VII

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Corro de forma desajeitada, já que meus pés afundam pela areia, minha visão tenta em vão enxergar algo no horizonte, mas à somente uma vasta escuridão. Me abaixo de forma rápida e a calda da criatura passa exatamente onde eu estava, porém Max já não tem tanta sorte e vai de encontro com a areia.

Ele fala alguma coisa em outra língua, que pelo modo que disse suponho ser alguns palavrões. Lanço um olhar em sua direção e me levanto, não tenho tempo para descansar agora, pois a criatura atrás de nós não vai me esperar ter essa dádiva.

Max rola para o lado quando a criatura tenta cravar suas enormes garras nele, não sei como, mas parece que ele sabe exatamente como a criatura vai agir, como se estivesse em sintonia com ela. Não deixo de sentir um pouco de inveja, esse cara além de ser lindo, tem que saber lutar bem ? Isso é injusto.

Aproveito que Max vira o novo alvo da criatura e começo a me afastar, deslizo pela duna, tentando não fazer muito barulho, quando meus pés chegam no final me jogo na areia e me camuflo por entre as sombras. Um rugido soa perto, parece que ela descobriu que consegui escapar e não está nem um pouco satisfeita por isso. Seu enorme corpo passa por cima de mim, ela corre para longe à minha procura, quando seu formato desaparece, consigo enfim relaxar e me permitir descansar por um momento. A areia desliza ao meu lado e não demora muito para Max se juntar à mim.

Alguns fios de seu cabelo caem sobre seu olho e ele tenta inutilmente retira-los. Seus olhos se voltam para mim, posso ver a irritação neles e por um pequeno momento sinto falta das emoções incertas que emanavam do Forasteiro. Balanço a cabeça para afastar sua imagem e me concentro ao meu redor.

— Bela fuga. — Consigo perceber a ironia em suas palavras. — Admito que achei por um segundo que você não me deixaria para trás.

Dou de ombros.

— O deserto é para os sobreviventes, não para os corajosos.

— Então você realmente me deixaria morrer nas garras daquela criatura? — Ele ergue as sobrancelhas e franze a testa esperando minha resposta, não deixo de suspirar antes de responder:

— Com certeza.  — Ele vira o rosto, mas percebo que eu o decepcionei, pois além dele ter me "salvado", ele se voluntariou para vir comigo. — Olha não é nada contra você, é só que, não estou acostumada a ter alguém comigo, entende? Sempre foi somente eu e o deserto, nada mais que isso.

Vejo seu olhos perderem o foco e ele se perder em seus pensamentos, mas quando eu me levanto ele parece voltar para a realidade, seus olhos se focam em mim e parecem vazios.

— Não sei como é isso. Estar sozinho. — Seus ombros se encolhem e ele desvia o olhar. — Sempre estive rodeado por pessoas, tanto amigos, quanto inimigos. Então não posso dizer que a entendo.

Olho para ele e o analiso, seus ombros largos estão tensos, seu rosto está sujo de sangue tanto dele, quanto da criatura. Seu cabelo está bagunçado e o vento os balança levemente, ele poderia ser facilmente confundido com um ator famoso, se o antigo mundo não tivesse sido destruído.

Desvio o olhar sem saber o que falar e me concentro em achar o Forasteiro, sei que se ele estivesse em perigo eu sentiria, mas e se nossa ligação falhar? E se quando eu chegar até ele, ele já estiver entre a vida e a morte? E se ... Ok, pare com isso, Sam. Não irá acontecer nada com ele. Fecho os olhos e me concentro no que tem dentro de mim, me concentro na nossa ligação, ela está lá, consigo senti-la. É como se fosse uma corrente que me liga à ele, e eu só preciso deixa-la me guiar.

No primeiro momento nada acontece, mas depois os sentimentos dele quase me fazem ir para trás. A confusão é o sentimento que está mais intenso, mas posso sentir outros, como: a dor, a exaustão e o medo.

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