Alison deita-se na cama enquanto Emily caminha na direção da porta para ter a certeza de que todos já estavam a dormir. Por incrível que pareça, ainda não tinham tido um segundo sequer a sós para que pudessem conversar calmamente acerca do que se tivera passado, estava sempre alguém presente, até parecia de propósito, e o mais certo era ser mesmo, principalmente, da parte da sua mãe. Era óbvio que ela tinha estranhado o facto de Alison ter ido lá dormir, até agora, a única pessoa que o tinha feito foi Ashley e mesmo assim não foi muitas vezes porque a Emily não é muito dessas coisas.
- Desculpa a minha família ter-te estado sempre a chatear... és uma cara nova, eles tiveram curiosidade em conhecer-te. - Disse Emily, fechando a porta ao perceber que estava mesmo tudo calmo.
- Não tens de pedir desculpa, eu gostei de falar com eles. Tens sorte em ter uma família assim, grande e animada. - Respondeu Alison.
- Eles não são sempre assim, em tempos, foram, mas desde que abandonámos Rosewood pela primeira vez, tudo mudou... agora só sorriem ou mostram o seu lado mais descontraído quando estão outras pessoas presentes. O casamento dos meus pais está por um fio e isso atormenta-me a mim e ao Bradley porque temos consciência disso e também porque ambos nos sentimos culpados mas não é aquela culpa típica do género "Ah, fui eu que os fiz ficar assim", é mais a culpa de sermos o motivo deles ainda não terem seguido caminhos diferentes.
- Vocês não têm culpa de nada, não é fácil pôr fim a um casamento e dizer adeus a alguém com quem vivemos tanta coisa, mesmo quando as pessoas sabem que não há volta a dar.
- Sinceramente, acho que o meu pai está à espera que a minha mãe erre novamente para que ele tenha mais um motivo para acabar com isto de vez... ele não quer mostrar-lhe que o que aconteceu ainda o persegue.
- O que é que aconteceu ao certo? Isto, só se me quiseres contar...
Emily respira fundo e deita-se também na cama. Não queria de modo algum chorar assim que dissesse o que tinha para dizer, mas duvidava muito que isso fosse possível. Ainda não tinha aberto a boca e já sentia as lágrimas prontas a saírem.
- Eu não me lembrava disto mas, há pouco, quando assisti a uma discussão dos meus pais, lembrei-me de tudo... nós não deixámos Rosewood por motivos de trabalho, mas sim porque a minha mãe traiu o meu pai... com o Adam do Brew, pai do Zack, que só por acaso anda sempre comigo...
Alison não diz nada, limita-se a puxá-la para junto de ti e a abraçá-la com força.
- Isto é tão difícil para mim, Ali... - Confessou Emily, a chorar. - Eu sinto-me tão perdida.
- Vai ficar tudo bem, eu prometo. Eu vou estar sempre aqui para te guiar.
Emily fecha os olhos para tentar acalmar as lágrimas que não paravam de correr, concentrando-se no abraço da Alison. Aquele abraço era, sem sombra de dúvidas, o melhor que já tivera recebido em toda a sua vida. Transmitia-lhe segurança, a segurança que o mundo teimava em lhe tirar.
Instantes depois, quando o ambiente já estava mais calmo, Alison agarra no seu livro que se encontrava na mesa de cabeceira.
- Já vais a meio... isso foi tudo entusiasmo ou estavas a apanhar uma grande seca e decidiste ler? - Brincou.
- Não, eu estou a adorá-lo, mal posso esperar por o terminar...
- Provavelmente, vais-te revoltar com o final, mas eu estou a pensar em escrever uma sequela, para o concurso do clube de escrita.
- Mesmo não tendo ainda lido, eu acho que sei qual vai ser o final.
Alison olha-a nos olhos. Esperava que ela tivesse percebido o que aquele livro significava.
- A Eleanor vai-se embora... e isso impede que elas vivam a história de amor que sempre quiseram viver mas não viveram por falta de coragem...
- Lidar com a sociedade não é fácil... - Respondeu Alison, não tirando os olhos dos da Emily.
Por muito que tentasse, Emily também não conseguia desviar o olhar. Os olhos da Ali deveriam ser considerados a oitava maravilha do mundo, além de azuis e profundos, tinham um brilho incrível, capaz de iluminar qualquer lado por onde passasse.
- Achas que o amor não vale mais do que aquilo que os outros possam pensar? - Perguntou Emily.
Alison aproximou-se um pouco mais dela.
- O que elas sentem é amor?
- A cabeça da Eleanor encontra-se numa verdadeira confusão, mas o que sente pela Aisley está bem esclarecido... é amor sim.
- E a Aisley pode ser uma cobarde e não ser capaz de assumir, mas o seu coração pertence a Eleanor por inteiro. - Confessou Alison, beijando-a logo de seguida.
Emily quase que ia jurar que tinha renascido por completo ao sentir aquele beijo. Queria aquilo há tanto tempo e achava que estava tão longe do seu alcance que o facto daquele beijo estar a acontecer naquele preciso momento parecia-lhe um sonho.
Alison pára o beijo durante uns instante e sorri, enquanto Emily lhe fazia festas na cara.
- Eu não te quero magoar, Em, eu já te magoei tanto...
- És a única pessoa que não me tem magoado. Tens-me trazido a felicidade que eu achava que não ia voltar a ter sem que a memória regressasse.
- Só te peço que não desistas de mim, mesmo que as coisas demorem a ficar resolvidas...
- A continuação da nossa história está a começar a ser escrita, Ali, e o final não vai ser como da primeira vez.
- Adoro quando falas em termos metafóricos comigo. - Disse Alison, rindo.
- Adoro quando és minha. - Respondeu Emily, beijando-a.
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The Other Side
FanfictionEmily é apenas uma rapariga de 16 anos quando sofre um acidente de carro que a faz entrar em coma. Um ano depois, quando abre os olhos, os médicos percebem que esta não se lembra de nada, o que a obriga a voltar às suas origens e começar tudo da est...