Desde que eu voltei da Bahia que minha garganta coçava. Depois, passou a doer. Tomei remédio, mas eu já sabia o que estava por vir. Hoje, a coriza, a febre e a dor no corpo chegaram com força total.
Agora, se o meu corpo acha que eu vou faltar o último ensaio antes da apresentação, ele está muito enganado. Bruna "Determinação" Drummond não vai dar mais pano para manga para o Kadu me chamar de irresponsável. Apesar de que, quando me levantei da cama e senti tudo rodar, quase que considero ligar e cancelar tudo.
Decidida, fiz o que estava fazendo todos os dias, engoli um coquetel de antitérmicos, expectorantes, descongestionantes e analgésicos com suco de laranja e tomei um banho quente. Depois disso, eu era quase gente.
Acordei quase na hora do ensaio, pelo menos, não almocei. Doença é ótimo para emagrecer. Eu estava completamente morta de cansaço. Eu e o Altair saíamos todas as noites para eventos. Patrocínio, caridade, publicidade, jantar formal na casa de um bacana. Confesso que estava feliz com a proximidade da sua viagem para a Alemanha.
Ele fechara o contrato e começava em agosto. Era tanto dinheiro que eu nem saberia mensurar na transação. Os estrangeiros exigiam pressa na transferência. Ele estava bem com a mudança. Queria sair do Brasil logo, acho que também não gostava de tanto assédio.
Domingo seria sua última participação no programa. Estava combinado que ele e sua parceira seriam eliminados dessa vez. Por isso, não estava tão preocupada assim com meu desempenho.
O Kadu, entretanto, não sabia disso. Só faltava me matar nos ensaios. Nem sei dizer o quanto da dor no meu corpo era da doença e quanto era do exercício. Cheguei, nem bem sei como fiz isso dado ao estado de torpor em que me encontrava, preparada para mais uma sessão de tortura.
─ Brunuda, que cara é essa? – Ele foi logo colocando a mão na minha testa assim que me viu. – Você está ardendo de febre, criatura.
Carlos Eduardo, apesar de tímido, é bom em situações de crise. Mesmo sendo um ensaio na emissora, ele não quis nem saber. Foi logo me colocando dentro do carro. No banco do passageiro, é claro. E me levou para casa. Pela primeira vez essa semana, eu me dei ao direito de dormir o percurso inteiro.
Chegando em casa, ele me colocou debaixo das cobertas e ligou para um médico da família dele. Diagnóstico: infecção. Comprou os antibióticos receitados e foi fazer uma sopa. Até sopa o cara sabe fazer. Como eu posso não amá-lo?
Passava das oito, quando eu fui tomá-la. Ele não saía do meu pé. Tomei com vontade. Eu não tinha quase me alimentado o dia inteiro. Caí no sono novamente.
Duas horas da manhã, constatei que não estava mais com febre e que precisava fazer xixi. Dei de cara com Carlos Eduardo cochilando numa poltrona ao lado da cama. Meu coração se encheu de amor. Tive vontade de chorar. Fazia tanto tempo que eu não tinha alguém assim na minha vida que nem sabia mais como era.
─ Vem cá, Kadu. – Eu o puxei para a minha cama. – Você é grande demais para essa poltrona. – Sem reclamar, ele deixou que eu tirasse seus tênis e seus óculos. Parecia um menininho encolhido. Sorri com a cena, mas me lembrei da preocupada e zelosa mamãe Dona Débora. – Você ligou para os seus pais? – Perguntei. – Avisou onde estava?
─ Eu avisei que ia dormir com você. – Ele me respondeu sonolento.
Gostei demais de ouvir aquilo. Queria que tivesse acontecido em outras condições. Queria que ele estivesse dormindo comigo e não apenas ao meu lado.
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Por Onde Andei
Novela JuvenilNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...