Capítulo 7

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Ana foi tomar banho para sairmos e enquanto isso, eu procurava uma roupa pra ela, porque eu já a conhecia bem e sabia que ela iria fazer um drama enorme pra escolher uma roupa. Acabei escolhendo uma blusinha branca e a blusa de lã cinza, já que fazia um pouco de frio em sampa.

Assim que Ana terminou de se aarrumar a gente saiu. Estávamos no mesmo contraste de sempre, eu de preto e ela de branco. Demos muita sorte pois o restaurante em que fomos  tinha pouquíssimas pessoas e pudemos comer sem nenhuma interrupção, apenas o garçom que pediu um autógrafo e uma foto quase que sussurrando pois o chefe poderia brigar com ele.
Ana estava mais descontraída do que de manhã, mas em alguns momentos, a via viajando em seu próprio mundo, olhando pro nada e dentro dos olhos de jabuticaba caídos, eu via certa tristeza e arrependimento, só não compreendia o porque. De duas, uma, ou eu fiz algo muito ruim ontem e Ana não quer me contar, ou ela fez algo muito errado ontem e também não quer contar. Independente do que fosse, estava mexendo com Ana, e ver minha bichinha estranha daquele jeito, me deixava muito mal.

"Ei, acorda menina..." eu tirei Ana de mais um dos devaneios dela, estalando os dedos em frente ao seu rosto "...Ana, não quer mesmo me contar o que aconteceu? Sério, você muito estranha" eu tentei, talvez pela milésima vez, fazer com que ela me contasse, mas tudo que ouvi dela foi um "deixa de besteira, Vitória".  Tentei deixar pra lá, porque se eu perguntasse novamente, acabaríamos discutindo, e isso era tudo o que eu não queria.

Faltava ainda uma hora pro ensaio quando terminamos de almoçar, decidimos ir pro estúdio mesmo assim. A gente podia ficar lá até os meninos chegarem e o ensaio começar de fato. Eu paguei a conta do restaurante, porque aparentemente Ana não estava brincando quando disse que eu teria de pagar, e saímos em direção ao Uber que já nos esperava do lado de fora do estabelecimento.

Ao chegarmos no estúdio, Ana foi logo pegar o violão pra começarmos a ensaiar logo a música nova que ela tinha feito. Eu tinha me apaixonada por aquela canção, que tinha tanto da nossa amizade, mesmo que meus sentimentos tenham ultrapassado essa linha tênue. Nem eu, nem Ana decoramos a música, por isso tivemos que começar e recomeçar várias vezes, Ana gostava das coisas perfeitinhas, e isso era uma das coisas que eu mais admirava nela.

Música vai, música vem, os meninos chegaram e começamos a ensaiar. "Ai amor, será que tu divide a dor, do teu peito cansado..."  nossas vozes se uniram no refrão da música ainda sem nome. Eu estremeci todinha, assim como sempre acontecia quando eu cantava com Ana, mesmo antes de me apaixonar por ela. Ou talvez, eu já estava apaixonada por ela desde o primeiro momento em que a vi e fui perceber só agora.

Enfim, o ensaio acabou e estávamos esgotadas. O dia de ensaio hoje foi mais comprido, já que ensaiamos todas as músicas do nosso futuro segundo disco. Eu já estava ansiosa e Ninha então, já queria mostrar as músicas tudo pro povo. Os meninos foram embora, eu e Ninha ainda ficamos um pouco no estúdio, organizando tudo e depois paramos para conversar. "Ana, sei que você não quer falar mas eu quero que você saiba que se quiser desabafar, eu aqui" eu iniciei o assunto da manhã novamente, pisando em ovos, ela olhou fundo nos meus olhos, se aproximou de mim, tão lentamente que eu senti que morreria ali mesmo e seus lábios se abriram deixando escapar um suspiro. Eu não entendia o que tudo aquilo significava, mas senti uma vontade de cuidar daquela passarinha. A puxei pelo braço e a abracei, sentindo sua respiração em minha clavícula. A abracei forte, tentando tirar todas as inseguranças que ela sentia. Quando nos separamos, o rosto de Ana estava próximo demais. Eu conseguia sentir tua respiração se misturando com a minha.Tive vontade de beija-la. Cheguei até a fechar os olhos, mas os abri logo em seguida, dando um suspiro pesado e beijando a testa da menor a minha frente. "Vamo pra casa... tu deve ta cansada" eu falei por fim, pegando minha bolsa e parando na porta, esperando Ninha me acompanhar.

A jabuticabeiraOnde histórias criam vida. Descubra agora