Capítulo 17 - AMOR QUE FLORESCEU

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Meses a fio se passando e eu e a sinhazinha num se largava mais , ela gostava de deitar comigo de prosear, e de ver as flores crescendo , de ver as plantas surgindo e se mostrando para a vida , de vez em quando a baronesa descia até nós e vinha ver a belezura que tava ficando e só faltava pouco para ficar pronto , eu tava deixando a natureza agir e a natureza tava agindo , e depois eu tinha que ir para o plantio , mas o meu trabalho num tinha terminado , eu ia junto com os outros negros , começar a fazer uma pequena capela que a baronesa tanto queria , e eu ia ajudar , ela queria que nós aprontasse a capela para haver a reza e chamar toda a gente da fazenda vizinha , e eu , sabia que muitos dos negros , assim como eu eram batizados logo que chegava , o barão senhor Gonçalo num queria ninguém sem batismo e a religião tinha que ser de acordo com o gosto deles e dos padres, esta era também uma de nossas revoltas , mais do que eu , os mais exaltados , eram os negros fujões , pois eles num queriam saber de ficar venerando a santa , porque nós tinha as nossas crenças e os nossos orixás , mas acabamos fazendo o que eles queria senão morria e a gente num queria morrer e queria rezar , assim fomos gostando de nossa senhora do Rosário, e fomos nos apegando a ela também e depois ela foi fazendo os milagres surgir , eu estava ansioso para começar esse trabalho , porque ia ser uma capela perto da casa da fazenda e eu ia fazer um caminho de plantas nela para ficar mais formoso , e eu pensava que ela merecia por demais,era uma santa milagreira e foi pedindo ajuda a ela que o negro Quintino conseguiu fugir e nunca mais se soube dele ...



Somente o seu Germano num queria saber de reza, aquele ali num era gente não , ele só pensava em nos castigar , e eu estava salvo porque sinhazinha Rosa num queria que eu voltasse para colher cana e o a barão fazia tudo por ela , mas ele num sabia de suas ideias de querer escravo livre senão eu num sei o que poderia acontecer , pois o barão seu Gonçalo , era rigoroso com seus escravos e estava cada vez comprando mais e mais escravos , e a fazenda estava crescendo , já tinha sido construído uma outra senzala , e agora a pequena capela , que não se sabia se era para nós negros ou se era para todos saberem que eles tinham preocupação com nós , eu estava indo e fazendo o que tinha que ser feito como sempre fazia , eu só queria era tá perto da fazenda por causa da sinhazinha ...

Tanto ela quanto eu tínhamos descoberto o poder que tem o desejo consumindo nossas entranhas , eu , era o homem que ela diz que procurava e ela era a minha sinhá que tava me fazendo feliz e era por causa dela que eu tava achando a minha vida bonita e acreditando que um dia podia ser igual aos brancos ., mas a noite, na senzala , eu saia dos meus devaneios com a sinhazinha e ia vendo o que Severo estava preparando, ele já tinha adquirido um bom número de negros , para ficar do seu lado , eles estavam planejando uma grande fuga em duas situações , uma parte fugiria e a outra parte que ia cobrir eles , ficaria , depois eles voltavam e iam pegar todos os escravos, libertando-os , eu fingia que dormia enquanto eles planejavam o que aconteceriam , eles num aguentavam mais aquela vida , era muito doloroso de ver , e o Severo destilava ódio de seu Germano e de seus ajudantes , que eram os escravos de confiança dele , e eu ficava a escutar tudo quieto e fingindo dormir , e eu só num queria que mal acontecesse a minha sinhazinha , eu só pensava nela e nas prosas que tinha e naquela sua intimidade doce , como cana .

O dia raiava e eu ia lidar com o serviço e depois ia ter com a sinhazinha no rio , mas as vezes eu ia para perto da cabana de pai Tonho , porque lá era mais distante de tudo , e ela ia aonde eu dizia que era bom, e a gente ficava ali em qualquer lugar de terra batida se amando e ela certa vez me disse --- negro!, estou querendo comprar a sua alforria , vou pedir a um conhecido meu abolicionista para comprar você como se fosse eu , e depois vou casar com você , pois não posso pedir a meu pai , senão ele não concederá , e vai dizer que todos os escravos são meus também e eu quero você para estar sempre a mim , eu lhe amo e ele não sabe nem deve saber , senão ele manda lhe matar e se você morrer , eu morro junto . , eu tava escutando a minha sinhazinha e disse --- vosmecê quer casar mais eu ? --- quero sim , esta foi a resposta dela , e eu já estava por demais feliz só em ter ela em meus braços e saber que ela me estimava ., mas ela queria mais e eu estava bem feliz com a sua decisão, e em resposta eu só pude dar toda a minha gratidão com as minhas intimidades assanhadas e entrando nela como ela gostava , ...
Ficamos assim deitados , por um longo tempo e após acordarmos Jacinta, fomos caminhando entretidos , com nós mesmos , e vimos de longe pai Tonho colhendo de sua pequena horta , fomos ao seu encontro e bastou um olhar seu , para que eu soubesse que ele sabia , e que havia se feito as suas adivinhações ele , apenas falou --- meus fios !, tenham cuidado e vão em paz , porque se vosmecês tiverem fé , esta fé vai salvar vosmecês , , Deus está com vosmecês em tudo e com o seu dedo faz com que tudo aconteça na hora certa .

A minha sinhazinha beijou as mãos ossudas e enrugadas de pai Tonho , e o abraçou , e ele sussurrou em seu ouvido palavras que depois eu ouvi dela , ele disse a ela -- cuide dele que ele vai cuidar de vosmecê ..., eu fiquei matutando mais a sinhazinha o que era que aquilo que ele falou , mas esqueci com o passar dos dias , e ficou esquecido , eu tinha muito o que fazer e tinha muito que amar minha senhorinha.


O Dedo de Deus (Obra não revisada)Onde histórias criam vida. Descubra agora