Eu acordada às cinco da manhã olhando a delicadeza do seu sono profundo enquanto tento me concentrar em alguma leitura pretensiosa. Você interrompendo uma fala exagerada ou a minha velha risada desritmada com um beijo, se despedindo e me pedindo pra te esperar no jantar-e eu vou. Talvez eu fique irritada pelo seu atraso e talvez a gente brigue por nossas diferenças, mas entre um grito e outro sempre caberá amor.
Eu faria charme no sofá vermelho e pediria pra nunca me deixar e quando trouxesse o café que, por favor, viesse acompanhado pelo carinho mais sincero e mais terno que pudesse arrancar do seu interior. Então seriamos eu, você e suas camisetas daquele herói sem cara grudadas nas minhas blusas baratas dentro do mesmo armário selando uma existência mútua, incerta, complexa causada pela fusão de dois corpos antes perdidos numa multidão acelerada pelo frio da falta de um apego. Faria qualquer coisa pra te aquecer.
Mas os o conta-quilômetros brincam de destino e colocam numerozinhos incontáveis entre o meu carinho e o teu.
No fim, só resta no peito a saudade de um toque que nunca aconteceu.
(T.H. Melo. Sinestesia.)
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sinestesia
Poesía"Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando..." -Clarice Lispector