23 - Final

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Nervosismo.

Essa palavra descreve minha última semana inteira.

Já o Pietro estava mais calmo que um Buda. O que é incrível já que ele sempre é mais nervoso e ansioso que eu.

Dentro do carro olho para Maia de um geito desconfortável e me lembro que a quatro horas atrás ela quase me bateu por eu não ter dormido direito e ter amanhecido com a cara inchada.

-Vai dar tudo certo- falou.

Ela estava tão linda e incrivelmente jovem. O casamento fez bem pra ela de uma forma que eu também quero.

Antes de eu ter ido dormir ontem ficamos na sala conversando.

Ela me falava "relacionamentos são como saltar do meio de uma ponte".

E eu me imaginava saltando de novo e de novo e de novo, até quando consegui ajustar os saltos. Porque é assim. Porque todo pulo do meio de uma ponte é intenso! É intenso e ninguém sabe como pode acabar. A gente planeja, mas não sabe.

Meu casamento é só para as pessoas próximas a mim, ou seja, não vai ter tanta gente. Esse fato poderia até ser triste mas acontece que eu adorei.

Vai ser em uma fazenda um pouco longe da cidade.

E parando pra pensar eu nunca sonhei com o meu casamento. E ele só vai ser em uma fazenda porque eu achei que na igreja seria muito clichê.

E eu já fui muito clichê nessa minha vida.

De repente me senti estranha, com muita maquiagem e com um vestido grande de mais. Sentia minha cabeça doer por causa do penteado.

Será que eu estou ficando louca logo agora?

E eu não consigo parar de pensar no Pietro. Será que ele também está assim? Ou está normal como aparentou durante a semana toda?

-Zara, você está bem?- Maia perguntou pegando na minha mão.

Já estávamos na metade do caminho quando senti meu estômago embrulhar e minha mão tremer.

-Para o carro!- escutei Maia gritar, meu olhos já estavam escurecendo.

Quando paramos no meio da estrada me ajudaram a sentar na minha cadeira.

Ela estava toda enfeitada e linda.

Olhei pra Maia com um olhar suplicante de ajuda.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo.

-Zara- ela se abaixou na minha frente- Zara olha pra mim- ela tentava se manter equilibrada em cima dos saltos e dentro do vestido colado- escuta com atenção o que eu vou te falar agora.

Me preparei, não devia ser bom.

-Eu te amo mais do que eu mesma e quero que saiba que estou do seu lado a qualquer momento. Se você não está se sentindo bem porque vai se casar então não casa, se você me falar que quer ir embora nós voltamos pra casa agora mesmo, mas só quero que saiba que se sentir nervosa é muito mais que normal, você pode achar que o Pietro ficou bem mas na verdade não, ele chorou ontem de noite pro meu marido dizendo que você era a melhor coisa do mundo. Então me diz agora o que você quer fazer.

Voltamos pro carro. Que situação patética, mas as palavras sinceras de Maia me fizeram ficar melhor.

Quando chegamos a entrada da fazenda senti meu coração perder umas três batidas.

Voltei pra cadeira e me concentrei apenas em não chorar e estragar toda a maquiagem.

Me olhei no espelho e por um momento pensei que talvez Pietro não pudesse me reconhecer com tanta maquiagem. Fizeram milagres em mim hoje.

Meu pai chegou me elogiou. Estranhei, ele nunca me elogia. Esse dia está sendo louco.

Todos foram para o altar e ficamos só eu, meu pai e Maia. Maia disse algo como "te espero lá" e saiu correndo.

Então meu pai olhou de cima pra baixo em mim e começou a chorar.

Isso mesmo. Chorar.

E entre soluços me disse que me amava e pediu desculpas pela falta que ele fazia em casa. Me lembrei de quando minha mãe era viva, nossa família era unida e feliz.

Uma lágrima desceu pelo meu rosto e eu o abracei dizendo que estava tudo bem.

Enquanto ele foi se recuperar do choro eu fiquei respirando fundo pra me acalmar. "O grande dia" é agora.

A marcha nupcial começou a tocar e meu pai foi empurrando minha cadeira. Todos estavam de pé e me olhavam com ternura.

"Ela está linda" escutei e sorri. Quando vi Pietro lindo de terno no altar fiz meu pai parar de andar.

Ninguém entendeu e meu pai veio pro meu lado sorrindo mais que eu.

Levantei a barra do meu vestido e coloquei meu pé no chão. Ainda bem que eu estou de sapatilha.

Meu pai me ajudou a acabar de levantar e dei o primeiro passo.

Todos estavam surpresos e vi Pietro chorando e sorrindo ao mesmo tempo.

Andei até o altar e durante o resto da cerimônia.

Foi o dia que eu vi mais pessoas reunidas chorando.

Foi o dia que eu mais chorei na minha vida. Eu soluçava de chorar no final. Eu chorava tanto que me sentaram na cadeira de novo e me perguntaram se eu estava bem.

Eu só conseguia, me curvar e chorar. Foi um choro tão honesto que em nenhum momento eu parei pra limpar o rosto.

E na minha cabeça repetia o mesmo mantra cheio de felicidade "não tinha como ser mais perfeito".

Hoje tenho orgulho desse choro. Ninguém é fraco por sentir demais...

Fim.

Essa é uma história de amor (#Wattys2016)Onde histórias criam vida. Descubra agora