Bruna - Qual vai ser o ritmo dessa semana?

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─ E aí, qual vai ser o ritmo desta semana? – Esbarrei com ele de propósito no corredor da escola.

Carlos Eduardo me abraçou como se estivesse vendo uma luz no fim do túnel, como se eu fosse sua tábua de salvação. Seu sorriso foi tão genuíno que eu tive o impulso de beijá-lo, mas me controlei. Como eu pude dizer alguma vez na vida que aquele cara era nojento? Ele era o rapaz mais gentil que eu já tinha conhecido. E a cada encontro, tenho de admitir, eu o via mais lindo.

─ Você está bem? Está se sentindo melhor? – Colocou a mão na minha testa.

─ Hei! – Eu dei um tapa na mão dele. – Quer estragar o visual da Bruna "Delícia" Drummond?

─ Desculpa, Bruníssima! – Ele sorriu.

─ E, então, o que foi que você aprontou na minha ausência. Você está feliz demais em me ver. Alguma coisa você aprontou. Conta logo para gente limpar essa sujeira...

Ele me contou da revista, mas nem precisou de muitos detalhes. Muitas meninas ainda vinham nos interromper para pedir autógrafos e bater fotos. Eu achei muita graça da timidez dele, é claro. Mas o ensinei a sorrir e a posar para fotos com fãs. O segredo é manter o semblante tranquilo apesar da euforia e os dentes inferiores separados dos superiores como se estivéssemos mordendo um lápis. As fotos ficam ótimas e não precisam ser repetidas.

─ Kadu, você é lindo! – Uma menina de treze anos fez estalar um beijo no rosto dele. Ele ficou vermelho. Eu segurei sua mão com força e ele sorriu.

Caminhamos abraçados até a sala sem dizer mais muita coisa. Eu estava tão feliz. Meu coração batia apressado. Eu gostava tanto dele que a sua simples presença me fazia brilhar.

─ Bruna!

─ Felipe!

Corri para abraçar meu amigo. Eu não o via desde aquela noite na Atmosfera. E, mesmo lá, nós não conversamos muito, ele estava com a namorada. E apesar de tudo ter ficado muito esclarecido entre nós no ano passado, Dona Perfeitinha não era minha fã.

Ele me abraçou com carinho.

Carlos Eduardo também se sentou sem dizer mais nada. Ele e Felipe não se davam muito bem. Acho que nunca trocaram mais do que duas palavras. Carlos Eduardo era o estudioso, Felipe era da turma do fundão. Carlos Eduardo fazia perguntas e discutia temas extras com os professores depois do tempo da aula, Felipe conversava ou dormia a aula inteira.

Por isso eu gostava tanto de Felipe. Perdi as contas de quantas aulas nós perdemos conversando pelos nossos celulares sem que os professores nem desconfiassem. Também tínhamos um esquema de pesca elaborado que deixava Dona Perfeitinha enlouquecida de ciúmes. Isso me divertia.

─ Preciso conversar com você, Bruna. – Felipe disse ao meu ouvido.

Logo percebi do que se tratava. Eu mexi com um vespeiro quando, num momento de estupidez, fui falar do encontro entre Carlos Eduardo e Milena. Felipe é muito apaixonado por essa garota. Tipo coisa de novela mesmo. Ele fica maluco com qualquer coisa que possa atrapalhar o relacionamento deles. Inclusive eu.

Dou todo espaço do mundo para eles. Evito falar com meu amigo nos corredores. E temos até um código secreto de mensagens para evitar que Milena desconfie que a nossa amizade continua mais forte do que "oi" e "como vai". Já que ela é do mesmo jeito que ele.

Tenho certeza de que Felipe ficou maturando essa história que eu contei. Inventando mil possibilidades. Achando que Milena está dando bola para o Carlos Eduardo, o que é impossível porque ela só tem olhos, ouvidos, cabeça e coração para ele.

Num gesto rápido, ele foi sentar na sua cadeira. Eu sentei na minha. Meu telefone recebeu uma mensagem. Felipe: "Olha em que pé as coisas já estão?". Havia um vídeo anexado. Kadu e Milena dançando no colégio. As pessoas aplaudindo feito loucas.

Desliguei com ódio. Quem essa garota acha que é?

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora