora fique mais tranquila, não me custa nada satisfazer a sua vontade.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora