Capítulo 18

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Eu fechei os olhos apreciando a brisa fresca do mar, e o som de água desabando sobre água. Foi um milagre ser liberado da escola mais cedo, e um milagre ainda maior Maikon não ficar na diretoria. Nós pudemos retornar juntos pra casa, sob o sol ardente daquela linda tarde.

Passamos na casa do Maikon para ele vestir roupas de banho e pegar sua prancha de surfe. Tio Alisson havia saído para buscar o doutor no aeroporto, então Maikon tinha pressa. Não queria esbarrar com eles e estragar seu precioso dia de treino.

Quando chegamos na praia particular da minha casa, o sol coloria o mar de cor-de-rosa, deixando as ondas altas ainda mais bonitas. Eu e Maikon corremos para dentro d'água.

"Que tal já começar com uma competição?" Perguntou ele, nadando em cima da prancha enquanto eu agitava minha cauda ao seu lado.

"Você sabe que não pode ganhar de um tritão." Provoquei, dando uma ágil pirueta sob a água. "Mas vá em frente. Escolha qualquer onda."

Maikon percorreu o olhar pelo horizonte, assistindo as ondas se erguerem e desabarem numa cachoeira de espuma branca. Os anos de treino o tornaram um excelente surfista, com dezenas de troféus e medalhas que mal cabiam na estante do quarto. Com sua maioridade se aproximando ele ficaria fora dos campeonatos juvenis, e poderia se inscrever nos circuitos adultos.

Eu não precisava ser um gênio para imaginar o objetivo dele.

"Aquela ali." Maikon apontou para um tremor na água, com seu olhar aguçado de surfista. "Vai ser uma tubular, e das longas."

Nós nadamos até o começo da formação, e assim que chegamos a onda se ergueu aos céus, desabando como um tubo de cristal da forma que Maikon previra.

Ágil e forte, Maikon remou até ganhar velocidade e subiu na prancha, estendendo o corpo e as mãos na postura perfeita.

Eu não precisava do mesmo preparo. Assim que avistei Maikon sobre a prancha eu disparei na mesma direção, brandindo minha cauda com tanta velocidade que um rastro de bolhas se formou atrás de mim.

Maikon inclinou-se até tornar-se um relâmpago no centro da onda. Seu cabelo longo chicoteava o ar e ele olhava para o lado com um sorriso arrogante no rosto. Normalmente eu já teria o alcançado.

Agitando a cauda até a cintura doer, eu nadei em velocidade máxima e escalei a parede d'água, emparelhando com Maikon. Ele notou a surpresa no meu rosto e riu.

"Cansado, meu amor?" Ele provocou, e então deitou o corpo ainda mais, até a perna de trás quase tocar as estampas cor-de-laranja da prancha.

Eu estiquei as mãos diante do rosto, nadando com a cauda, com a barriga, com todo o corpo. Atingi a velocidade de um torpedo e ainda assim Maikon afastou-se mais e mais, até escapar do lado oposto da onda.

Minha cauda doía demais para continuar. Eu terminei logo atrás dele e emergi respirando pesado.

"Eu ganhei!!" Ele gritou, deixando uma onda menor derrubá-lo na água. Ele emergiu jogando o cabelo para trás estendeu os braços ao ceu. "Eu ganhei do meu namorado tritão e gostoso! Surfe-Hai, aí vou eu!"

Eu sorri e massageei atrás da cauda, que latejava reclamando a falta de escamas. Eu podia não estar em minha melhor forma, mas foi uma vitória autêntica. E impressionante.

"Você talvez seja o surfista mais rápido do mundo." Falei, ainda ofegante.

"Vou me inscrever no ano que vem. Todos pagam pau pro meu pai, por ser o surfista mais velho a vencer. Imagina quando eu ganhar o Surfe-Hai como o surfista mais novo? Vou até cansar de assinar autógrafos."

Ondas em Rebentação (AMOSTRA)Onde histórias criam vida. Descubra agora