Emily tenta entrar em casa discretamente, sem que ninguém se apercebesse da sua chegada, mas a sua dificuldade em colocar a chave na porta devido aos sacos de compras que carregava, não estava a facilitar nada a sua tarefa. Depois de muitas tentativas, lá consegue abrir a porta, deparando-se com a sua mãe que a olha de cima a baixo, tal como era costume, e depois fica a olhar para os sacos como se só de olhar assim para eles conseguisse perceber o que é que estes continham.
- Estou a ver que foste às compras, o que é que compraste? - Perguntou a mãe, curiosa.
- Nada de mais, umas coisas. - Respondeu Emily.
- Oh, deixa-me lá ver. - Insistiu ela, tirando-lhe os sacos.
Não tinha qualquer tipo de vontade de que a mãe visse o que é que tinha comprado, aliás, ainda tinha menos vontade que ela visse os fatos de banho do que a roupa que tinha comprado para levar para a festa do Nathan. A roupa para a festa era simples, ainda dava para dar a volta ao assunto e não dizer para o que é que ela iria servir exatamente, mas com os fatos de banho não havia volta a dar.
- Fatos de banho? Querida... não me digas que...
Lá vem a reação esperada.
- Tu vais voltar à natação?
- Sim, mãe, vou, mas dispenso grandes festejos. - Respondeu Emily, retirando-lhe novamente os sacos das mãos.
- Oh meu Deus, isto é tão maravilhoso, meu bem! - Disse a mãe, abraçando-a. - Eu não acredito que tu conseguiste sentir que a natação era algo que fazia parte de ti antigamente. Nunca ninguém te disse nada em relação a isso, foste tu quem te lembraste ou sentiste, isso quer dizer que estás a ficar melhor! Eu sabia, eu sabia que isto iria acabar por acontecer rapidamente!
Emily não foi capaz de dizer nada, nem mesmo de a contrariar, sabia que o maior desejo da mãe naquele momento era que ela recuperasse a memória, logo aquele tipo de reação era uma coisa incontrolável para ela e, além disso, ela não se apercebia de que a magoava ao dizer aquilo porque sim, supostamente tinha sido ela mesma a escolher a natação, sem que ninguém a tivesse aconselhado. Não foi mesmo capaz de contar à mãe como tinham sido realmente as coisas.
Instantes depois, entra o pai com o Bradley e, surpreendentemente (ou talvez não), um outro ambiente muito mais tenso instala-se. É verdade que a relação dos pais não andava propriamente uma maravilha, mas as coisas pareciam estar a melhorar, ultimamente.
- Compraste o pão? - Perguntou Ellen a Roger, dirigindo-se ao filho para lhe dar um beijinho.
- Tu apenas me pediste que fosse buscar o Bradley. - Respondeu ele, sentando-se no sofá.
- Pois, realmente, já me esquecia que tu não és capaz de fazer mais nada além daquilo que eu te mando.
- Pelo menos, trabalho e não ando aqui em casa a olhar para as moscas.
Ao ver a forma com que a discussão estava a evoluir, Bradley coloca os fones nos ouvidos e corre para o seu quarto. Emily vai logo atrás dele mas continua atenta ao que se está a passar.
- Eu não estou a trabalhar apenas porque me apetece, sabes melhor do que ninguém o quão eu me tenho esforçado para encontrar qualquer coisa! - Gritou a mãe, já alterada. - E além disso, a nossa filha precisa de mim também em casa, ela precisa de ficar melhor rapidamente, embora tu não pareças muito preocupado com isso.
- Tu não te tens esforçado realmente porque eu já percebi que quando tu queres mesmo muito uma coisa, tu consegues-na, não importam as consequências. E em relação à Emily, entende de uma vez por todas que sufocá-la com informação acerca do seu passado, não a vai ajudar a ficar melhor.
Emily esforça-se para conter o choro. Abraça-se a Bradley logo de seguida. Não podia deixar de sentir que parte da culpa dos pais estarem como estão era dela e daquela maldita amnésia que parecia nunca mais passar.
- É impressão minha ou essa frase tem aí algum tipo de indireta?
- Tu sabes muito bem o que fizeste à tua vida, à nossa vida.
Ellen não respondeu, limitou-se à agarrar nas suas coisas e a preparar-se para sair.
- Vai lá, vê se arranjas alguma companhia! - Gritou Roger, ao ouvir a porta da entrada bater com força.
Naquele momento, o flashback que tinha tido quando estava no Brew voltou a vir à sua mente, mas desta vez, a voz e a cara da pessoa que estava a dialogar com o Adam já não estava distorcida, agora dava perfeitamente para se perceber quem era. Era a sua mãe.
Aquela lembrança obriga-a a abandonar o quarto do Bradley e a dirigir-se para o seu, para se deitar na sua cama. Sentia uma dor de cabeça enorme naquele preciso momento, como se estivesse a haver um choque de ideias dentro do seu cérebro.
Agora lembra-se de toda a história ou se não era toda, era de grande parte. A mãe tinha tido um caso com o Adam, pai do Zack, e foram descobertos um dia no Brew, quando o Adam, acidentalmente, se esqueceu de mudar a placa de entrada para "fechado". Alguém entrou e a partir daí toda a cidade de Rosewood ficou a saber, incluindo, o seu próprio pai. Não, o motivo pela qual foram embora não foi o trabalho do pai, foi mesmo a vergonha que ele sentia ao ser olhado pela vizinhança todas as manhãs, a dificuldade em encarar as pessoas quando tinha consciência de que todos sabiam que tinha sido traído.
Emily sentiu as lágrimas a escorrerem-lhe pela cara abaixo. Sinceramente, preferia ter continuado sem se lembrar disto. Agora que parecia estar a conseguir entender melhor o lado da mãe e a agir de uma forma diferente com ela, já não o ia conseguir continuar a fazer. Parecia que todo o rancor que em tempos tinha desaparecido, tinha agora voltado em força.
Instantes depois, toca o telemóvel. Era a Alison.
- Estou? - Disse Emily, tentando não fazer voz de choro.
- Estás a chorar?
Tentativa falhada. Esconder o choro é quase uma missão impossível.
- Não te preocupes, está tudo bem.
- Não, não está tudo bem, se estivesse tu não estavas a chorar, Em... conta-me o que é que se passa.
- Tanta coisa... a minha cabeça está uma verdadeira confusão neste momento.
- Achas que eu dormir aí ia ajudar alguma coisa? Teríamos a noite inteira para me contares tudo...
- Não te quero chatear com os meus problemas, Ali... já basta teres de lidar com os teus.
- Deixa-te de coisas, tola, agora vou mesmo aí, quer queiras quer não, vais ter de me aturar a noite inteira.
Emily acaba por rir. Era óbvio que queria.
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The Other Side
FanfictionEmily é apenas uma rapariga de 16 anos quando sofre um acidente de carro que a faz entrar em coma. Um ano depois, quando abre os olhos, os médicos percebem que esta não se lembra de nada, o que a obriga a voltar às suas origens e começar tudo da est...