Interlúdio 02

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"Gabe!" Nós corremos um ao outro no jardim da frente e nos abraçamos apertado. "Que saudades!"

Gabe apertou as mãos nas minhas costas, tentando contar coisas enquanto dava risada. Ele mudou pouco naquele último ano. Continuava um poço de energia, embora a proximidade do abraço revelasse dois fios brancos na linha do cabelo.

"O que é este atrevimento?" Dylan meteu os braços entre nós e nos afastou. Antes que eu o cumprimentasse ele já apontava um dedo na minha cara. "Como se atreve a abraçar o meu..."

Eu abracei o Dylan, tão apertado que ele paralisou no lugar. Acho que quebrei o cérebro dele, porque ele gaguejou alguma coisa e abraçou meus ombros, completamente perplexo.

"Também senti sua falta, peixe-boi." Falei, dando tapinhas em suas costas despidas antes de me afastar. Dylan não envelhecia nunca. Ele parecia mais maduro, claro, mas poucos caras ficariam bem de sunguinha após os trinta, e Dylan raramente vestia outra coisa.

Dylan se afastou de mim, me estudando com total confusão no olhar.

"Fique onde eu possa te ver, maculador." Ele laçou seus dedos nos do Gabe, possessivo. "Nenhuma gracinha e nenhum truque com o meu predestinado, ou eu vou..."

Passinhos rápidos se aproximaram de mim, me salvando de outro discurso demente do Dylan. Eu me surpreendi quando vi as meninas correndo até mim. Penélope e Rebecca eram bebezinhos de colo da última vez que as vi. Apesar de todas as fotos que o Gabe mandou, vê-las pessoalmente era incrível. As duas pareciam princesinhas com seus vestidos de praia e tranças elaboradas.

Eu me agachei para abraçá-las, mas assim que me viram as duas se abraçaram nas pernas do Dylan, indignadas.

"Maculador." Dise uma delas.

Dylan estourou dando risada e afagou o a cabeça da pequena. Gabe também torcia-se para não rir.

"Ha, ha. Muito engraçado, peixe-boi. Ensinou isso para a outra também?"

"Só ensino o que é importante." Ele pegou suas filhas em cada braço, com um sorriso vitorioso.

Eu avistei o fusca do Alisson no lado oposto do jardim, o que causou revolta no meu estômago. Uma revolta que decidi afogar com uma taça de vinho, elegantemente oferecida a mim por um dos mordomos.

Ah, era bom viajar sem perder as mordomias que eu estava acostumado. Para um cara tão simples, Gabe se adaptou bem à vida dos grandes luxos. Eu me perguntava que parte daquele exagero vinha dele, e que parte era loucura do Dylan.

Não havia do que reclamar. Para alguém que só comia peixes, Dylan tinha um gosto fantástico para vinhos. Aquele chardonnay francês era simplesmente delicioso.

Eu acompanhei Dylan até a praia particular, e logo notei que fui o único a seguí-lo. Quando virei para trás e avistei Alisson o meu coração travou um batimento, mas ele parecia ocupado, discutindo algo sério com o Gabe. Nem sinal dos dois meninos.

Dylan desceu as meninas na areia e começou a esvaziar as diversas sacolas plásticas, que ocupavam boa parte da mesa do churrasco. Ele distribuiu as salsichas e carne moída sobre algumas travessas e virou carvão embaixo do grill.

Dificilmente eu sentia inveja, mas aquela praia particular era meu ponto fraco. Parecia um pequeno paraíso de areia branca e ondas azuis, cercada por rochedos. Geralmente havia menos mobília na parte externa da casa, mas para os grandes churrascos eles montavam uma longa mesa, churrasqueira americana, redes, pufes gigantes, e tantas outras regalias. Um luxo.

"Você aprendeu a comer carne?" Eu puxei uma das cadeiras plásticas e sentei ao lado do Dylan, assistindo-o jogar álcool no carvão.

"Meu predestinado enjoa de peixe, às vezes." Respondeu Dylan, estranhamente pouco agressivo. "Vou acompanhar com camarões."

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora