PX: Ikari

Honra & Maldição

Existe uma criatura divina cuja existência simboliza as maiores qualidades de um guerreiro. Ela não possui nome, forma ou espécie própria. Oque a define é o ser que ela escolhe para habitar, e este herda os olhos de um verde claro em tom impossível, a cor vermelha como sangue, além de todas as capacidades da criatura, oque indica que tal ser é extremamente digno. 

E o escolhido foi justamente uma criança humana, nascida no renomado clã de exorcistas-guerreiros Ryuhei, cujos ancestrais lutaram bravamente na Grande Guerra do Caos. Mas isso não significou sorte ou honra, muito pelo contrário, ao verem aquela criança com fios de cabelo vermelhos como sangue e olhos de um verde irreal, fez toda a faísca de ódio criado contra os demônios se transformar em uma chama violenta. Eles consideraram que tal criança era um demônio, nascido para manchar o nome da família. Seus pais, os únicos que perceberam tamanha benção que aquela criança carregava, decidiram que protegeriam aquela criança com suas vidas, e realmente pagaram o preço que prometeram.

Ginji Ryuhei, o futuro sucessor do clã, se sacrificou lutando sozinho, apenas com sua espada em mãos, contra sua própria família, para que sua esposa e filho pudessem ganhar tempo para fugirem de todos aqueles homens furiosos com o nascimento do que eles julgavam ser uma criatura terrível. Mas infelizmente não tardou para que Ginji fosse subjugado pela força coletiva e fúria de tantos, que o mataram sem o menor receio e rapidamente foram atrás da criança.

A mãe, que não era guerreira ou forte como o marido, viu que sua única opção era se esconder e esperar para que pudesse prosseguir em segurança. Mas foi inútil graças ao instinto de qualquer bebê quando algo está errado: chorar.

Não tardou para que os dois fossem encontrados, e muito menos para que a mãe fosse rapidamente morta por traição e heresia, sendo que seu único crime foi proteger seu filho. Mas o pior não foi para o pai e muito menos para a mãe, que teve uma morte rápida e quase indolor. O pior foi para a própria criança, um bebê recém-nascido, que iria pagar por ter nascido. Ele iria sofrer por existir, por ser quem é, sem qualquer chance de se defender.

Como eram um clã de exorcistas-guerreiros, os Ryuhei iriam fazer oque sempre foram ensinados a fazer para combater um demônio ou criatura sombria: empunhar a espada e encantá-la com um mantra de purificação. O escolhido para tal tarefa foi Kinji Ryuhei, o irmão mais velho de Ginji e tio da criança, mas ele nunca veria ela desta maneira. Para ele, assim como para os outros, aquela criança era um demônio e deveria ser erradicada. Por isso, Kinji agiu friamente a fim de executar o cruel ato de cortar a criança com sua espada, diversas vezes. Para depois a deixar onde estava para morrer depois de ser purificada.

Mas a criança não morreu, ela não era uma criança qualquer, muito menos um demônio. Ela era a reencarnação da criatura divina, esta que não podia ser morta de forma covarde ou cruel, apenas em uma batalha justa. Por isso todos os cortes sofridos se fecharam e se tornaram finas cicatrizes, que davam a parecerem fios de prata sob a pele da criança, eram tão belas que mal podia se acreditar na forma cruel na qual foram ganhas.

E apesar de tudo que havia perdido, tudo oque sofreu, aquele pequeno bebê não chorou, não sentiu medo, não sentiu frio, não sentiu solidão. Apenas dormiu tranquilamente, como se não houvesse nada a temer. Sob a proteção de um felino vermelho como sangue, com olhos que zelavam com um brilho esverdeado e sereno, aquele bebê apenas sentia-se bem.