Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Não aguento mais existir.
Minha cabeça tem um peso enorme e mal posso carregá-la.
Mal posso conviver comigo mesmo,
Com todas essas pessoas que existem aqui dentro.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Não sei mais viver.
Todas as memórias me assustam.
Embora elas tragam a inocência, a alegria e a paz,
Sei o que está por trás,
Sei que a violência e a maldade se escondem atrás do véu da realidade.
A tristeza e o sofrimento se fazem presentes em todos os momentos.
Essa é a mais pura verdade.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Estou perdido.
Já não vejo mais razão na vida, para a própria existência.
Sei que não existe maniqueísmo, a felicidade não vale mais que a tristeza.
O amor e os prazeres servem apenas como distração.
O tempo corre e a entropia é suprema.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
A apatia se enraizou nas profundezas do meu ser.
Não há motivos para existir.
A resolução para o mistério da existência
Está muito além do que nossos olhos podem enxergar.
A verdade é oculta e sempre permanecerá.
O mistério é eterno.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Não há mais esperança, a lógica me corrói por dentro.
Sei que não há almas, nem energias restantes.
A vida é tudo o que há.
Destruo-me ao saber que a única vida que tenho fora jogada no lixo.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Tenho vergonha da minha própria estranheza
E anseio pela salvação do resto da minha vida.
Longe do meu egoísmo, gostaria que meu ser fosse excluído
E outra pessoa mais simpática e mais alegre, mais extrovertida e divertida,
Tomasse controle do meu corpo e fizesse minha vida valer à pena.
Pois eu sou o fracasso.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Não tenho um rosto, não tenho forma definida.
Sinto-me como uma sombra cinza inconstante,
Que não interage com nada e com ninguém.
Sinto-me imaterial. Inexistente. Eternamente sozinho.
Dê-me um abraço quente, senhor.
Por favor, não me deixe com esse peso.
Digo-me e contradigo-me, pois sei que não há um Deus benevolente nos olhando de cima,
Não tenho dúvidas disso.
Mas esse fardo se tornou tão pesado que a tal ideia se tornou convidativa.
Delírio apenas. Entretanto, continuo conversando sozinho.
Preso em uma alucinação. Em minha doce esquizofrenia.
Por favor, não me deixe aqui.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Senhor, por favor, me ajude,
Já não consigo mais respirar.
Sinto-me afogado. Meus pulmões ardem.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Viver está sendo uma dor imensa.
Não sei mais parar de pensar e minha mente me atormenta.
Essa voz aqui dentro não pára um único segundo.
Mate esse demônio, sim? Para que eu não possa mais sofrer simplesmente por existir.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Eu vejo, eu sinto, eu me lembro de tudo, eu consigo ouvir aquele sorriso;
Sentir aquele aperto quente, sentir a amizade, a companhia: a minha vida.
Aquelas brincadeiras... aquelas cantigas...
Você sabe do que estou falando.
Por que tudo isso se foi? Diga-me, por favor.
Foi culpa minha? Eu escolhi isso?
Não me deixe nesse silêncio Senhor.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Por que eu sou tão triste?
Salve-me de mim mesmo Senhor.
Desligue-me dos aparelhos e faça-me deitar em um sono sem sonhos.
Escuro e vazio, sem culpa alguma, pois eu não pedi pra nascer.Ó Senhor! Por favor, livre-me do tormento eterno.
Seca minhas lágrimas e encha meus pulmões de ar,
Dê-me o sopro da vida novamente,
Ou arrasta-me para a inexistência;
Sem deixar-me dizer adeus.Ó Senhor! Por favor,
Livre-me do tormento eterno.Por favor.
Eu preciso de você para salvar-me de mim mesmo.
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Et sanguis in umbra
PoetryUm livro curto de poesias e prosas que vão do horror, ao gótico, à tristeza, melancolia, depressão, até o último estágio da dor humana. De passagens filosóficas à pura passagens de tristeza profunda. Aqui jaz toda a dor e agonia de um ser que descob...