Eu não parava de pensar na sinhá Rosa , em seu corpo nu , se banhando no rio , em seu largo sorriso, em sua pele alva como o leite das vacas , e o que eu pude ver e o que eu num pude ver , já que me virei para num ver nada mais , nem atormentar o meu juízo, mas o que deu para ver num me saia da cabeça e eu vivia com ela pra cima e pra baixo quando a saudade apertava , porque desde o dia do rio , ela sempre vinha de manhã , ver a lida dos pretos e me ver , ora no plantio , ora no jardim, e agora ela estava acompanhada de sua fiel mucama , a negra Jacinta , uma negra muito espevitada que andava muito bem vestida , pois os escravos da casa grande e os de confiança dos patrões , andavam na linha de tão bem vestidos , e o tratamento era outro , nós , da senzala , vivíamos de roupa de algodão , eu , gostava de andar com meu calção , e minha camisa branca , mas era ruim quem ficava pelos cantos da lavoura direto , aí a roupa era bem gasta e feia , eu ,não me queixo , eu estava feliz com a minha vida , porque eu tenho os pensamentos leve , porque agora eu vejo a beleza da sinhazinha e eu me alegro , mas eu sei que eu não posso ter esses pensamentos com ela , mas é mais forte que eu , e quando penso na alvura dela e em sua boca , eu me acabo de tanto sorrir por dentro , embora eu saiba que sou apenas um negro que vive na escravidão , aí eu estremeço e fico triste , e se tivesse coragem eu dizia a ela que ela fez os meus dias ressuscitarem, que eu vivia como um morto e hoje eu estou muito melhor , tenho até mais disposição para o plantio . ah! como é bom ficar pensando nela , em nossas prosas , ela fala tão bem , e eu nem vejo as horas chegar , ela certa vez me disse ,--- negro .!, com você , aqui e o jardim , eu nem penso em viajar , você me dar uma satisfação , uma alegria que quando saio daqui , fico pensando em nossas conversas , eu gosto de lhe ensinar as coisas , de ver seu sorriso e a sua calma com tudo que passa com todos esses mal tratos , não é Jacinta , e Jacinta balança a cabeça rindo, eu continuo fazendo o serviço e rindo por dentro também , ela é uma formosura . a minha formosura !.
E assim , os dias iam ficando menores e maiores com as prosas da sinhazinha , ela me contava tudo que vivia e eu o pouco que vivia ali e o que me contavam , eu era ignorante , mas tinha muita esperteza , e estava feliz .Teve um dia,que ela me disse isso e eu num me aguentei e dei uma rosa do jardim para ela , aí ela ficou parada me olhando e eu olhando para ela , e o silêncio de nosso olhar só foi quebrado por causa da negra Jacinta que estava perto e deu uma gargalhada ,aí eu ofereci a negra também que ficou doida e falou , ----Inácio , você é homem bom, e bonito com essa flor vou deixar o perfume dela em meus peitos olha.. (e pôs a flor dentro do peito, abrindo a roupa ), aí eu ri e a sinhazinha num gostou e mudou de prosa --- vamos Jacinta , está ficando tarde e ainda vou á cidade , vamos comprar tecidos , e se despediu ,com a cara fechada . mas o que fiz eu? fiquei a coçar a cabeça e a pensar , e depois de muito pensar resolvi que não havia de ser nada porque eu dei a flor a ela né?
Não demorou muito e eu já ia caminhar para a roça , quando eu enxerguei ela passar pela porta da fazenda e entrar na cadeira de arruar ,, ela ia com mais dois escravos na frente e dois atrás e a negra Jacinta , e quando passou por mim me olhou com cara de poucos caso , eu me confundi , mas eu não tinha feito nada de errado e ela nem me olhou direito , e aquilo me deu um aperto no peito , eu não queria ela brava comigo ,
Eu não vi mais a sinhazinha ... , Passaram-se dias , sem que ela fosse ao jardim ou desejasse ir ao plantio , e eu fiquei triste , sem saber se tinha feito coisa errada , eu estava sentindo falta de nossas prosas , mas eu sabia que eu era apenas um escravo , e ela deve ter se cansado de brincar com o negro , de prosear mais eu , , e como eu tinha que viver , eu fui para a lida , e tratei de tirar as coisas do meu pensamento , de dia , eu até que conseguia , mas á noite , eu não parava , via sempre ela vindo para mim , ela sorrindo e me beijando.. sim, me beijando , eu estava sonhando com os beiços dela , e eu queria eles bem agarradinhos aos meus , .: Quando me via esses pensamentos , eu chorava , e era a única forma de aliviar o peito ele doía muito , eu queria avistar ela nem que fosse por um segundo , saber se estava boa , mas eu sabia que nada podia fazer , mas eu dormia pensando nela ... ah! eu tava era amando a sinhazinha , e isto era um fardo a mais que tinha que carregar , e esconder , era como se fosse um pecado , e se diziam que nós escravos , não possuíamos alma , que eramos amaldiçoados , então era verdade , eu era amaldiçoado , porque eu num conseguia parar de me alembrar dela , e eu estava sufocado , nem prestava mais a atenção nos planos de fuga do negro Severo, ele cada vez aparecia com mais punhal e facas , e eu num sei onde ele conseguia aquilo tudo . , .
Eu , procurava fechar meus olhos ,á noite , mas custava , por que lá vinha a sinhazinha Rosa a povoar meus pensamentos e , as minhas intimidades , começavam a ficar cheia de energia , pois eu desejava aquela alvura e o rosado de seus beiços, e eu me perdia. de tanto que ela me cutucava .
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O Dedo de Deus (Obra não revisada)
RomanceEsta obra retrata a vida do escravo Inácio que superou todas as suas provações, na dura vida da senzala, seus medos e tormentos a que a escravidão lhe submetia. Em meio a todas essas injustiças, apaixonou-se por uma mulher branca que vinha ser sua s...