PRÓLOGO

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Em um instante você está aqui, em outro não está mais.

O que dizer sobre a morte? Dizem que é a única certeza que temos desde o início de nossas vidas. "Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte," Freud disse. Mas, para começar, nem sabemos exatamente o que é vida. Será uma benção adotada pela evolução após milhões de anos de anomalias? Ou uma aberração da natureza, um vírus que deve ser expurgado e a morte é o único verdadeiro remédio?

Para muitos, a morte é apenas a entrada para um mundo muito maior e desconhecido. Não, esta discussão está longe de terminar. Estamos aqui, de hoje até o dia que iremos de encontro a ela, limitados a um vocabulário inventado e fortificadas fronteiras do nosso frágil intelecto. Ultrapasse essas fronteiras e você perceberá que a diferença entre vivo e morto é meramente ilusória.

Somos todos um só, difundidos na matéria e segregados em diferentes arranjos atômicos. Cadeias carbônicas enfileiradas que se desfazem e reagrupam, criando um ciclo de reencarnações químicas. E se há leis da física que fogem de nossa compreensão e sentidos? Existe algum tipo de matéria indetectável nos unindo, controlando e reencarnando assim como os átomos visíveis?

Ω

— Eu sei o que você quer, Canale — Walther disse. — Eu já falei, não vai funcionar.

— Seu ceticismo é saudável, Luiz. Respeito ele. Mas eu já perdi tempo demais com idiotas como você.

— Você sabe que Freud jamais aprovaria isso.

Os dois homes austríacos de jaleco discutiam em alemão há horas. Já havia passado do toque de recolher. Os guardas brasileiros, do lado de fora da sala, não entendiam sobre o que eles falavam, apenas aguardavam para escoltá-los a seus aposentos com segurança.

— Não é culpa minha que aquele judeu não tem colhões para ir mais a fundo na pesquisa. Um pouco de crítica e ele volta atrás. Depende de mim persistir.

Luiz Walther sentia o frio subir sua espinha vagarosamente conforme a conversa continuava. Canale Schlierenzauer o assustava; não parecia são.

— Mas você está envolvendo cobaias humanas, Canale! — Luiz retrucou. — Se o rei Jorge sonhar em um escândalo público envolvendo cientistas brincando com vidas humanas...

Canale riu por um instante.

Humanas? Por favor, Luiz, não se rebaixe. Estamos trabalhando em prol de algo muito maior aqui. E obrigado por lembrar que estamos trabalhando com esses assassinos. É sempre bom ter o lembrete de que somos traidores.

Walther balançou a cabeça para os lados.

— A loucura deve ter infectado seu cérebro. Traidores seríamos se continuarmos esta discussão. Você não está pensando claramente e muito menos está trabalhando em prol de algo maior. Tudo o que está fazendo é por você mesmo. E isso tem que acabar — Luiz terminou a sentença, passando por Canale e indo na direção da porta.

Schlierenzauer, enfurecido, pegou o telefone "chifrudinho" da mesa e golpeou Canale na cabeça, que caiu no chão, desmaiado.

— Estou cansado de insetos rastejantes como você, Canale. Eu estou aqui para mudar o mundo.

Abra os olhos.

Ω

"Ou a morte é um estado de inconsciência total e nada, ou, como dizem os homens, há uma mudança e migração da alma deste mundo para o outro. Agora... se a morte é de tal natureza, eu digo que morrer é ganhar, pois a eternidade é, então, apenas uma única noite."

Platão

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⏰ Última atualização: Aug 21, 2017 ⏰

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