Carlos Eduardo - O que você achou do tango?

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─ Então, Brunélida, o que você achou do tango? – Nós tínhamos acabado de ver uma série de vídeos com casais dançando.

─ O que você acha da Milena? – Ela perguntou como quem não quer nada, mas seus olhos pareciam querer me engolir.

─ A... Acho que ela é bacana! Por que esse interesse tão repentino? – Gaguejei. Eu realmente temia que minha parceira desconfiasse de alguma coisa. A última pessoa do mundo que pode saber do meu sentimento é Bruna "Escandalosa" Drummond.

─ Vi o vídeo de vocês dançando... – disse despretensiosa. Respirei aliviado. – Ela dança melhor do que eu?

─ São estilos diferentes. – Graças a Deus era apenas mais uma questão de competição entre garotas. Bruna é muito orgulhosa. Tentei fugir da pergunta sabendo que não conseguiria.

─ Então é porque ela é melhor. Se não fosse, você diria simplesmente que eu sou melhor... – Insistiu.

─ Você é a melhor parceira que já tive. – Respondi sem faltar com a verdade. – Mesmo não sendo a melhor dançarina. – Ela sorriu satisfeita.

Comecei a ensinar a postura do tango. Disse que era uma dança argentina e que no início era dançada em cabarés. Ela gostou da sensualidade. Das expressões. Rapidamente entendeu que pouco tinha a ver com ritmo. Tango era sobre sentir. Soube naquele instante que seria a nossa melhor apresentação. Bruna faria acontecer.

─ Ela é mais bonita do que eu? – Retornou ao assunto Milena do nada. Não respondi. – Você não acha que ela é magra demais?

─ Acho que ela é perfeita. – As palavras simplesmente escaparam da minha boca.

Bruna me empurrou. Fiquei sem entender absolutamente nada.

─ Nós vamos dançar ou não? – Percebi que não íamos porque ela continuou me olhando como se eu tivesse afogado quatro crianças recém-nascidas. – Você vai me explicar o que é dessa vez?

─ Coloque a música logo e vamos acabar com isso. – Não ela não ia explicar e eu não ia insistir.

Coloquei El tango de Roxanne do filme Moulin Rouge para tocar. Era uma versão instrumental intensa. Nós já tínhamos ensaiado o passo base. Como sempre, eu tentei conduzir Bruna sem lhe ensinar os passos o máximo possível, pois ficava melhor quando a coisa acontecia mais por instinto do que por técnica. Depois, nós lapidávamos a coreografia e fazíamos os passos mais difíceis.

Colei meu rosto ao de Bruna. Ela estava quente. Fiquei preocupado pensando se ainda estava febril. Não falei nada. Do jeito que estava hoje, era capaz de me engolir.

Fizemos uma sequência de passos fáceis. Rápido e agressivo. Lento e sensual. Uma mistura de emoções como o tango deveria ser. Era impressionante sua capacidade interpretativa. Ela tinha fúria no olhar. Eu a puxei para um passo aéreo, aproveitando o desempenho fora do comum, ela veio sem ensaio. Sentou no meu colo. Acariciou meu rosto.

E, num gesto rápido, ela segurou meu pescoço e me deu um beijo. Na boca.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora