Eram cinco da tarde de uma tarde de sábado, Paulo Afonso fazia um calor comum, aquele que queima sem arder, onde a pele mal chega a arrepiar do fervor ao receber os raios ultravioletas incidentes nela. Na Rua das Hortências, famosa pelas flores que cresciam na primavera, antes do verão estalá-las, havia uma casa com duas grandes árvores em sua frente, com seu grande muro branco, portão amadeirado, com cheiro de verniz antigo, dois andares que recebiam áreas em seus quadrantes suficientemente grandes para que alguém deitasse sem medo do sol ou da chuva.
- João Pedro meu filho, você já terminou de arrumar essa mala? – Disse Dona Regina, uma senhora com voz forte, corpo baixo e um tanto magro.
- Calma mãe, falta tempo pro carro chegar, e eu tô com fome! – Disse João Pedro, ou simplesmente Pedro para os amigos e mais próximos.
- Você teve a semana inteira pra arrumar essas coisas e ainda falta colocar cuecas, meias, acessórios, algumas compras...
- Mãe, eu já coloquei tudo, sério! – Disse ele mexendo um copo grande de leite com achocolatado. – A senhora fica aí falando, resmungando, criticando, mas não entra no meu quarto pra ver como as coisas estão arrumadas.
- Cada um com sua privacidade... – Disse ela caminhando pela cozinha. – E responsabilidades né!
- Tá falando que seu filho é irresponsável Dona Regina? – Disse Pedro rindo enquanto mastigava.
- Irresponsável não, mas a educação ainda precisa melhorar né! – Disse ela com um sorriso de meia boca. – E olhe essas migalhas no chão, aqui não tem passarinhos, então faça o favor de limpar.
- Ok Dona Regina! – Respondeu ele piscando pra ela enquanto a via sorrir chegando perto dele.
- Meu filho, tome cuidado nessa vida, você não terá sua mãe pra sempre pra cuidar de você, e saiba que as pessoas lá fora não tem a paciência que eu tenho com...
- MÃAAAAE!
Ouviu-se um grito forte de um dos quartos. Era Luan, o irmão mais novo de Pedro.
- LUAN, eu já disse pra você não gritar meu filho. – Respondeu ela do pé da escada.
- Pelo visto a senhora ainda tem a quem educar! – Disse Pedro rindo enquanto ainda comia.
- Fique quieto e tome juízo! – Disse ela subindo a escada.
Ao terminar de comer, Pedro parou um instante na porta da cozinha, que era a saída para um quintal grande, onde seus dois cães vira-lata brincavam na grama verde que estava sendo regada. Seu olhar voltou-se para a casa, por onde caminhava enquanto lembrava vagamente dos objetos que havia quebrado, das brigas com o irmão mais novo, das corridas para não apanhar da mãe por não querer tomar banho, e ao chegar no seu quarto, ao se deparar com sua escrivaninha, lembrou-se das aventuras com os amigos que ali conquistara durante anos de sua vida.
Sentando em sua cama, fechou as malas, olhou para o espelho, e pensou por um instante como aquele menino crescera e mudara tanto a ponto de ter que sair de casa para viver uma vida completamente nova. Pedro analisava seus traços que iam de um cabelo castanho claro, que descia pela nuca, até uma pequena barba que ainda dava trabalho para crescer, seus olhos verdes escuros resvalados por óculos de grau e sua centelha de menino que nunca conseguira perder mesmo tornando-se alguém tão responsável e correto como as pessoas elogiavam seu senso de ser.
Ao colocar suas mãos no bolso tirou um pequeno cartão alaranjado, que tinha ranhuras de velhice e um pequeno cordão de ferro, que foi agarrado por suas mãos, fazendo com que seu coração disparasse e a lembrança perfeita vinha em sua mente ao fechar os olhos.
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#ENTRELINHAS
RomancePedro, Felipe, Vítor, Rafael, Luíza, Alice, Taís, Thales, Thiago, Rafael... Nomes comuns de pessoas comuns que se cruzam na faculdade e criam laços, vivem nas linhas, tecem amores, desalinham-se em inveja e ódio, e vêem suas vidas ligadas nas #Entre...