CAPÍTULO VINTE E UM — SENTENÇA
— Não sei, não, Carolina. — Juliana disse receosa enquanto franzia as sobrancelhas. — Já estou começando a me arrepender de ter descumprido a ordem da dona Cláudia.
Eu suspirei e remexi-me na poltrona. Meus lábios tremularam enquanto pensava em dizer algo para convencê-la, porém Helena interveio, segurando uma de minhas mãos com firmeza, lançando um olhar sereno para a mulher que parecia atordoada com todo aquele rebuliço.
— Juliana, permita-me intervir. — falou ajeitando uma mecha de cabelo atrás de uma das orelhas. — Sou amiga da família há anos e trabalho com o senhor Alberto já faz algum tempo. — a moça observava atentamente, com os olhos esbugalhados. — Quando chegamos ao hospital, Cláudia nos contou que Alberto aparentemente havia tentando suicídio, mas pelo pouco que o conheço, presumo que ele não cometeria tal barbaridade. — ela concordou com um aceno. — Aconteceu algo errado e você sabe disso.
O silêncio que pairou sobre a atmosfera da sala foi aterrador. Juliana pareceu absorta em seus pensamentos por alguns segundos. Seus olhos que antes estavam esbugalhados, agora se mostravam levemente marejados e a indecisão estampava nitidamente sua face.
— O que tem que ser feito? — ela questionou em um sussurro tímido.
Helena sorriu e uma pequena euforia me dominou naquele momento.
— Primeiro, teremos que ir à polícia, Carolina. — Helena disse me fitando com atenção. — Contar o que sabemos e depois, possivelmente eles chamarão a Juliana e a Cláudia para prestar depoimento e abrir as investigações.
Libertei um suspiro carregado de desânimo enquanto Juliana concordava com um aceno tímido.
— Você tem certeza que não ouviu sobre o que eles falavam no escritório, Juliana? — indaguei enquanto colocávamos as xícaras vazias sobre a bandeja.
Ela pressionou os lábios e pude perceber o quanto ela estava tensa.
— Não tenho certeza, mas — ela pareceu receosa novamente. — acho que falavam sobre a empresa.
Helena meneou a cabeça da maneira negativa e libertou um suspiro melancólico.
— Se a sua mãe tiver feito isso por minha culpa e algo acontecer ao seu pai, eu jamais me perdoarei.
Segurei suas mãos com carinho e me aproximei de Juliana.
— Você não ficará sem o seu emprego, ok?! — falei tentando tranquilizá-la. Uma fina lágrima escorria na lateral dos seus olhos. — Você fez a coisa certa.
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Quando saímos da casa de meu pai, ao adentrarmos o elevador, entrei um choro compulsivo. Era difícil acreditar que minha mãe pudesse ter alcançado o nível tão elevado de maldade. Era quase que inacreditável que ela havia sido corajosa o suficiente para deixar que o seu preconceito doentio assumisse poder sobre qualquer outro sentimento afável que algum dia existiu nela.
— Carol, vai ficar tudo bem. — Helena me envolveu em um abraço apertado enquanto atravessávamos o saguão do prédio.
— Eu... Eu não reconheço mais a minha mãe, Helena. — desabafei em um sussurro dolorido enquanto ela acariciava meus cabelos. — Não consigo entender como ela conseguiu ser tão obsessiva.
Ela permaneceu em silêncio por alguns segundos enquanto imagens dos momentos que vivenciei com mamãe percorreram minha mente. Desde os momentos felizes da infância, passando pelas desavenças da adolescência até os dias atuais. Parecia que a face de minha mãe abrigava agora o semblante de um ser monstruoso e impiedoso.
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Amizade Perigosa (COMPLETO)
Roman d'amourCarolina Guerra é uma jovem que apesar da relação conturbada com sua mãe, dona de um temperamento implacável, optou por continuar residindo com ela, após o divórcio de seus pais. Na intenção de que a jovem assumisse mais adiante os compromissos da e...