Meu corpo inteiro dói, tento me levantar, mas tudo piora, minha cabeça gira, meu estômago reclama e minha visão se enche de pontos negros. Permaneço na mesma posição até minha visão voltar, olho ao meu redor e fico surpresa ao perceber que estou em uma caverna.
Algo pesado caí de meus ombros e percebo ser um manto, me sento pegando o pano já desgastado e jogo em meus ombros tentando evitar que o vento gélido congele meus ossos.
Uma fogueira não muito longe de mim está apagada, porém ainda se pode ver as brasas em um tom avermelhado, olho ao redor à procura do homem que me trouxe, porém ele não está aqui. Me levanto sentindo onde ele atingiu minha cabeça, de modo instantâneo levo minha mão até o local e sinto um enorme galo. Suspiro e enquanto chamo meu poder começo a andar na direção de onde vêm uma fraca luz.
Meus pés descalços doem conforme ando pelas pedras irregulares, minha pele formiga e brilha levemente como se me avisasse que o poder está sobre o meu controle. Aos poucos vou sentindo meu corpo ficar melhor, então corto minha concentração e a cura vai embora de forma relutante.
Quando chego até o final do túnel paro e olho para o local, das rachaduras nas rochas a água cai livremente e sinto minha boca secar e minha garganta doer. Mas antes de seguir até lá olho o restante do lugar e prendo meus olhos na figura que dança de um jeito mortal. Seus cabelos são de um tom dourado e balançam a cada movimento que ele faz, as lâminas parecem parte de seu corpo, seus movimentos são ágeis e graciosos, como um felino.
Seu corpo é forte e consigo ver as várias cicatrizes que percorrem pelo seu peito e seus braços nus. Dou um passo em sua direção sem qualquer hesitação, completamente admirada com seus movimentos e com sua beleza. Quando piso dentro do local, ele parece perceber minha aproximação e para no mesmo instante, quase deixo um descontentamento sair pela minha boca, mas seguro as palavras bem firmes em minhas cordas vocais e tento não parecer decepcionada.
— Vejo que acordou —Sua voz é forte e um tanto rouca, o que faz um arrepio subir pela minha coluna.
—Por quê estou aqui? —Pergunto olhando ao redor. —E como vim parar aqui com você?
Ele se afasta até onde vejo uma camisa e um suporte para colocar as espadas, ele pega a camisa e a coloca, a mesma gruda em seu corpo por causa do suor que está em sua pele, ele guarda as espadas e segura o suporte vindo em minha direção. Ele para em minha frente e me olha de forma avaliativa.
—Você parecia estar em um estado pior quando a deixei dormindo no outro cômodo. —Vejo em seus olhos a dúvida surgir, mas ela desaparece quando ele dá de ombros. —Acho que me enganei.
Balanço a cabeça sem saber o que responder e deixo meus olhos vagarem pelo local.
—Será que podemos nos acomodar antes que eu responda suas perguntas? —Sua voz faz meus olhos se voltarem em sua direção.
Avalio seu rosto não deixando passar nada pelos meus olhos e por fim acabo cedendo. Afirmo com um leve balançar com a cabeça e dou um passo para o lado, o homem passa por mim, mas antes de segui-lo vou até onde a água caí e sacio minha imensa sede.
Quando chego na parte da frente da caverna começo a sentir a temperatura cair de forma rápida, como prevendo o que estou sentindo, o homem à minha frente joga alguns pedaços de madeira ao fogo. As chamas aumentam no mesmo instante e me sento o mais perto que consigo, o homem parece pensar por um instante e se senta do outro lado da fogueira, o que faz ficar com a aparência de um anjo guerreiro, sua beleza quase tira o meu fôlego e seus olhos são quase tão perigosos quanto as chamas que consomem rapidamente a madeira.
Quando seus olhos encontram os meus, eu não consigo desvia-los, na verdade, eu não consigo fazer muita coisa com seu olhar sobre mim. Mas com muito esforço consigo olhar para as chamas, elas parecem ferozes e magníficas, me concentro nelas e quase esqueço do homem à minha frente se não fosse sua voz cortar o silêncio que tinha se instalado.
—Eu te salvei —Levanto meu olhar e o encaro confusa, ele parece perceber e continua a falar. —Do homem que estava com você, depois que você o acertou, ele acabou ficando instável por um instante, então eu aproveitei e fui te ajudar.
—E porquê você achou que eu precisava ser salva? —Pergunto desconfiada e um tanto irritada.
—Não sei, talvez porquê ele atacou você? —Pergunta irônico.
Reviro os olhos. Quem ele acha que é para se meter entre mim e o Forasteiro ?
—E porquê você fez, o que fez? —Levanto uma sobrancelha.
—Achei que era certo. —Ele dá de ombros.
Olho ao redor sem saber o que eu busco, mas volto a olha-lo e me levanto.
—O quê você fez com ele? —Pergunto desesperada.
—Por quê você se preocupa com ele? —A confusão preenche seus olhos.
—O que você fez com o homem que estava comigo? —Pergunto dessa vez de forma autoritária.
—Nada, apenas o deixei desmaiado no mesmo local —Ele diz, passo as mãos sobre meu cabelo e começo a sentir minha cabeça começar a doer. —Por quê?
—Você o deixou desacordado no meio do deserto? —Tento manter minha voz controlada o que é realmente difícil, já que o desespero começa a ocupar espaço em meu peito —Você tem noção do que fez?
Ele se levanta e parece um pouco irritado, talvez até mesmo arrependido.
—E você queria que eu fizesse o quê? —Pergunta sobressaltado —Que deixasse que a levasse sabe-se lá para onde?
—Você não tem direito de chegar e dar um de herói, você não sabe nada sobre mim ou sobre ele —Jogo o manto ao chão irritada —Você não sabe o que estava acontecendo para se intrometer e agora tenho que concertar seu erro idiota.
Vejo ele tencionar o maxilar e fechar as mãos, não me importo se ele está furioso ou até mesmo se eu o insultei, mas a culpa é dele, não minha, quem mandou bancar o herói ?
Não espero ele falar, sigo em direção até minhas botas e as calço, pego meu cinto e as armas que estão no canto. Quando termino de colocar meu sheema, começo a andar em direção da saída, mas sou parada por uma mão.
— Onde você vai? —Pergunta —As criaturas noturnas estão à solta.
—Alguém precisa concertar o seu erro. —Digo friamente.
Ele solta meu braço, porém não se afasta, vejo arrependimento em seu olhar e um tanto de incerteza.
—Agora preciso ir, se não se importar. —Digo já voltando a andar.
—Eu me importo. —Sua voz me faz parar.
—O quê disse? —Me viro para olha-lo.
—Eu te salvei, não vou deixa-la correr perigo novamente. —Ele diz incerto. —As criaturas irão te notar assim que sair desse lugar.
—Se eu não morrer por elas, irei morrer de outro modo. —Dou de ombros. —E não irá ser você que irá me impedir de ir salvar o homem que deixou para trás.
—Ele é tão importante assim, para você se arriscar tanto? —Sua voz sai suave e ao mesmo tempo rouca.
Penso sobre sua pergunta e a respondo sem hesitar.
—Você não faz ideia do tanto.
Ele dá um passo para trás e passa uma mão sobre o cabelo, deixando-o ainda mais bagunçado, ele vira para me olhar e já não vejo nada em seus olhos.
—Tudo bem. —Ele diz. —Mas eu vou com você.
Penso em negar e o obriga-lo a ficar, mas mudo de ideia, ele iria ser de grande ajuda lá fora, principalmente para enfrentar as criaturas noturnas. Suspiro e balanço a cabeça, concordando. Ele começa a andar de um lado para o outro à procuras de suas roupas e armas, quando ele fica pronto saímos ao ar livre do deserto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Filha De Raziel
FantasyTalvez em algum momento a bíblia estivesse certa, não posso saber ao certo, pois eu não estava lá para presenciar a destruição. Mas sei que algo aconteceu, pois assim que acordei já não havia mais nada, somente destroços. Alguns dizem, que o mundo a...