01 ― A Escolha Certa

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Quando escolhemos passar o resto da vida com alguém, desfrutamos de sensações inigualáveis. É isso que vivo há um ano. Escolhi a mulher com quem dividiria meus dias, bons e ruins, com quem acordaria com aquele bafo terrível e ela não se importaria em me beijar, com aquela que ri das minhas piadas sem graça e ainda diz que eu sou hilário. Aquela que reclama da toalha molhada, das roupas espalhadas e do fato de eu nunca usar sandálias dentro de casa, sempre sujando nossa cama quando vou deitar. Aquela que tem o sorriso mais lindo quando acorda, mesmo que seu rosto esteja amassado. Aquela que queimou o primeiro arroz, o segundo e o terceiro, até desistir e contratar alguém para cozinhar. Aquela que me irrita quando é teimosa, mas me faz rir, quando é teimosa. Aquela que sempre será minha amiga, porque foi assim que tudo começou, minha Valerie, perfeita do jeito que é, com todos os defeitos enlouquecedores e qualidade encantadoras.

E se você acha que estou parecendo um bobão romântico, acertou! Mas que marido não fica assim em suas Bodas de Papel? É isso, eu e Valerie estamos completando um ano de casados e eu mal posso me aguentar de agonia em vê-la.

―Qual a tática de conquista hoje, Don Juan?

Patrick, meu colega de plantão, consegue ser um chato quando quer e adora perturbar meu juízo com esse apelido que não faz mais sentido algum.

―Não preciso mais de táticas amigo, já conquistei a certa para vida toda ― caçoei dele. ― E quando vai parar com esse apelido ridículo? Já faz mais de um ano que deixei essa vida para trás.

Ele gargalhou e apoiou as pernas na mesa do nosso conforto médico, finalmente o plantão tinha diminuído o ritmo.

―Um traste regenerado, saquei. Mas ainda acho que esse apelido lhe cai bem.

Balancei a cabeça discordando.

―Além do mais, agora minha tarefa é descobrir maneiras eficientes de manter a mesma mulher satisfeita ― continuei, pensando no sorriso da minha Vale naquela manhã. ― Isso sim dá trabalho!

Rimos.

―Descobriu o que?

―Que pratos lavados, toalhas penduradas no local certo e um elogio sincero, transformam qualquer mulher num vulcão!

Patrick gargalhou.

―Nunca achei que pratos tivessem tantos poderes!

―Mas têm meu amigo, e como têm!

―Daria tudo para ver o velho Don Juan lavando pratos e domado ― zombou.

―E mais feliz do que nunca!

Ele fez cara de quem não acredita e logo saiu, quando foi chamado para atender uma emergência. Olhei o relógio e ainda tinha uma longa hora pela frente, até poder sair, pegar o Pedrinho, levar para casa da Mon e ter a Valerie só para mim. Longos 60 minutos. O celular tocou, era ela.

―Oi, amor.

―Por favor, me diga que você vai poder sair dentro de uma hora! ― ela pediu.

―Talvez.

―Ah! Não me faça ter uma emergência para tirá-lo daí!

Ri.

―Que tipo de emergência, senhora Borba?

―Engasgada com caroço de uvas ou asfixiada com fumaça de velas aromáticas.

―Hum... Uvas e velas aromáticas? ― falei com meu melhor tom galante. ― Tem alguém preparando surpresinhas.

―Você não faz ideia. Algo que inclui bastante criatividade e flexibilidade.

―Uau! Vejo que essa emergência valerá a pena.

Confissões de um Traste (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora