Sem maçãs róseas. Bárbara não era porcelana. Pés latifundiários; tão ladra em seu imperialismo transvestido de balé. Pegava-me com os olhos atrevidos e intimava: dê-me!
Que queria Bárbara?
Os lábios, adega de demônios nobres adeptos aos prazeres mais arcaicos, sempre almejavam algo.
Meretriz jurando amores! Declarava companhia perene e atravessava o umbral ao alvorecer. Bárbara da pele de oliva, pirata dos mares vermelhos que moram na alma dos homens – e entre suas pernas.
Sem maçãs róseas.
Sobrancelhas arqueadas.
Pareceu-me nobre dentro de caríssimo vestido, olhos de serpente pouco acima do leque – rendas usurpadas. Sua alma pré-nascida havia copulado com arcanjos e querubins e, rindo-se, nascera fruto da blasfêmia: portadora dos longos fios de esquinas escuras, bordéis, joias pretas de ciganas. Arrumados num penteado da moda elitista mais bela, algumas tranças, algumas mechas caindo como as notas em uma partitura de piano.
Bárbara andava com os pés latifundiários e pisava com o fino salto rostos, amores e fidelidades – todas as bocas implorando pelo veneno da beleza, maldição da lascívia.
Aproximava-se de mim no meio da Ópera – abriu-me dores!
Dê-me, dê-me, diziam seus olhos, dê-me.
Que queria Bárbara?
Seio vazio de juízo, sorriso, orações. Eterna casa das perdições.