Carlos Eduardo - Minha volta para a escola

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Minha volta para a escola não foi exatamente aquilo que eu imaginei. Assim que desci do carro, comecei a ouvir gritinhos histéricos. Jamais imaginei que fossem direcionados a mim. Eu sempre entrei e saí do Santa Inês sem o menor alarde.

Nem bem entrei pelo portão, um bando de meninas malucas da oitava série me agarrou e começou a bater fotos. A revista tinha saído. Entendi quando elas começaram a esfregá-la na minha cara, me pedindo, não tão gentilmente, para que eu autografasse.

Tentei ao máximo me esgueirar sem ser indelicado com ninguém. Mas a quantidade de meninas foi aumentando vertiginosamente e eu já estava até passando mal. Ainda bem que Mariana, a presidente do grêmio, e Dona Cecília, a diretora, vieram me socorrer.

─ Olha, nunca imaginei, deixo você sozinho por uns dias e você vira celebridade? – Mariana me acompanhou até a sala. Nós estudávamos juntos.

─ Se serve de consolo, nem eu imaginava que seria assim. – Mariana é uma garota divertida. Nós participamos de um grupo de estudos orientais. Na verdade, apenas uma fachada para gente que curte anime e mangá. – Estou morrendo de vergonha. Quando será que isso vai parar?

─ Bom, para ser sincera, acho que começou agora. – Sorria para mim de maneira solidária. – Mas, se você quiser, posso dar uma sugestão.

─ Resolvendo. Eu agradeço.

─ Faça de uma vez a vontade delas.

─ Como assim?

─ Isso é fogo de palha. Enxame por causa de umas fotos na revista. Se você assinar logo essas fotos, fica tudo bem.

─ Mas como é que eu vou assinar essa quantidade de revista? Parece que toda menina dessa escola tem uma.

─ Que tal uma tarde de autógrafos?

─ Você está maluca? Consegue me imaginar na frente dessa mulherada ensandecida? – Ela deu uma gargalhada.

─ Hei. Não fui eu que te meti nessa enrascada, ok? – Ela se divertia com a minha situação.

─ Desculpe. – Também ri.

─ É chato ser gostoso?

─ Não brinca.

─ Que tal se você e a Bruna dançarem no intervalo? E depois a gente abre para autógrafos?

─ Acho que vou pedir minha transferência, isso sim. – Ela me abraçou e entramos na sala. Até minhas colegas, que me viram o ano inteiro sentado na mesma cadeira, estavam em polvorosa.

─ Nossa, Kadu, eu não podia imaginar que por detrás desses óculos havia um gatinho. – Joana se jogava por cima da minha carteira com a revista nas mãos. Tirou meus óculos e ficava olhando da revista para mim comparando. Eu fiquei vermelho.

─ Eu sempre soube que ele era uma gracinha por detrás dessa timidez toda. – Milena veio caminhando devagar e se sentou do meu lado. Foi como um raio de sol iluminando meu dia. – Quando era criança, todas as amigas da mamãe falavam que ele era o menino mais lindo do mundo.

Eu podia deixar de existir. O sorriso carinhoso de Milena me pegou de surpresa. Ela nunca conversou muito comigo, estava sempre ocupada com o namorado. Mas hoje Felipe não estava ali e ela ainda se lembrava desses encontros na nossa infância. Meu coração queria sair do peito. Milena sabia que eu existia.

─ E aí, galã, posso combinar o intervalo diferente? – Mariana tornou a perguntar.

─ A Bruna está doente, Mari. Ela não vem. – Concluí intentando que ela mudasse de ideia.

─ Ah! Que pena! Acho que resolveria o problema...

─ Que problema? – Milena perguntou.

Mariana explicou a situação inteira para Milena. As duas riram bastante da minha cara. A situação era cômica mesmo. Depois de velho, sair correndo de um bando de garotas.

─ Se é por isso, - Milena disse entre uma risadinha – eu danço com você.

Ai meu Deus! Comecei a tremer.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora