Fuga

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P.O.V. Amber

Nunca pensei que eu, aos 29 anos, teria que relembrar as aulas de Esportes que tinha quando estava na High School. Eu corria o mais rápido que minhas pernas curtas conseguiam se mover, e o ar gelado do final do inverno na cidade de Carrollton na Geórgia entrava pelas minhas narinas, queimando tudo que via pela frente.

A rua asfaltada na minha frente era bem diferente da pista azulada na qual eu treinava. Os meus pés descalços ganhavam leves machucados ao pisar nos pedregulhos que o cimento mal batido deixava pelo caminho. E o saco de tecido que eu carregava a tira colo com algumas roupas dentro, no caso era o bastão que eu não passaria para ninguém, já que minha corrida era solitária e muito angustiante, pois eu não conseguia ver e nem pensar no fim do meu percurso.

Eu só precisava correr, me afastar da loucura que minha vida estava se transformando e do inferno que ela se tornou nos últimos 10 minutos. Ou 15, sei lá, porque já perdi a noção de tempo.

Os flashes das competições de atletismo do colégio eram como um telão na minha frente. "Vai Amber, corre" era o grito que saia pelas gargantas dos meus companheiros, e agora também era o único pensamento que eu tinha claramente: Correr!

É impossível também não se lembrar dos gritos que minha mãe me dirigia, quando eu teimava em treinar minha velocidade dentro de casa quando criança: "Amber Regina Mills, nada de correr nas escadas".

Se dona Cora pudesse ver a minha situação agora, tenho certeza que estaria gritando a plenos pulmões ao lado dos meus colegas torcendo para que minhas pernas não fraquejassem. Inclusive, recordei o quanto odiava ter Regina em meu nome, pois sempre achei que era nome de velha. Era estritamente proibido me chamar de Regina, porque eu virava uma verdadeira fera. Vai ver que aquilo era um sinal.

Preciso dizer aqui agora pra vocês que eu nunca acreditei muito em Deus e na fé que as pessoas diziam ter. Meus pais nunca me forçaram a escolher uma religião a seguir, e então por isso apenas sigo o que sinto. E naquele momento de desespero eu só pedi para que se essa força divina realmente existisse, que ela me desse a porcaria de um sinal. Ou era isso, ou nada feito.

Eu só percebi os meus atos, quando a porta da casa que quase derrubei em batidas se abriu mostrando a ruiva de belos olhos azuis e mais alta do que eu, que há alguns dias me deu a receita de uma maravilhosa torta de maça verde, e que eu sempre encontrava quando andava pelas redondezas do bairro, fazendo compras no mercado ou na farmácia da rua de trás.

Deus, Alá, Buda, Oxalá, Maomé, Jeová... Eu não faço ideia de quem foi o meu ajudante, mas a partir daquele momento passei a acreditar em todos eles e em qualquer outra força divina, Deus, santos e amuletos que me falassem que existia.

- Você disse que eu podia contar com você. – Eu falei tão rápido quanto forcei minha entrada na casa, fechando a porta atrás de mim e as persianas por cima dos vidros.

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