A vida de uma prostituta

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        Neste momento eu estou aqui com a minha gilete na mão pensando e repensando se faço ou não o primeiro corte,já estive em uma situação parecida mas ao invés de uma lâmina ,nas mãos , eu tinha um pó ou melhor "O PÓ". Aquele que diziam que me levaria ao céu num instante. Eu o passava de uma mão para outra , decidindo se daria a primeira fungada. Eu dei, e depois dessa, não parei mais.
     "Só mais um pouquinho" era o que eu pensava sempre. Quando engravidei "Meu bebê nem vai sentir nada ,ele é forte, e além de tudo ele me deve isso ,passo poucas e boas por ele" era sempre essa a minha fala. quase toda , 4:20 -da madrugada- que se passava.
Não posso dizer que me arrependi ,pois sei que é graças a ele que estou aqui , sem ele já teria desistido. Virou meu companheiro , só me deixa quando tô sem grana ,mas aí é simples de resolver, vou pro ponto e faço meu trabalho. Foi numa dessas que ganhei meu filho , eu o tive com 13 anos. Por esses dias tive um puta desgosto , depois de meu sétimo cliente fui para o meu último naquele dia ,quando entrei no quarto,  minha alma saiu do meu corpo e voltou no mesmo instante. Aquele adolescente estava lá ,visivelmente nervoso. Quando ele se virou pra mim e começou a fazer um discurso de que ele não tinha experiência e queria que eu lhe desse a tal. Queria que eu tirasse sua virgindade e que pagaria o quanto eu quisesse para cumprir com o que ele pedisse.
        Se fosse qualquer outro ser ali na minha frente me pedindo isso, a minha resposta seria "camisinha com ou sem sabor?",mas nesse caso não! Com ELE não! Eu mal podia acreditar que o MEU filho estava na minha frente me pedindo para fuder com ele até que ele fosse bom o suficiente para poder praticar com outras. Isso não estava acontecendo, não estava no roteiro da minha vida passar por uma coisa dessas, não mesmo. O meu bebê ,meu filho, ele não ,ele NUNCA. Aquele que com muita dor eu entreguei à adoção, aquele que foi adotado por uma família poderosa , o mesmo que eu acompanho a vida até hoje. Meu mundo caiu. Tudo o que eu fiz foi chorar e correr , correr muito até o ponto de ônibus e indo pra casa chorar mais.
       No dia seguinte, minha patroa mandou uns caras aqui no meu barraco, alegando que eu merecia uma "advertência" pelo prejuízo que lhe dei. Resumindo, eles me violaram, espancaram e me xingaram, não foi nada ,não senti nada, o meu desgosto era maior ,bem maior.
      Por esses motivos aqui estou eu, a um décimo de segundo de fazer meu primeiro corte. Encosto a lâmina na minha pele , e faço um corte BEM fundo. De repente, a porta do meu quarto se abre , me surpreendo e desespero, afinal, estou nua, arrebentada e sangrando, quando Theo -meu filho- adentra o cômodo. Sua expressão de primeira era de raiva, ódio, mas, assim que me viu, passou a ser de preocupação. Ele corre até a mim e me abraça. Antes de ser tomada pela escuridão eterna,  consigo ouvir ele dizer:

-Eu te amo, sempre te amei e sempre vou te amar m...mamãe!

*FIM*

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