Cravos Brancos

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Um caixão tabaco
Duas coroas de cravos amarelos
Dependuradas em pedestal
Seis velas velhas acesas.

Um corpo
Deitado sobre cravos brancos
Esplêndido
Olhos fechados, boca cerrada
Roupas brancas e colar de pérolas
Preste a acordar.

Não mais sono dentro dele
Não há nenhuma vontade que possa fazê-lo levantar.
O vestido branco só serve para manter coberto.
Um corpo, que nem ruborizaria se estivesse nu.
Dentro do caixão não habita vida nem mesmo nos cravos.

Do lado de fora. Há rostos.
Há também muitas lágrimas regando aquelas flores brancas.
Mas talvez nem todas sejam de dor ou tristeza.
Por ventura, chorar em velório, é teatral.

Eu choro por cada palavra mal dita.
Por cada um dos minutos que deixei de lado.
Pelo amor que economizei achando que você não aguentaria de uma só vez.
Pela dor de saber que amanhã cedo eu talvez coloque um buquê de cravos brancos em sua lápide.

Tudo que fiz pra você foi em vão.
A morte fez o favor de levar tudo embora.
Mas me deixou para trás, droga.
O vazio que eu sinto, não é saudade
É vontade de morrer.

Não há, com certeza, nenhuma vontade de viver.
Não aguento mais!
Não quero acordar e ter que vestir o terno preto para mais uma despedida.
Regada a cravos e velas surradas.

Quem será dessa vez? Meu irmão? Meu filho?
De onde sai tantas lágrimas para chorar tantas vezes?
Da vida eu esperava mais.
Esperava, pelo menos, que as lágrimas de alegria seriam mais frequentes.
Nunca serão.

Não quero escutar mais ninguém dizendo
"Eu sinto muito".
Não quero sentir meu coração arder na tentativa de me manter vivo,
Quando não existe mais esse desejo em meu corpo.
Eu quero deitar a cabeça nesses cravos brancos.

Quero ser oco por dentro e não ter com o que me preocupar mais.
Quero que coloquem em minha lápide:
"Descanse em paz".
E que eu descanse pela eternidade.

-x-

PlaceboWhere stories live. Discover now