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Sinto meu corpo ser balançado de um lado para o outro, meus braços caem soltos por cima da minha cabeça. Abro os olhos e me vejo olhando para um belo traseiro, ergo a cabeça e o deserto se estende à minha frente. Me remexo desconfortável e isso faz com que o Forasteiro saiba que estou acordada, mas ele não me coloca ao chão.

— Ei, me solta! — Digo começando a ficar enjoada.

Seus braços seguram minhas pernas ainda mais firmes e me arcam para baixo, começo a ser colocada ao chão devagar, sinto o calor emanar do corpo dele e quando coloco os pés na areia levanto meu rosto para olha-lo.

O rosto dele está sem expressão alguma, mas consigo sentir emanar dele confusão e irritação.

— Você me deve explicações, garota. — Ele diz e eu lanço um sorriso inocente.

— Não sei o que está falando, Forasteiro.

— Você sabe muito bem. — Ele diz me apertando em seus braços. — Eu a vi morrer e depois voltar à vida. Quero explicações.

— Quanto tempo estou desacordada? — Pergunto o olhando.

— Quatro dias. — Diz ele irritado.

— Foi mais rápido. — Digo para mim mesma.

Saio dos braços dele, passo as duas mãos sobre os cabelos e olho para o horizonte. Algo está mudando e isso não parece ser uma coisa boa.

— O que foi? — Pergunta ele. — Vai falar ou vou ter que usar nossa ligação? — Ameaça.

Olho para ele o avaliando, prestando atenção em cada parte do rosto que não está coberto pelo sheema. Solto um suspiro, me viro começando a andar.

— Quando o poder me controla, somente a morte me livra dele. — Minha voz sai baixa e rouca por causa da sede que estou sentindo.

Ele me alcança e começa a andar ao meu lado. O olho de canto de olho e o vejo franzir a testa.

— Então você não pode morrer? — Ele pergunta e eu reviro os olhos.

— É logico que eu posso morrer. — Ele me olha confuso. — Eu sou uma criatura mortal, Forasteiro. Não sou um deus grego, que se regenera depois que morre. — Faço uma careta em reprovação. — O poder que  possuo é o da cura, quando eu lhe curei perdi o controle sobre ele. — Sinto minha garganta doer em concordância. — Meu corpo sempre que entra em um estado deplorável, como eu estava à quatro dias atrás, faz com que o poder tome o controle e me revigore, sem que eu o invoque.

Ele balança a cabeça como se estivesse tentando me acompanhar.

— Mas quando eu o curei, ultrapassei todos os meus limites. E como eu não sei controla-lo exatamente, ele acabou entrando em colapso e nesses momentos raros, somente a morte consegue fazer ele se abranger. — Olho em volta e continuo a falar. — Quando eu morro com o poder me consumindo, faz com que ele se foque em curar a ferida em vez de tentar me destruir.

O silêncio se instala, espero o Forasteiro assimilar as coisas, para poder perguntar onde estamos.

— Já aconteceu isso com você antes? — Pergunta.

— Sim, em outros momentos iguais ao que aconteceu. — Digo encolhendo um pouco os ombros por causa das lembranças.

— Você tentou salvar outras pessoas? — Pergunta ele, curioso.

— No começo sim e acabei ajudando. — Balanço a cabeça com as lembranças. — Mas na última vez que tentei acabou piorando a situação.

— O quê aconteceu? — Franzo minha boca por causa da pergunta.

A Filha De Raziel Onde histórias criam vida. Descubra agora