A enfermeira trouxe uma espécie de macarrão para mim, com um copo de suco, salada, e gelatina, tudo numa bandeja, não tinha um gosto ruim, mas também não era a melhor coisa do mundo. Fiquei um pouco incomodada por precisar comer com talheres de plástico.Após jantar, vasculhei minha mala e lá estava ela, a boa e velha escova de dentes, fui ao banheiro e escovei os meus dentes, depois voltei para a cama e continuei a leitura, mais uma vez, entraram no quarto sem pedir, mas não era uma enfermeira, era um homem alto, loiro, cabelos bem lisos e olhos verdes, usava uma espécie de uniforme com jaleco por cima, deve ser o tal psicólogo.Ele sorriu para mim, não retribui, ele não se abalou.-Olá senhorita Albuquerque.- disse e se sentou na poltrona ao lado da cama.
-Olá doutor...-é, eu já não lembrava o nome dele.
-Kaiser.-refrescou minha memória.
-Então doutor Kaiser... o que o senhor faz aqui?
-Eu sou o seu psicólogo. -disse como se fosse óbvio. -Como você se sente hoje, senhorita Albuquerque?
-Bem, na medida do possível. -respondi dando uma meia verdade.
-Mas não parece, a senhorita parece triste.-disse convicto. -Me conte, o que lhe aflige?
-Eu não estou aflita doutor.
-Não, não minta para si mesma, se abra comigo, estou aqui para isso. -insistiu.
-E se eu não estiver a fim de me abrir com você? -retruquei.
-Aí eu não vou poder te ajudar. -respondeu.
-Mas e se eu não quiser a sua ajuda?
Ele me olhava como se eu fosse louca.
-Você não tem que querer, você precisa!-mesmo calmo, senti mais seriedade em sua voz.
-E o que te faz pensar que eu preciso da sua ajuda?
Sim, eu estava desafiando o psicólogo, como uma garota mimada que não aceitava nada que não fosse do jeito dela, só que numa situação um tanto inusitada.
-Se a senhorita não precisasse da minha ajuda, não estaria aqui agora. -respondeu.
-Ah, então é você que vai me "curar" ?-perguntei em tom de ironia.
-Bem, sim, levando em conta a parte principal do seu tratamento. -confirmou.
-Realmente vai perder seu tempo comigo? Sinceramente doutor, não tem nada que você possa fazer por mim.-abri o jogo. -Não vai me fazer mudar de ideia.
-Senhorita, a primeira coisa que vamos trabalhar é esse seu pensamento negativo, isso não faz bem.-disse e começou a fazer umas anotações. -E a senhorita é rebelde, mas não creio que esse seja o problema.
Ele já está me diagnosticando? Nem conversamos direito, eu não disse nada que ajudasse.
-Hey, quem pensa que é para me chamar de rebelde? -perguntei debochada.Ele riu. Que filho da P@#%
-Você tomou seu remédio hoje? -ele sorria enquanto me analisava dos pés a cabeça, não parecia assustado com o meu comportamento.
Normalmente eu fico deprimida, mas agora eu estou com raiva. Será que tenho transtorno bipolar? Pensando bem, eu esqueci completamente os meus remédios.
-Não...
-Está explicado. -ele levantou e foi até a porta chamar uma enfermeira. -Preciso de calmantes aqui, obrigado.
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Liberdade
RandomA felicidade não é encontrada em comprimidos, não. Essa é uma estória sobre liberdade, mais precisamente a luta por ela. Uma distopia onde a luta não é só pela liberdade política, mas por algo a mais...