Introdução

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Deixe me apresentar, meu nome é Rogério Feltrin sou baixista e fundador do grupo Rosa de Saron ou, como alguns preferem um dos fundadores. De qualquer forma sou o único remanescente dos primeiros dias da banda, em 1988, embora o guitarrista Eduardo Faro esteja na Banda desde 1990 e já nos acompanhasse antes de assumir o papel de músico. É como se diz: ele não viu o dilúvio, mas pisou na lama.
Gosto de falar e conversar sobre o tempo, olhar o passado, sentir saudade dele, sonhar com o futuro. Tento me agarrar ao presente, mas tenho bastante dificuldade, pois vivo com a cabeça nos dois extremos. Acredito no tempo como uma das coisas mais extraordinárias que Deus criou. Sim, o tempo é a criação de Deus, mas a forma de contá-lo é invenção do homem, e creio estar entre muito entre os muitos homens viciados em contar o tempo. Para pessoas como eu, datas são importantes, viradas de anos, aniversários, fechamento de semestre. Gosto de olhar para a história pensando em séculos, décadas. Vejam só que: privilégio pude ver a virada de um milênio. Estamos em 2016 e de repente me ocorreu o pensamento de que a exatos 10 anos sair do meu último emprego, há exatos 10 anos o Rosa de Saron se tornou meu único ofício. Olhando para os rumos que minha vida tomou, hoje Pode parecer ter sido uma decisão simples, óbvia, uma escolha fácil, mas não foi bem assim.
A banda já existia havia 18 anos e, embora tivesse uma boa projeção lidávamos com ela mais ou menos como que lida com um hobby ou um hobby muito sério. Eu me refiro ao fato de que nos dedicávamos à banda nas horas vagas, e as nossas cobranças internas levavam isso em consideração. Mas chegou o momento em que encontrei uma encruzilhada. Com Rosa de Saron consumindo muito de minha vida e precisando ainda mais de minha disponibilidade de tempo e energia, ou eu puxava o freio para a coisa ir mais devagar ou pulava de vez dentro do trem acelerava
Eu sonhava em pular no trem, mas sempre fui um cara inseguro, aliás, fui não, sou! O que me leva até consciência de quanto Deus é necessário na minha vida.
Além disso, eu estava recém-casado e precisava tomar uma decisão que envolve entre muitas outras coisas minha vida financeira. Naquele momento eu iniciava uma família e isso envolve algumas responsabilidades. Minhas minhas escolhas não afetavam mais apenas a mim.
Gosto de falar da importância fundamental da minha mulher, Renata, nesse episódio da minha vida, pois foi praticamente ela quem decidiu por mim ao dizer "Vai não tem como não tem com o que se preocupar. Se tudo der errado, estou trabalhando e a gente segura as contas com isso". Naquele momento, eu jamais abriria mão do certo pelo duvidoso e ela não me empurrasse, se demonstrasse a hesitação, até mesmo porque eu teria de enfrentar todo mundo ao meu redor considero minha atitude uma estupidez. Eu não conseguiria sozinho, não sendo cara inseguro que sou.
Aqui estou, 10 anos depois.
Nesse período, muita coisa aconteceu, e vamos admitir, outras preocupações surgiram. Fazer um show não significa mais apenas a impagável satisfação em falar de Deus para as pessoas, não é mais simples a diversão de tocar, fazer um som. Muitas outras preocupações e as responsabilidades passam a estar envolvidas. Existe o sustento de mais de 20 pessoas, entre técnicos, músicos e pessoal do escritório, a maioria deles com família para alimentar. Também existem as preocupações legais, fiscais contábeis etc.
Quando tudo isso te consome, surge o grande questionamento da vez. Depois de 28 anos, por que eu ainda faço isso ? O que mais me motiva? É para me divertir? Para pagar as minhas contas? Mantenho viva em meu peito a chama que me sentiu incendiou em 1988 e me levou a querer montar uma banda que, através da música levasse uma experiência de Deus para as pessoas ? não são perguntas novas, são questionamentos que se perseguem durante toda a vida toda a história e sempre me obrigaram a refletir, de tempos em tempos, se isso tudo ainda tem um sentido ou se, como muitos gosta de falar, acabamos perdendo a essência.
Não dá para ser o mesmo depois de 28 anos. Aliás, haveria algo de muito estranho se nada mudasse nesse longo período. Envelhecemos, formamos famílias, amadurecemos. Nada disso resiste ao tempo. A aparência, o pensamento, parte das referências musicais, o olhar. A forma de viver a fé, a espiritualidade espiritualidade, o entusiasmo, tudo sofre alterações. Mas volto à pergunta: e a essência?
A essência continua intacta, incólume, intocável.
É aqui que revelo um belo segredo, de um antigo "acordo" que fiz com Deus para que Ele sempre me indicasse devemos prosseguir nesse caminho ou se deveríamos encerrá-lo. É isso que quero contar, sobre isso que desejo falar!
Mas, antes, preciso contextualizar. Fomos uma das primeiras bandas do Brasil a ter uma página na internet e, desde o primeiro dia, assumi a função de verificar os e-mails que recebemos. São cerca de 50 mil por ano, e praticamente todos foram lidos por mim. Qual a altura teria a pilha de páginas se imprimíssemos as mensagens?
Como eu dizia, meu acordo com Deus foi que eu con-
tinuaria confiando que contribuímos com o Seu reino
através de nossa música se toda vez que eu abrisse a cai-
xa de entrada, entre todas aquelas mensagens de elogios,
críticas, sugestões e pedidos, houvesse pelo menos um
e-mail, um único bastaria, com o testemunho de alguém
que teve sua vida tocada pelo doce toque do amor de Deus.
Acreditem, não houve um dia sequer, em todos esses
anos, que não tenha chegado algum testemunho, do caso
mais impactante ao mais simples, de alguém que amanhe-
ceu triste, mas se alegrou ao ouvir uma de nossas canções.
Com o passar do tempo, criei o hábito de salvar em
uma pasta algumas dessas histórias. Sem nenhum critério

específico, guardava apenas as que me pareciam peculiares,
as que mexiam comigo de forma diferente: desde mensa-
gens que narravam transformaçóes espetaculares ás mais
simples, minhas preferidas, nas quais Deus se
nas pequenas coisas do cotidiano, não o Deus dos grandes
acontecimentos, dos grandes eventos, mas o Deus do dia
a dia, das pessoas consideradas comuns.
Passei a colecionar esses relatos para ler quando me
sentisse desanimado, para sempre me lembrar de que não
posso me abater quando alguém diz que "essas músicas
não evangelizam". Quanto egoísmo de minha parte guardar
esses testemunhos só para mim! Mas o tempo.Ah, sempre
ele, Quando decidimos incluir essas histórias entre uma
música e outra do nosso primeiro DVD, o Rosa dc Saron
acústico e ao vivo, gravado em 2008, ficou claro que elas
tinham o poder de transformar vidas. Ern muitos momen-
tos, as pessoas se enxergam nessas histórias, se identifi-
cam e se renovam, se fortalecem, têm sua fé alimentada.
Descobri que uma história partilhada tem um poder multi-
plicador. Como um viral de redes sociais, elas levam espe-
rança de maneira exponencial.
Dessa descoberta nasceu o desejo de fazer este livro:
compartilhar algumas das histórias que colecionei no meu
computador, mas que não são minhas, são também dos
caras com quem divido o palco, a vida, os sonhos, são his-
tórias que o Rosa de Saron colecionou.
Desta vez, diferente do livro Rock, fé e poesia, no
qual conto como surgimos e como seguimos, o importante
agora é por que surgimos e por que persistimos. Esses
depoimentos j isso, Sâo histórias reais, contadas por mim apenas para manter uma unidade narrativa
e estética, com oq nomes alterados, obviatnente, para nào
expor pessoas. Não é esse o objetivo.
Também não é objetivo deste livro induzir ninguém a
injaginar que somos pessoas especiais ou que nossas canções
têm poderes sobrenaturais. Nós , os discos, os shows, as músicas , tudo é apenas um pano de fundo para mostrar o
quanto a graça de Deus age quando o homern se coloca à
disposição, Como o Guilherme tem dito ultimamente, ela,
a graça de Deus, acontece não por nós, mas apesar de nós.
Ah! Como Deus é bom!
E bondade, essa generosidade de Deus sobre a
vida de homens tão litnitodos, essa misericórdia que se
manifesta cm nós e no nosso trabalho que nos permite
scr colecionadores de histórias.
Manual do leitor
Antes de você começar a fazer a leitura das histónas, eu
gostaria de fazer poucas considerações que acredito sarem
importantes e que o ajudarão a compreender como este livro
foi construído e consequentemente ajudá-lo a mergulhar
no espírito deste projeto:
Não existiu um critério objetivo para a selesào das
histórias. Os depoimentos da "coleçào• não foram revisita-
dos em sua totalidade, aliás apenas um percentual pequeno foi relido.

Colecionadores de histórias-Rosa De SaronOnde histórias criam vida. Descubra agora