Lobos

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Não são apenas os jovens e inocentes lobinhos que buscam por compreensão, é um engano pensar nisso de uma forma tão fechada. A sina da necessidade, mesmo que vaga ou obsessiva de companhia é o que torna os humanos em lobos. É o que caracteriza a humanidade.


Todos crescemos e evoluímos com a incerteza de uma companhia por toda a vida. Alguns não se importam com isso, outros passam a se importar com o tempo. Eventualmente, todos teremos as marcas que o tempo nos deixa e as moldagens de quem seremos começam a ser introduzidas, seja em um âmbito carnal ou em uma passagem de emoções.


Todos temem a solidão após serem mordidos pela graça e a bondade das companhias. Irônico, o que te salva de um ciclo selvagem é o que talvez lhe jogue no seguinte.


Ser honesto com suas palavras e honrar suas ações até o fim da vida soa como uma obrigação moral a ser aprendida e seguida. É o que torna a humanidade racional. É o que faz a vida querer ser vivida: A crença de que há verdade em tudo o que ouvimos e em tudo o que uivamos aos ventos e que ecoam aos sete mares.


Acreditar na solidão é muito mais cabível do que aceitar o inefável destino de, eventualmente se estabelecer como uma matilha ao invés de apenas mais um lobo. Já proclamava Platão, com seus dizeres expostos a eterna conduta do ser humano: O homem é o lobo do homem.


A capacidade de seres atingido és a mesma que tens de seres protegido, independentes dos eventos que lhe tragam harmonia ou distúrbio. Indubitável é a afirmação de que apenas há, nesta terra de trevas e dores, incontáveis açoites à boas e puras matilhas.


Mas esta não é a verdade absoluta que deveria ser seguida.


No finado espírito de esperança que há muito abandonou todas as almas, deixando-as como cascas ocas de malícia e anseio pelo próximo mal que as cabe na vida, alguém vociferou sem medos ou anseios: Amais ao outro como a ti.


Numa realidade onde não há amor à figura perdida do espelho, como desejar paz em tantas visões caóticas e distorcidas do que era suposta ser a mais importante das vistas? Ver-te como uma miragem faz-te sentir em um mundo deserto.


Humanos fogem das soluções, ignoram as maravilhas e importam-se apenas com a selvageria e com a irracionalidade. Talvez o ser humano deva agir como um lobo que apenas aprende, em sua essência, a não agir com selvageria com relação às outras matilhas e aos outros lobos.


Eles precisam aprender a observar e aprender. Observar às maravilhas com olhos de esperança. Encontrar a famigerada e imprescindível matilha de onde farás parte e seguires como um lobo não-selvagem. Farejar o doce aroma da liberdade e seguir o caminho oposto do odor da solidão. Encontre-te em teu lobo. Faças de ti tua própria matilha e assim, acharás outros lobos livres da própria solidão.


O homem é o lobo do homem.

Clitch, o Instigado Fantasma IncompreendidoOnde histórias criam vida. Descubra agora