Ninguém sabe quem sou
sou apenas uma lágrima no oceano: invisível.
Não, não posso ser conhecido.
Complexo demais para ser definido.
Por ora posso sentir-me mal com isso,
mas logo deixarei de sentir.
Pois sou trânsito: potência, energia em fluxo.
Choques com o mundo: sempre inédito.
Átomos e vazio em movimento.
Sou matéria. Antes de tudo: matéria.
Mas também sou ideia: sou a possibilidade.
Sou, também, a luz e a escuridão: o início e o fim.
Por vezes penso que,
quando eu parar de respirar estarei liberto.
E que,
todo mundo morre,
mas nem todo mundo vive.
Mas tão logo, como a brisa que sopra gelada e desaparece,
deixo de pensar o que penso,
e deixo de ser.
De fato, para isso, é necessário definir a vida.
E ela não pode ser mensurada. Nunca.
Minha razão é a essência do infinito: eternidade.
Estou preso em uma fotografia.
Por ora penso na verdade.
Outrora penso nas interpretações e multiplicidades,
sobre o vazio. Denuncio-me como niilista, nesse momento.
Neste: vitalista.
Agora, penso eu, todos mentem
enquanto esperam pela segunda vinda.
Agarram a vida que não possuem e fingem possuí-la,
falam de blasfêmia ao mesmo tempo em que dizem não à vida.
Blasfemam, de fato, à própria vida.
Enquanto esperam a verdade:
ninguém vive.
A espera sempre se revela vazia.
Eterna negligência, eterno vazio disfarçado de excesso.
Estrutura religiosa do pensamento.
Mais uma Ideologia, uma doutrina, uma religião, um ideal: mais um Deus.
Ei! Deus morreu! Deus morreu!
A morte chegará,
olhe para o céu e procure uma razão;
olhe para o céu e espere a salvação;
em um último segundo, não verás tudo o que fizeste:
verá tudo o que não foste capaz de realizar.
Deus morreu! Deus morreu!
Ouço-me dizendo essas palavras...
Não mais... não mais...
perdi todas as formas e unidade,
para onde meu Eu se foi?
Não sei se caio-me a sangrar,
Não sei se levanto-me a sorrir.
Não, não há "me"; não, não há "eu".
O ser é o devir.
A essência não é o deserto,
ela não É: ela ESTÁ SENDO.
A verdade: não há.
Socorro! Não posso mais me comunicar!c
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Et sanguis in umbra
ПоэзияUm livro curto de poesias e prosas que vão do horror, ao gótico, à tristeza, melancolia, depressão, até o último estágio da dor humana. De passagens filosóficas à pura passagens de tristeza profunda. Aqui jaz toda a dor e agonia de um ser que descob...