1 - Tudo por amor

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Tonto o que não entenda, conta assim uma lenda:

Outrora houve uma cigana que era apaixonada por um calé. Mas, na época era expressamente proibido o casamento entre tribos e, por isso, o casal não poderia estar junto.

Lançando suas cartas e meditando de coração partido, Ametista rogava aos espíritos que lhe dessem uma forma de estar com seu amado. E num momento de lágrimas ininterruptas sentiu uma revelação abater-se sobre si.

— O monte... — sussurrou uma voz enchendo o cômodo de vento. --- Vai ao monte...

--- O quê? --- perguntou a moça apreensiva. --- O que farei no monte?

--- Ora... ergue uma prece à Ela Da Noite... --- a voz prosseguiu o seu discurso. --- No zênite ela ouvirá teu pedido...

--- Obrigada. --- disse a moça com lágrimas nos olhos, um sorriso nos lábios e esperança no coração. --- Muito obrigada, espírito.

E a brisa acalmou-se... deixando Ametista a sós com a angústia se dissipando cada vez mais no seu coração...

*****

Ametista andava sorrateira e apressada pelo acampamento, levando ao braço um cesto com objectos e ingredientes para o ritual que realizaria quando, atenta em busca de azáleas nos canteiros dos vizinhos, esbarra bruscamente em alguém.

— Peço desculpas, eu estava... — começa a dizer a moça.

— Calma aí, Ametista. — a loira disse sorrindo. — Onde vais com tanta pressa?

--- Ahn, oi Hera. --- disse a morena aceitando o braço da amiga pra se erguer. --- A sítio nenhum. Estou apenas à caça de elementos pra decorar a caravana e por aí... --- ela começou a dizer, evasiva.

--- O quê? --- Hera disse olhando pra o cesto da amiga. --- Deixa-me ver... endro, velas, selenite, sálvia... hm, isso não são elementos decorativos, vais fazer um ritual à lua?

--- Hm, sim... --- disse a morena com o olhar baixo, envergonhada pela mentira.

--- Porquê?! --- Hera perguntou intrigada. --- A tribo sempre o faz em conjunto.

--- Ahm... --- Ametista viu-se numa encruzilhada. Nada do que dissesse serviria para justificar a sua ausência à celebração costumeira da tribo. Além disso, Hera era sua melhor amiga! Mas, contar-lhe seria colocá-la em risco ao pedir-lhe que guardasse seu segredo...

--- Tist? --- Hera perguntou levando a mão ao ombro da amiga. --- Fala comigo. O que te apoquenta?

Ametista olhou pra Hera com melancolia nos olhos de mel. — Nada. — fingiu um sorriso o melhor que pôde. — Eu apenas busco um bocado de mais privacidade.

--- Está bem. Um pouco de isolamento tem sempre efeitos positivos. — Hera abraçou a amiga com carinho e pesar. Era notável a melancolia que inundava os olhos cor-de-mel.

--- Eu sei. Por isso preciso da tua ajuda. --- Ametista disse, levando a amiga a um canto mais isolado. --- Na fogueira de hoje, pouco antes do ritual, eu vou escapulir-me pela floresta até ao monte e preciso que me acobertes. Podes fazer isso? É que preciso mesmo de estar sozinha.

Filho da LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora