Capítulo 23

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- vou... - Dorian parecia pensativo.
- vai aonde?-perguntou Pietra.
  Ele abriu a boca como se fosse responder mas voltou a fechar.
- bem, eu iria inventar uma desculpa mas, a verdade é que não quero a companhia desagradável da senhorita, então se me permite, vou fazer qualquer coisa que me deixe o mais longe possível de você!-disse ele com o dedo na cara de Pietra.
  Obviamente, Pietra não gosta de sair perdendo, e muito menos ser ignorada.
- Nem pensar! -disse ela agarrando o braço dele.- Você vai me levar para me desculpar com seus avós e depois me apresentar para pessoas importantes!
  Pietra praticamente saiu arrastando Dorian pelo caminho que logo pegou outro copo de vinho e virou de uma vez.
Quase distante de mais, ele se virou e disse:
-não esquece, barraca de doces!
  Em seguida ele me deu uma piscadela e desapareceu na multidão.
- o que ele quer dizer com isso?-perguntou Ian curioso.
- Ah, ele só disse pra começar por lá!-inventei.
  Algo me diz que Ian não deveria saber do nosso encontro, então inventei uma mentira qualquer.
- que seja a barraca de doces então! -disse ele.
  Ian me levou a muitos lugares, me apresentou a diversas pessoas as quais nem lembro o nome.
  Nosso diálogo era bem limitado, e por mais que caminhassemos parecia uma obrigação ter uma conversa. Mas eu não podia pensar em nada.
  Depois do quarto copo de vinho, eu parei de contar. Já me sinto bem alegre, falante e ruborizada.
- olá meus queridos! -disse a Senhora Fragoso.
- olá Senhora! -falei animada.
- vovó...- cumprimentou Ian.
- a Senhorita parece animada. Perdoe-me mas não perguntei seu nome mais cedo...
- Helena De Castro! -respondi.
- que prazer Helena. Vocês formam um casal tão lindo!-disse ela.
  Senti Ian estremecer ao meu lado. Será que a ideia de casar comigo é tão repulsiva a este ponto?
-Ian? Não parece muito animado! -disse ela perspicaz.
- eu só... Preciso de vinho. Já volto!-disse ele nos deixando.
  Involuntariamente eu e a Senhora Fragoso caminhamos em direção a barraca de doces.
- tenho ótimas histórias sobre ele para lhe contar!-disse a Senhora Fragoso.
- não sei se haverá oportunidade! -falei pensativa.
- como não? Vocês vão se casar... Quero ver meus bisnetos crescendo em minha casa!-disse ela.
- Senhora Fragoso...
- pode me chamar de Izabel querida....
- Izabel, não sei se o casamento... -Eu comecei a falar mas não sabia como.
- já entendi querida! - disse ela colocando a mão em meu ombro.
- entendeu?-perguntei surpresa.
- claro. Você tem medo do casamento. Eu sei como se sente. Acha que um casamento arranjado pode ser ruim.
- eu queria casar por amor! -expliquei.
- eu também, assim como minha filha Virgínia... Todas as mulheres sonham com o amor, mas não temos controle de nossos destinos!
-isso é horrível. Não poder ecolher com quem vamos casar e passar o resto de nossas vidas. Para o homem, é muito mais fácil, ele sai, bebe com os amigos e trai sua esposa, que está em casa gorda, descalça e com cinco filhos para cuidar...
- curioso seu ponto de vista! -falou ela.
- eu ando conversando muito com Dorian!-falei sorrindo. - São os planos exatos dele.
- Ian não é como Dorian, mas a conversa não é sobre eles... - disse Izabel.
  Fiquei em silêncio, não estava gostando do rumo da conversa.
- sabe querida, não é porque o casamento é arranjado que não exista amor. Quando me casei com o Barão, eu não amava ele. Nem se quer nos conhecíamos, nos vimos pela primeira vez já no altar...
- nunca se viram?-perguntei surpresa.
- não, mas isso não impediu que com o passar do tempo um sentimento começasse a surgir. A princípio ficamos confusos, mas depois descobrimos juntos que era amor. Talvez no começo ele tenha me traído, eu não sei e nem quero saber, mas a partir do momento em que nos apaixonamos, sei que ele sempre foi fiel a mim. Construímos nosso amor do nada. Eu engravidei cinco vezes, mas quatro dos bebês morreram ainda em meu ventre...
- Sinto muito! -falei baixo.
- ele nunca me amou menos por isso! Ele não queria mais que eu tentasse quinta vez, mas resolvi fazer um último teste, e Virgínia nasceu. Nossa única filha. Ele não me amou menos por ser uma menina. Pelo contrário nos aproximamos mais...
- parece uma história de um livro! -falei impressionada.
- como era nossa única filha, Wladimir queria casar ela muito bem, por isso o casamento dela foi arranjado. Ela passou alguns dias sob os cuidados da família Seymour para adaptação, e antes mesmo do casamento acontecer já estavam apaixonados...
- parece que ambas tiveram finais felizes.
- ainda não está tudo acabado Helena. O seu casamento ainda pode dar certo. Você ainda pode ser feliz...
- não sei Izabel, eu e Ian... Somos muito diferentes. Vivemos discutindo e acho que não vai dar certo. Eu planjo ser devolvida, não quero ser infeliz.
- não tome nenhuma atitude precipitada Helena, para mais tarde não se arrepender. Quando estiver muito triste, com raiva ou só querendo um ombro amigo, vá até minha casa, não é muito longe. Passe uns dias lá. Será bom para nós duas!
-assim que eu tiver uma oportunidade!-falei.
  Não notei que já estava escuro, Dorian já estava chegando.
- vovó! -disse ele animado dando um beijo barulhento em Izabel.
- Dorian! -irritou-se Izabel. - Já está bêbado!
-Só um pouco vovó! -disse ele se apoiando em mim.
- espero que não dê o mesmo vexame do ano passado! -disse ela irritada. - Porque francamente Dorian, até seu avô com essa idade me impressiona mais pelado do que você!
  Meu rosto esquentou com o assunto, ou era só o vinho mesmo.
- shh! -disse Dorian com o dedo na boca.
- francamente Dorian, queria que você se comportasse uma vez na vida! Até logo Helena!-disse Izabel me deixando com Dorian.
- vamos Helena, antes que alguém nos veja!-disse ele me puxando.
- não sei se eu quero sair por ai com um bêbado!-falei pensativa.
- não estou bêbado. Ainda! Mas vamos ficar, com certeza! -disse ele.
- tudo bem!-falei me deixando levar por ele.
  Durante o caminho, nos afastamos da festa, ao sair tive uma leve impressão de ter visto Ian, mas não o vi novamente.
  Estávamos bem longe da festa, entrando em uma parte escura da cidade, com pessoas bêbadas no chão, mendigos e meretrizes. Comecei a sentir um pouco de medo.
- onde estamos indo?-perguntei parando.
- em um lugar que eu gosto. Não vai se arrepender. Confia em mim?-perguntou ele me olhando nos olhos.
- confio!-respondi hesitante.
  Continuamos por mais alguns metros até ele parar bruscamente e me pergutar:
-sabe jogar cartas?

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