"A astúcia da mulher..."

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— Existem três pessoas desaparecidas, incluindo seu filho.

— Ela! 

— Ela? Me confirma que seu filho adulterou documentos e se passava por mulher?

— Delegado Motta, eu registrei queixa de um desaparecimento e isso tem mais de quarenta dias. Estou aflita e não durmo de tanta preocupação. Minha filha e seu marido simplesmente desapareceram. Se for seu papel julgar, faça-o quando os encontrar.

Delegado Motta ergueu minimamente a sobrancelha parecendo surpreso com o tom dela. 

— Seu filho Bento, o travesti, usou de má fé. Documentação falsa é crime e a senhora é conivente. Sempre foi.  —   Motta caminhou para perto da janela. —  Conseguiram enganar o médico, porém a família dele agora sabe e aguarda ansiosa o momento em que a encontrarmos, para tomarem as medidas legais. 

— Enganar uma pessoa por três anos? Rafael sabia... Quer dizer, a Betânia já veio para essa cidade com essa identidade, só não tinha documentos e nunca houve necessidade de apresentá-los em lugar algum. 

— E quanto ao alistamento? Se seu filho foi capaz de falsificar a documentação, pode estar em outro lugar desse mundo, simplesmente vivendo? 

— Como assim, doutor? O que acontece se minha filha e Rafael estiverem vivos e simplesmente vivendo? Isso é crime?

— Aquele que falsifica sua própria identidade é um criminoso.

— Foi Rafael quem teve a ideia de "comprar" uma certidão. Ele queria casar com ela. Outra opção era ir embora, caso não conseguissem os papéis. Mas ele propôs... Ele o fez!

Lola não protegeria Rafael para ouvir ameaças contra sua filha. Ela era inocente. Talvez culpada por ser especial, especial de uma forma que as pessoas não entendiam.

— Rafael que providenciou?  — Ele parecia interessado.

— Foi!

—  Joguinho de acusação! Gosto disso! —  Motta sentou-se e sorriu, um largo sorriso e atraente. —  O doutorzinho fez tudo às escondidas, então? É isso? Acho que a família dele não sabia disso "antes". 

— Eu acho que já sabiam...

— Hum... Uma família acusando outra e, sabe quem ganha no final?

Ele quase sussurra ao perguntar.

  —  Quem?

  — Aquele que pode pagar um bom advogado. Senhora Lola, na terra estamos entregues a justiça dos homens. Só que homens são injustos. O filho de família rica é o desaparecido e o filho do pobre é o foragido. —  Motta sorrindo quase a "hipnotizou" —  Eu se fosse você mulher, rezava para que ela estivesse morta. 

A mãe de Betânia tampou a boca com uma das mãos em total espanto.

— O senhor tem sua mãe viva? Filhos? 

O delegado cobriu a mão da bela viúva com sua. Massageou lentamente e entrou nos olhos dela. 

— Posso lhe dar uma prioridade se fizer algo por mim, senhora. 

Levantando-se, ele caminhou até a porta e a trancou. Voltou-se até onde Lola estava.

— Lola, podemos fazer um trato. Garanto a liberdade de seu ou sua filha, quem sabe alguma segurança, se o encontrarmos. Preciso que me responda com sinceridade... me daria sua alma?

Ela ouvia com atenção o belo homem, dono dos mais lindos olhos acinzentados que já vira. Absorvia o perfume amadeirado, observando o caminhar felino, os modos finos, as perfeições nos traços faciais, o corpo forte e definido, virilidade a exalar que entonteceria qualquer mulher. Lola ainda tinha controle de seus sentidos. Ele podia ter o mesmo nome de um anjo, mas não era um. Seu primeiro nome era Lúcifer e o macho tão sedutor como o próprio inferno. 

O Papai UrsoOnde histórias criam vida. Descubra agora