83| pov

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- April -

Eu não estou bem, eu não aguento isto.

Corro a fechar-me na casa de banho e tranco-me antes que a minha mãe venha aqui e tente entrar. Eu não quero ninguém agora, preciso de espaço. Mas mesmo aqui sozinha, sinto-me sufocada e essa é das piores sensações que já senti.

Deixo o meu corpo deslizar pela porta até ficar sentada no chão frio, o meu cabelo está uma confusão e cola-se à minha cara por causa das lágrimas que não têm meio de acabar.

Sinto-me partida e fraca ao mesmo tempo e odeio-me sentir assim. É como se estivesse a ser usada, usada por ele. E tudo para quê? Para ele acabar feliz com a ex e eu aqui a chorar baba e ranho por ele.

Céus, eu sou tão idiota.

Como é que me fui deixar enganar por aqueles olhos cor de mel que brilhavam cada vez que ele olhava para mim. Ele esteve aqui para mim quando eu precisei mas tudo não passou de uma grande mentira, um jogo de interesses, eu sei lá.

Merda, como é que fui chegar a este ponto? Tem acontecido tudo tão rápido, eu não consigo sequer pensar. Ainda ontem era uma miúda normal com um irmão suicida e um pai que não quis saber. Eu por muito mal que estivesse nesse momento, não estava como agora. Porque 'ontem' ninguém me tinha partido o coração.

Respiro fundo, afastando os fios de cabelo colados à minha pele e vou observando todas as coisas, até parar na gaveta. A minha respiração está acelarada e eu posso ouvir-la bem.

Aquela gaveta... Eu lembro-me.

Devagar movo-me para abrir-la e logo encontro a lâmina debaixo de algumas caixas de medicamentos usados. Ela está tao brilhante ali pousada pronta a que alguém a use.

Não consigo conter-me ao pegar nela e voltar-me a sentar ainda mais lentamente. Ela já foi a minha melhor amiga em tempos anteriores, mais especificamente na altura em que o meu irmão morreu. Ela tornou-se viciante para mim, eu descarregava nela o que não conseguia partilhar e era bom. Realmente era.

A imagem do Matt e da Claire entra na minha cabeça como flashes e eu ainda sou capaz de ouvir o riso dele para ela, as suas mãos juntas, ela a corar. Merda, não há defeitos que não os permita estarem juntos. Quer dizer na verdade há, eu. Sim, eu sou o defeito na vida de toda a gente só tenho de aprender a lidar com isso.

A ponta da lâmina crava na minha pele e vai deslizando formando uma linha fina que rapidamente se enche de sangue fresco. A dor é alguma, mas a satisfação é ainda mais.

E depois há o meu irmão. Sempre achei que éramos como melhores amigos, contava-mos tudo um ao outro mas não. Ele não me dizia nada, em vez disso guardava tudo para si e sofria quando ninguém estava lá para o ajudar. Eu não estava lá...

Outra linha é feita na meu pulso e eu fecho os olhos enconstando a cabeça à madeira da porta, a minha respiração acalmou.

Aqueles estúpidos miúdos de merda que gozavam com ele... Eles faziam-lhe coisas, porém ele não era capaz de me contar. Ele queria manter a imagem de irmão perfeito. Ele não disse nada a ninguém. Mas aqueles estúpidos miúdos apenas tinham ciúmes da pessoa que ele era, eles queriam ser como ele e como não conseguiam... Aproveitavam-se.

Foda-se, Brandon, porquê que não desabafas-te? Eu podia ter ajudado.

Outro corte.

Tu podias estar agora aqui comigo, vivo. Porquê que não falavas? Eu perguntava-te sempre o que se passava mas tu eras forte e não cedias. Sabes? Eu queria ter a tua coragem. Mas não tenho.

Mais um corte.

Eu sempre fui a idiota que se deixava levar. Talvez se tivesse aprendido alguma coisa contigo, não tinha vindo parar às mãos do Matt. Não desta maneira.

"April?" A voz doce da minha mãe para-me de enterrar a lâmina outra vez na minha pele. "April? April, responde."

"Vai-te embora." Eu digo, com a voz fraca.

"Eu sei o que estás a tentar fazer." Ela continua ignorando o meu pedido. "O Nash e as tuas amigas contaram-me. Eles estão na sala, preocupados contigo. Eles importam-se, April, são teus amigos." Ela diz aflita.

Meus amigos?!

Eu afasto a lâmina de mim, franzindo a testa ao olhar para o sangue que pingava do meu pulso. Quatro cortes...

"O Matt... Ele é um estúpido. Ele não te merece, tu vais encontrar alguém melhor. Eu prometo-te." Ela dá leves batidas na porta.

"Não..." Eu digo, rouca. "É tarde demais, mãe..."

Ouço-a respirar fundo. "Não, não é. April, tu lembraste do que se passou à cinco anos atrás? Eu perdi um dos meus filhos, infelizmente ele era depressivo e eu nem sabia."

"Não fales do Brandon assim." Eu interrompo-a. Não gosto que comparem o meu irmão aquilo, apenas não gosto.

"É verdade, e tu sabes. Eu não o consegui ajudar e não imaginas a dor que é perder alguém que carregamos por nove meses, que ajudamos a crescer, a andar e a falar. Eu amava o Brandon e perdi-o... Mas eu tenho dois filhos, e sobraste-me tu. E, April, eu não te vou perder pela mesma razão. E-eu não vou."

Eu choro ao ouvir-la. Todo este tempo apenas pensei em mim e na minha dor, nunca na dela. E secalhar devia ter-lo feito, afinal ela é minha mãe. E tal como eu perdi o meu irmão, ela perdeu um filho.

"Há sangue por todo o lado, mãe..." Eu observo o líquido que tinha saido de mim todo espalhado pelo chão.

"Não te preocupes, havemos de tratar disso." Imagino-a sorrir. "Porque é isso que sempre fazemos, tratamos das coisas que mais amamos. E eu amo-te, April, por isso abre esta porta por favor."

Eu fecho os olhos por momentos suspirando de forma a acalmar-me. Porquê que as mães sabem sempre o que dizer?

Levanto-me do chão e logo sinto a ardência horrível vinda da ferida aberta. Mesmo assim ignoro a dor e giro a chave, destrancado a porta.

"Meu deus..." A minha mãe murmura quando me abraça fortemente, massajando os meus cabelos ao de leve. "Por amor de Deus, April, não me voltes a assustar desta maneira."

"Eu não vou..." Prometo, quero dizer mas a palavra fica entalada na minha garganta.

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eu chorei, juro :((

xx Buhh

Social life | Matt EspinosaOnde histórias criam vida. Descubra agora