O suicídio

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Sombrios fluxos existenciais...
A luz de diversas estrelas
Brilham para além das fronteiras do presente.
Nascidas nos tronos do paraíso indefinido,
Brotam para a existência, arrastam-se na imperfeição,
Vivem no vazio sem fim.

Sombrios fluxos existenciais...
O brilho da eternidade
Cria sombras inconstantes, distorcidas, efêmeras.
Um mundo que apodrece,
Que morre e se desfaz.
Sofrimento nos córregos em tons sombrios,
Dormindo...
Sonhando...
Ecoando a morte através dos céus.

Sombrios fluxos existenciais...
Eu fico imóvel,
Olho as minhas mãos e desvaneço em um delírio distante.
A existência é a minha representação.
Digo a mim mesmo por meio de um pensamento.
Continuo imóvel,
Me maravilho de olhos permeados de solidão:
Sou o todo, sozinho.
Como em um retrato de um tempo distante,
Contemplo a paisagem.
Sozinho.

Sombrios fluxos existenciais...
Eu fico imóvel
Como uma escultura de luto em um cemitério.
Cubro meu rosto com minhas mãos,
A lágrima escorre por entre meus dedos.
Suspiro...
Suspiro...
De meu sofrimento eterno ninguém poderá me ajudar.
Durmo...
Sonho...
Ecoando a morte através dos céus.

Sombrios fluxos existenciais...
É isso a liberdade?
Por baixo de mim e à minha volta vejo a existência brotar,
As velas tremeluzentes despontando através da escuridão,
Pontinhos de poeira suspensos...
O vazio soberano. Tempo. Distância.
Sou tudo que existe.
Sigo uma ordem que me escapa o controle:
Causa e efeito,
Potência e ação.

Sombrios fluxos existenciais...
Já não me resta nenhuma razão para continuar;
Tudo que experimentei cedeu. Se desfez. Acabou.
Ainda disponho da eternidade para recomeçar.
Mas recomeçar o quê?
Os meus terrores tornaram-se reais.
Disponho da eternidade e de toda a potência.
Entretanto, não existe sentido.
Sombrios fluxos existenciais...
Tudo nasce sem razão,
Prolonga-se na fraqueza,
Morre pelo destino.
Liberdade essa que se parece com a morte.

Sombrios fluxos existenciais...
Sinto um frio moribundo,
Uma brisa suave dos ventos cansados
Que cantavam lamentos sussurrantes.
Um prelúdio de mais uma tragédia.
As estrelas se apagam e a última esperança
Desvanece distante de seu brilho.

Sombrios fluxos existenciais...
Nesse papel manchado de sangue
O capítulo final já está escrito
Embrulhado com um envelope de sonhos esquecidos.
As folhas jogadas agonizam para além de o seu próprio ser.
Eu caio de joelhos na solidão,
Cubro meu rosto com as mãos...
As lágrimas incessantes escorrem por entre meus dedos,
Suspiro...
Suspiro...

De meu tormento eterno
Ninguém poderá me ajudar.
Durmo...
Sonho...
Ecoando a morte através dos céus.

Sozinho.

Sombrios fluxos existenciais...
Eu olho para a noite. Para sempre.
Viajo para além das estrelas caídas,
Desvaneço em entropia,
Afundo no crepúsculo.
Afogo-me nas águas profundas da minha própria existência.

Et sanguis in umbraOnde histórias criam vida. Descubra agora