Carlos Eduardo - Não foi a melhor apresentação

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─ Essa, com certeza, não foi a melhor apresentação de vocês. Para mim, faltou vitalidade. – Uma senhora do júri técnico dava a sua opinião, mas para falar a verdade, eu nem prestava atenção. Eu segurava Bruna pela cintura dessa vez. Estava com medo de que ela simplesmente desmaiasse. Bruna ardia em febre, suas bochechas estavam rosadas por causa do calor.

Cansei de insistir para que essa maluca não viesse dançar hoje. Liguei inclusive para a agente dela. Daniela disse que se Bruna estava concordando em ir era porque aguentaria. E disse ainda que seria até bom para ela profissionalmente. É outra maluca essa mulher.

Passei o dia tomando conta da minha parceira. Fiz o almoço, lavei a louça. O namorado ligou, mas não veio vê-la. Estava ocupado. É impressionante como, apesar da pose, essa garota é sozinha. Não sei como não enlouquece com tantas obrigações.

E é impressionante também como ela resiste a ser ajudada, mesmo estando tão doente. Bruna me mandou para casa umas oito vezes. Eu não fui. Finquei o pé até que ela desistiu de me expulsar. Não havia possibilidade de abandoná-la nessas condições.

Viemos para a emissora juntos. Ela fungava e tossia com um sorriso nos lábios. Deixava-se maquiar e pentear como uma diva. Não dava maiores sinais de cansaço. Eu estava confuso por vê-la representar saúde tão bem. Ela me disse que fazia isso com frequência. Que televisão tinha muito pouco do glamour. Disse para não me preocupar.

Na hora da nossa apresentação, ela estava com febre novamente. Sentia frio. Eu a abraçava. O apresentador falava e falava. Eu só queria que acabasse de uma vez. Finalmente, a hora chegou e nós dançamos.

Não foi fenomenal como poderia ser, mas dadas as circunstâncias, considero minha parceira uma guerreira. Ela não abriu mão nem dos passos aéreos nem da sequência no solo. Deveria estar exausta, porque, além de tudo, não conseguia respirar direito.

Acabaram-se as notas e a minha vontade era levá-la dali diretinho para um hospital para tomar aerossol. Encontramos minha mãe e Daniela nos bastidores. A agente de Bruna a levou para o camarim.

─ Você dançou lindamente hoje, meu querido. – Deu um beijo no alto da minha testa. – Aliás, precisamos conversar sobre isso. A sua apresentação na Atmosfera da semana passada deu o que falar. Acho que ficaria bem legal se você fizesse isso mais vezes. – Minha mãe me abraçou e foi me levando para fora do estúdio, em direção aos estacionamentos.

─ Mãe, para. Não posso ir sem a Bruna.

─ Pode sim, querido. – Ela sorriu para mim. – Falei com a Daniela e Bruna vai se demorar um pouco mais. Parece que vai se despedir do namorado ou coisa assim. Ele está indo para a Alemanha, não é mesmo?

─ Não faço ideia. – Fechei a cara.

Eu hesitava. Não queria deixar Bruna daquele jeito sozinha. Ela precisava de mim.

─ Meu filho, o que foi? – Dona Débora estava parada de frente para mim com aqueles olhos azuis muito ligados em tudo que eu fazia. – Por um acaso, você está apaixonado por essa garota?

─ Mãe, ela está doente. Precisa de ajuda. Eu... – Fiquei vermelho com a simples pergunta. Tentei justificar o interesse. Ela, como sempre, me desconstruiu em dois tempos.

─ Meu amor, Bruna está gripada e vai sobreviver. Ela está muito bem assessorada pela agente e pelo namorado. Além disso, você está a vinte quatro horas de enfermeiro particular e para mim já basta. Você vai para casa antes que fique doente como ela e tenha que perder aula. – Mamãe sabia ser convincente. Não falei mais nada até chegarmos.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora