Via de Liua

A ligação.

Meu celular tocou, ao som de Ed Sheeran, e era minha tia, não havia outra escolha, eu atendi.

 -Olá Tia!

- Minha menina, Deus te abençoe.

Ela sempre falava isso mesmo eu não pedindo a tradicional "benção", eu não entendo porque temos de fazer isso, falamos apenas da boca para fora, mas para não ter discussões.

- Bença tia!

- Ah sim , pensei que estava se esquecendo! eu queria te ver mas nossa menina me disse que era melhor não! Você não quer falar com a tia?

Parece que ela estava com medo! eu não ia fazer nada!

- Não é isso, é que tenho andado muito ocupada, a senhora já deve saber que fui ver meu pai, e que agora mina vida mudou um pouco, dependendo do que for podemos falar pela ligação mesmo, não é bacana que você perca dias de serviço para vir aqui a universidade resolver coisas tão simples.

Por um momento tudo ficou mudo, eu pensei em gritar, chamar a atenção dela quando antes mesmo ela me respondeu:

- O que seriam essas coisas simples? Eu apenas tenho saudade.

Ela estava se fazendo de sonsa ou com medo.

- Tia não precisa ter medo , eu sei que por sua causa eu não conheci meu pai antes, não vou te culpar por nada agora, com toda certeza você tem seus motivos, talvez se fosse diferente hoje eu não estaria vivendo uma vida tão boa! Eu não te odeio, não odeio meu pai, nem mesmo a esposa dele! Eu espero que você também não possua esses sentimentos, pois de certa forma é graças a ele que sua filha está realizando sonhos, é graças a ele que hoje não preciso mais trabalhar, pelo menos não em uma cafeteria onde as vezes saia de lá morta para ir pra aula...

Eu pensei em falar mais coisas, mas a voz foi sumindo, e eu senti que minha tia também já estava quieta, ouvi uns barulhos tipo de quem está chorando, mas era longe, Marly não era, ela estava na minha frente, pensei que estávamos com algum fantasma em nossa casa.

- Tia está ouvindo esse choro na ligação? Porque se não tiver o problema é aqui.

Marly me acenou que não estava ouvindo nada, minha tia respondeu:

- Sou eu, perdão! o choro estava longe porque deixei o meu celular no viva voz enquanto você falava, eu preferi deixa-lo aqui em cima da mesa, eu não sei porque mas me veio uma angustia, saudade da sua mãe, de vocês pequenas, e...

Imediatamente completei ela.

- Você me assustou, mas enfim chorou porque conheci meu pai e ele fez algo de bom?

- Filha chorei porque não sie porque travei o contato de vocês por tanto tempo, e mais chorei porque mesmo tendo feito isso você não mudou comigo! Me perdoe.

- Minha tia não precise chorar, oh vou passar para Marly, e não precisa pedir perdão pois como já disse, o que vivi, da forma que vivi só me permitiu ser a pessoa que sou hoje, da qual não me arrependo! eu te amo tia, boa noite!

Passei o celular para Marly, ela conversou mais um pouco com sua mãe enquanto eu arrumava a cama, assim que me deitei e me cobri ela desligou o celular apagou a luz e me agradeceu por sempre conseguir enxergar o que recebi de positivo.