Não consigo acreditar, ele quase me matou com aquela brincadeira sem graça.
O que eu fiz ontem que deixou ele tão irritado a ponto de querer se vingar?
Não importa, ele me decepcionou, pensei que ele fosse diferente, mas não, ele é igual ou pior que o próprio pai, egoísta, idiota, só pensa em dinheiro e em diminuir os outros.
Por que estou tão surpresa? Eu ja deveria saber que ele era assim, me deixei enganar por palavras doces da Baronesa, e agora estou com vergonha e raiva. Só não sei se dele ou de mim mesma!
Eu vim pra cá sabendo que não seria fácil, vim determinada a não ficar, e agora mais que nunca vou dar um jeito de partir...
Só preciso descobrir o que eu fiz que o deixou tão irritado!
Pelos corredores, eu não prestava atenção no caminho, até trombar com Dorian.
- ei... onde é o incêndio? -perguntou ele.
- não me irrita! -falei chateada.
Encarei ele por alguns segundos e vi que seu olho esquerdo estava inchado, começando a roxear.
- o que aconteceu com você? -perguntei confusa.
- Ah isso, nada de mais...
- Dorian! -ameacei.
- eu e Ian tivemos uma pequena discussão ontem a noite, por sua causa...
- Meu Deus, isso foi culpa minha?-perguntei me sentindo culpada.
- você não se lembra de nada. Não é?
Fiz que não com a cabeça.
- eu e você fomos a uma taverna ontem a noite. Ficamos bêbados, jogamos cartas e conversamos com mercenários. Ian aparentemente não gostou de eu ter te levado a um lugar tão perigoso. Enfim, olho roxo!
A explicação dele me deixou chateada. Como eu fui imprudente.
Ian tem razão de ter ficado furioso comigo, eu poderia ter morrido. E uma dama de respeito em uma taverna com o próprio cunhado... Agora entendo a fúria de Ian, se alguém importante me viu a reputação dele - impecável por sinal- está acabada.
Me senti péssima.
- foi só isso mesmo?-perguntei. - Ian não parece o tipo de homem que se irrita facilmente.
- bem, eu estava bêbado. Falei alguma coisa que o irritou... Não me lembro muito bem...
Um Flash invadiu minha mente, foi muito rápido, mas vi Dorian no chão e uma porta sendo fechada bloqueando minha visão.
- Desculpe Dorian, eu preciso ir...- falei.
- vai a festa hoje? -perguntou ele.
- não me sinto muito bem. Vou ficar por aqui mesmo e ler alguma coisa...
- tudo bem... nos vemos mais tarde! -disse ele.
Dorian me deu um beijo na testa, um gesto de carinho e muito íntimo por sinal.
Fiquei paralisada.
Ele sorriu e foi embora, me deixando ali tentando entender o que significa aquilo.
Corri para o escritório do Senhor Seymour e procurei papel.
Minha respiração está irregular, e um sentimento de culpa e vergonha me atingindo.
A carta era bem objetiva, escrevi em poucos minutos.Sr. Seymour;
Sou uma pessoa muito objetiva e sincera, por isso vou direito ao ponto.
Sou orgulhosa de mais para te procurar e dizer que estou errada,então recorri a boa e velha carta.
Sinto muito.
Percebi que fui imprudente e inconsequente ao me deixar levar para aquela taverna, estou profundamente arrependida. Não pretendia envergonhar o Senhor, e eu lhe garanto que jamais precisará se preocupar com minhas indiscrições.
Seu desejo será atendido e sua reputação impecável prosseguirá intacta.Helena De Castro.
Imediatamente dobrei o papel e fui até a porta de seu quarto.
Joguei a carta por baixo da porta, dei três batidas e saí correndo.
Entrei em meu quarto e fingi que nada havia acontecido. Eu era boa nisso. Fingir.
Sentei-me no sofá e fiquei ali observando a pintura daquele artista desconhecido, ao qual Virgínia tem tanto apreço.
Como seria um quadro meu feito por este artista?
O pensamento se perdeu em minha mente enquanto eu desfrutava do silêncio, da solidão e do quadro do cavalo selvagem.
Aquele quadro me atraiu com tanta força, que me sinto de alguma maneira conectada com aquele belo animal.
As portas foram abertas bruscamente fazendo barulho.
Eu deveria ter imaginado que ele faria isso, talvez a carta não tenha sido minha melhor ideia.
Resolvi permanecer calma, estou cheia de discussões e confusões, eu só queria voltar pra casa, rever minha mãe, Louise, Joseph e Blair.
- Quando irá aprender a bater na porta? -perguntei calmamente.
Eu estava de costas para ele, não sabia que expressão ele tinha, mas pela invasão, prefiro não provocar.
- está se tornando inconveniente Senhor Seymour!-falei baixo.
- eu não sei se me irrito ou se me admiro com suas ações Senhorita De Castro! -disse ele indiferente.
A curiosidade me venceu, fui obrigada a me levantar e encarar ele de frente.
- O que significa isso?-perguntou ele me mostrando a carta.
- exatamente o que parece!-falei.- Não sabe ler?
Ele riu, um sorriso frio.
- o que está tentando fazer?-perguntou ele.
- nada, se leu a carta pode perceber do que se trata. Não ouvirá essas palavras de mim.
- você me enlouquece! -disse ele irritado.
- geralmente eu causo esse efeito nos homens, mas não no bom sentido! -falei casualmente.
Vi seus olhos se arregalar, ele foi pego com a guarda baixa e não resistiu, acabou sorrindo.
- você é orgulhosa de mais para se descupar?-perguntou ele.
- eu disse isso na carta, além do fato de eu não ser tão boa com as palavras...
- você não entende nada!-disse ele irritado.
- o que eu não entendo Ian? A carta já diz tudo, sua reputação está intacta!
- tá vendo Helena! É isso que você não entende!-disse ele suspirando. - Isso não é sobre mim, é sobre você!
- Eu?-perguntei surpresa.
- não fiquei irritado porque minha reputação corria perigo Helena, fiquei irritado por sua imprudência!
Fiquei em silêncio.
Eu não entendo, ele disse que minhas ações o afetam e agora está dizendo o contrário.
- minha reputação não tem grande valor, um homem de negócios, obediente e solitário que vez ou outra bebe com os amigos. Não é grande coisa, até Dorian é mais popular.
- eu não...
- era com a sua reputação que eu estava preocupado Helena.
- minha reputação? Só porque sou mulher?- perguntei com ironia.
- Helena, você tem noção do que poderia ter acontecido? Você estava bêbada, em uma taverna imunda, cercada de homens, a maioria perigosos... Poderia ter acabado em tragédia. Seria fácil pra qualquer homem lá te agarrar, te usar e depois te matar...- dizia ele calmamente.
- Eu sei me defender! -reclamei.
- não de homens como aqueles. - respondeu ele.
- Dorian estava comigo. Ele iria me defender! -falei hesitante.
- Dorian? -perguntou ele sorrindo. - Você já viu Dorian manuseando uma espada? Uma arma? Um simples garfo? Acredite, nem se ele quisesse conseguiria.
- faz muito pouco de seu irmão. - falei séria.
O olhar de Ian escureceu e seu sorriso desapareceu.
- você não deveria confiar tanto assim em Dorian. Não conhece a reputação dele!-disse Ian.
- Por que diz isso?-perguntei.
- não acreditaria em mim!
- tente e veremos!- o desafiei.
- Dorian está se aproveitando de você. Ele quer você de baixo dele.- disse Ian sombrio.
- tem razão, não acredito em você! - falei friamente.
Não, Dorian é meu amigo, ele jamais tentaria nada comigo, sempre foi tão nobre...
- Helena, o que acha que teria acontecido ontem a noite se eu não estivesse lá? -perguntou ele. - Acha que Dorian só ia limpar seu vômito e colocar você pra dormir como eu fiz? Ele ia cuidar de seu porre? Te consolar? Ter compaixão de você? Você acha Dorian tão nobre assim?
Eu não acreditei quando ele falou aquelas coisas, se isso que ele ta falando for verdade... Que vergonha meu Deus!
Não lembro da noite anterior, mas se tudo que ele fez por mim é real, eu realmente devo desculpas e até um obrigada.
Não acredito que vomitei na frente dele, e pior ainda, ele me consolou... O que eu fiz...
- Dorian não ia ter compaixão, ele não se importa com ninguém. Só se importa com os próprios desejos, e no momento ele deseja você! -disse ele.
- eu não acredito! -falei veementemente.
- você quem sabe! Eu te avisei!
- por que está falando assim do seu irmão? Você não é assim!-falei.
Ele me encarou antes de responder.
- eu nunca me importei com as aventuras de Dorian, mas como já te disse antes, isso me afeta!
Fiquei confusa.
- como assim?-perguntei irritada.
- os atos de Dorian assim como os seus me afetam!-disse ele simplesmente.
Ele deu as costas para mim e ia saindo do meu quarto, mas eu o deti com apenas uma palavra, uma palavra que saiu baixa, mas tenho certeza que ele ouviu.
- Obrigada!
Ele me olhou por cima do ombro.
- obrigada por cuidar de mim!-eu falei envergonhada.
- não vou deixar você sozinha! -disse ele baixo antes de partir.
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Casamento Arranjado [Completo]
Narrativa StoricaEla sempre sonhou em casar por amor, mas ao descobrir que foi prometida em casamento para unificar os negócios das famílias mais poderosas de Londres, fez seus sonhos ruirem e se tornarem seu pior pesadelo, fazendo com que ela acredite que o amor é...