Sete

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- Volta aqui sua vagabunda! - Ele grita enquanto corre atrás da minha mãe

- Não, mamãe, deixa minha mamãe - Peço chorando

- Ou você para de correr ou quem vai pagar é sua pestinha aqui - Ele me agarra pelo braço e o aperta forte

- Não! Minha filha não! - Ela se aproxima dele, ele solta meu braço e agarra seu cabelo

- Mamãe!

- Filha fica aqui, se esconde embaixo da mesa, tampa os olhos e os ouvidos, não entre no quarto, por favor - Diz ela enquanto ele a puxa pelos cabelos para dentro do quarto

Corro para debaixo da mesa. Fecho meus olhos e tampo meus ouvidos, mas ainda sim consigo ouvir seus gritos

Acordo ofegante. Me sento na cama e espero meu coração se acalmar

Quando isso finalmente acontece eu volto a me deitar, suspiro fundo e fecho os olhos.

No silêncio do meu quarto, consigo a ouvir em alto e bom tom, gritando por socorro, gritando pedido para ele parar, pedindo para não me machucar e para não machuca-la

- Isabella? - O Lucas bate na porta me dando um susto - Isa, está acordada?

Contínuo calada olhando para o teto

- Estou esperando lá embaixo

Se eu não sair do quarto, ninguém vai consegui me obrigar a ir para a escola. O Lucas nunca entra no meu quarto e também eu o mantenho sempre trancado

Contínuo deitada olhando fixamente para o teto

- Isabella, vamos nos atrasar! - O Lucas volta a bater na porta - Isa? Isabella?

Ele bate mais desesperadamente

- Não vou a escola - Digo para ele parar de bater na porta

- Por quê?

- Porque eu não quero!

Escuto ele se afastar da porta e descer as escadas

Fecho os olhos e lágrimas molham meu rosto

- Isabella? - Meu pai bate a porta

- VAI EMBORA! - Grito com as lágrimas descendo abundantemente

- Isabella, vamos conversar

- VAI EMBORA! VÁ EMBORA E ME DEIXE COMO VOCÊ FEZ ANTES, COMIGO, COM A MINHA MÃE! VÁ EMBORA E ME DEIXE SOZINHA!

De todas as pessoas que eu não quero vê hoje, meu pai é o primeiro da lista

O que eu sinto pelo meu pai, não pode ser classificado como ódio, eu não o odeio, mas também não o amo. Eu sei que se ele não tivesse abandonado minha mãe, nossas vidas teriam sido diferentes, eu seria diferente, eu teria minha mãe ao meu lado

Porque tudo o que eu mais queria, era tê-la ao meu lado novamente. A mulher que me deu a luz e me amou até seu último suspiro

{...}

Estou outra vez no topo do meu prédio, pensando outra vez em me jogar, pensando em como seria mais fácil eu apenas pular. Tudo acabaria rápido, eu não sofreria mais e estaria ao lado da minha mãe

Fecho os olhos e então o rosto do Lucas parece na minha mente. Lucas, a única pessoa por quem eu ainda vivo, a única pessoa que me impede de me suicidar, mesmo não sabendo o que eu passo, mesmo não sabendo os meus desejos mais obscuros

Meu irmão. Não posso deixa-lo sozinho, não posso abandona-lo.

Contínuo com os olhos fechados sentindo a brisa sobre o meu rosto. Suspiro fundo e sinto a grande angústia que está instalada em meu peito

Se joga Isabella

Olho para trás e não vejo ninguém, tenho certeza que ouvi alguém

Sua mãe está te esperando lá embaixo, você não quer vê-la?

Saio do parapeito que estou sentada e começo a procurar a origem dessa voz que estou ouvindo

Ninguém vai sentir sua falta mesmo, a única pessoa que te amou de verdade está morta

- Quem está aí? - Pergunto olhando ao meu redor. Será que enlouqueci de vez?

Sua dor vai passar Isabella, basta você se jogar. Prometo que você não irá se machucar

- PARA! - Coloco as mãos na cabeça e então percebo que essas vozes estão vindo dela. Enlouqueci de vez, estou ouvindo vozes!

Somos suas amigas Isabella, só queremos o seu bem, queremos que você pare de sofrer

Tento ignorar essas vozes, mas elas continuam falando cada vez mais e mais alto

Você é tão inútil Isabella! O mundo não sentirá sua falta, você não é importante para ninguém. Apenas se jogue e acabe com tudo isso

Volto para o parapeito e fico olhando para baixo, para as dezenas pessoas que passam

Você não sofrerá tanto como está sofrendo agora. Será rápido Isabella, acredite em nós

Fico em pé no parapeito

Isso Isabella! Se jogue! Pule! Acabe com isso!

Olho para baixo, respiro fundo, fecho os olhos e então

De Quem é a Culpa?Onde histórias criam vida. Descubra agora