Capítulo 12 -- A sinhazinha Rosa

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Depois daquele dia em que estive perto da sinhazinha Rosa , parece que um muro se desmoronou e caiu , revelando uma afeição de nós dois como se nós já tivéssemos nos conhecido antes, ela sempre vinha ver o jardim e como eu trabalhava , as vezes , vinha acompanhada da baronesa , e quando assim fazia , a gente não conversava muito , só o essencial , ,mas quando ela chegava , só , com aqueles olhos grandes que me perfurava por dentro , eu me derretia todo e ficava embevecido com a sua voz , com as suas palavras e os seus sonhos de querer acabar com o castigo dos escravos e, ela estava sendo muito sincera em tudo que dizia , e eu estava comovido com tudo que ela dizia e fazia , e ela também me contava os casos da corte , como as mulheres se comportavam e como era bom a vida lá , que lá tinha muitos escravos alforriados que viviam bem , a depender de quem os alforriava , por que não ser alforriado e não ter como ganhar a vida , é a mesma coisa que não viver em paz , pois falta tudo , sendo assim , eu não queria ser alforriado para viver desta forma ., ela ria, e dizia que eu ia ganhar a minha carta , porque eu era um homem especial , eu me deixava levar pelas suas palavras ,, mas sabia qual era o meu lugar ... ,eu era um escravo e os anos que eu tinha na fazenda, me davam uma certa regalia , pois todos gostavam de mim , e era só , eu não queria ter esperanças , mas quando acontecia dela não aparecer para o seu banho de sol, eu ficava pensando nela ,mas eu era nada e levava as conversas dela para dentro de mim , como se fosse a última vez que eu a ouvia falar, ela sempre dizia que ia voltar a corte de novo , mas nunca ia , e eu no fundo sabia que ela ia,, mas ficava desejando que ela não fosse , e eu nem sabia o porque , e ia fazendo tudo para agradar.


Um dia de um sol muito bonito ela desceu até onde eu estava e disse que queria conhecer a lavoura , que queria ver as condições do lugar e onde era feito o plantio , e que eu era a melhor pessoa para acompanha-la , eu apenas falei --sinhá , está sol , mesmo com o guarda sol, pode pegar muito sol e se empolar , aí ela respondeu --- deixe de besteira, negro , nada como um bom sol para dar um pouco de cor a minha pele , veja! ( e me mostrou o colo branco , ao que eu enrubesci , se é que tinha como , pois eu era escuro , mas fiquei , vendo todo aquele, colo virado para mim) abaixei rápido as vistas e tratei de ser mais rápido ainda --- a sinhazinha que sabe ., ela então se ajeitou e falou --- vamos ?, eu ia pegar o cavalo , o xucro e o dela , mas ela recusou ,--- não , Inácio , vamos a pé , eu me admirei e não contei conversa --- apé sinhazinha? aí é que vai se empolar toda , ---ora deixe de asneira , homem , faça o que mando , se me empolar é comigo , eu quero andar , passear e ver toda a extensão de terra que temos aqui e tenho que aproveitar. que meu pai não está , e minha mãe está nos afazeres de costura que ela tanto ama , eu quero ver as terras , o plantio , vamos agora por favor? não tema , você está comigo , nada vai acontecer , então eu , obedeci ela e saímos andando como se fossemos dois parceiros , e o sol estava bonito e forte naquele dia e eu feliz de ter ela ao meu lado .

Caminhamos pelos vastos campos , as árvores pelo caminho estavam algumas com galhos secos , outras em plena harmonia com os campos , continuamos caminhando até a plantação e lavoura e ao chegarmos , lá meus companheiros se assustaram quando eu cheguei com a sinhazinha, ela estava com a pele rosada do sol , e estava mais linda ,do que já era , foi logo , falando com todo mundo e sendo muito bondosa , perguntando tudo que podia , desde a plantação , e a forma que estava sendo plantado , até as condições de alimentação de quem passava o dia lá , eu expliquei que parávamos para comer e comia a comida que as escravas traziam ,, e ela disse que queria provar para ver se era bom o que nos espantou mais ainda e quando eu ia argumentar alguma coisa ela me olhou feio como se fosse me repelir , mas só falei --- num tem comida ainda sinhá , , ainda num é chegada a hora nem deu meio dia , e acredito que só lá pela duas horas , eu falei olhando para o sol , ele nos dava a posição , a sinhazinha pediu água , eu tirei a que tinha levado e ofereci , ela bebeu quase tudo e continuou andando mais até que disse --- por hoje é só , obrigada por me receber , podem continuar o que estavam fazendo , vamos Inácio , eu , mal respondi , e comecei a andar ao seu lado com o guarda sol na mão , suspenso para que este lhe desse cobertura.

Fomos andando , de volta para casa , o caminho era um tanto comprido , mas ela queria andar , e queria apreciar o sol , eu, que já estava por demais acostumado, não sentia o queimor do sol em minhas costas , nem em meu rosto e braços , o que para ela, mesmo com o guarda sol era demasiado quente , pois o mormaço queimava mais que qualquer coisa, ela estava com um vestido leve , era o que disse , mas eu , achava que era muito pano , e apenas pensei , ela estava com o rosto bem rosado que nem tomate , e eu não pude deixar de esboçar um sorriso ao que ela parou no caminho e perguntou -- do que está sorrindo negro?--- nada , é que a sinhazinha é muito engraçada, podia vir de cavalo , ou a carroça e preferiu vir de pé com este seu escravo , no final do dia vai estar mortinha. ela se irritou ---vocês pensam que somos feitas de nuvens ? melhor andar com você do que ficar lá parada com a baronesa minha mãe , arrumando casamento para mim e me dizendo bobagens.; Eu quando ouvi a palavra casamento , fiquei com um aperto no coração e sem saber o porque , isto me entristeceu , e perguntei cheio de medo ( como falei , eu tinha medo de tudo )--- a sinhá vai casar , ? ela , olhou os campos , passou a língua rosada pelos lábios ressecados , e disse, e para dizer demorou um pouco , o que me pareceu um castigo pior do que ir para o tronco , como fazia o seu Germano quando nos castigava , na frente de todo mundo , que é para dar o exemplo ,--- não tenho a mínima intensão , e se casar , será por amor , por um homem digno e decente , (eu respirei aliviado , sem saber a causa da minha ligeira aflição) --- mas a sinhá já está na hora de se casar e aqui na fazenda é seu Gonçalo que aprova as nossas uniões , ele deve saber o que é melhor para a sinhazinha , ela me olhou me secando com os olhos negros e brilhantes e disse --- só me casarei por amor , e dos bons , sem amor , não tem graça , veja Inácio , vamos nos sentar aqui , e apontou para a grama verde que estava ali , juntamente com o grande rio que arrodeava a fazenda toda ,, eu apenas assenti , doido para continuar a prosa , e ela se acomodou , e fez sinal para que eu sentasse ao seu lado , o que fiz timidamente , e então ela continuou a prosa que eu tanto estava ansioso para que ela continuasse e assim ela o fez --- Inácio , eu quero me casar por amor , e esses nobres da corte , não tem o que preciso , não me encantam , aí eu interrompi cheio de coragem ---e o que encanta a sinhazinha? ---ah, negro ..! ( eu adorava quando ela me chamava de negro , por que era de um jeito , carinhoso e engraçado e eu nunca que tive isso em minha existência ) . nem eu mesmo sei , mas só sei que estes fidalgos são muitos aborrecidos , e as suas conversas não me seduzem , não tem aquele calor dos livros que leio , ,aqueles beijos , , de que eu e minhas amigas vemos e lemos ,--- como a sinhá ler esses livros ? quero dizer , a sinhá Acácia num sabe ? ---- e ela precisa saber , negro? eu sou dona de mim , sou á frente do meu tempo,, sou moderna , e quero ser moderna ,veja a minha mãe , coitada! casou-se com meu pai , que tem uma boa fortuna , nada lhe falta , mas é feliz? os olhos de meu pai não brilham quando a olha , nem os dela por ele , , ela não participa de nada dele , do seu trabalho , do que faz em sua ausência , não se importa com ele como mulher , e vive esta vida parada ,sem amor , não quero viver assim, quero mais! eu , cocei o queixo , e num é que ela tinha razão?aí eu me atrevi a perguntar , ---e se a sinhazinha num encontrar esse amor de livros que tanto quer , num vai se casar nunca? ----ah, negro , eu hei de encontrar sei que vou , e vai ser maravilhoso .. .e ela me olhou com um sorriso largo e continuou falando , a boca mexia muito e fazia um biquinho ao falar e aquilo me dava um gosto de ver e sem saber o por que eu já estava ficando estranho de tanto gosto daquele modo dela falar e eu e tava suando , por entre as minhas pernas , e tinha um formigamento nas minhas entranhas e eu num sabia mais o que estava se passando comigo , e ela ali f,alando , falando até que ela resolveu que queria tomar um banho no rio , se banhar para refrescar do calor , eu falei --- sinhá ... num é melhor se banhar em casa ? ---- não ! eu quero aqui ! , estou com calor , e foi tirando a roupa , eu estremeci num sei de medo que este é o meu fraco ou de calor e fogo nas minhas intimidades que estava ficando assanhado e demonstrando comichão , afinal ela era uma sinhazinha , mas era mulher e eu , apesar de negro escravo, subalterno , era homem e fiquei parado quando ela tirou as peças que cobria seu corpo , na minha frente , a minha boca num queria fechar , nem meus olhos , de tanta formosura , e do alvejar daquela pele e vi quando ela entrou na água do rio e deu um mergulho, , me chamou com as mãos , --- vem negro , vem se refrescar ..aí eu, fiquei sem saber o que fazer , metade de mim queria , e a outra metade , não permitia , eu e o medo de tudo né?--- num carece sinhá, , e virei de costas , e assim permaneci até ela se vestir e vir para o meu lado , e eu confesso que tremia de tudo junto , mas ela se arrumou e fomos andando eu , todo acabado por que tinha que me controlar do acontecido , e ela me olhando com aqueles olhos .

E em paz , partimos para os nossos destinos , e eu só sei que desde aquela ensolarada manhã de sol ,, meus pensamentos com relação a sinhazinha haviam mudado de forma estranha e eu, num conseguia parar de olhar em meus pensamentos aquela alvura de sua pele , me chamando para o banho .


O Dedo de Deus (Obra não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora