Esbarro com uma estranha.

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O começo do meu quinto ano em Hogwarts foi algo novo para mim. Não só porque era um novo
ano, ou por causa dos NOMs, ou qualquer outra coisa do tipo. Não, tinha mais além disso.
Eu tinha acabado de sair da aula de Aritmancia. Albus e o namorado dele, Scorpius Malfoy, tinham
me alcançado no meio do corredor, voltando da aula de defesa. Albus tinha cabelos rebeldes negros
e olhos muito verdes, com algumas sardas pelo rosto. Scorpius era um garoto muito loiro e muito
pálido, alto e com um ar de arrogância, apesar de ser a pessoa mais amável possível. As aulas da
Grifinória e da Sonserina eram separadas, e nós costumávamos nos encontrar no corredor para ir ao
salão principal juntos.
-Rose, sua pena.-disse Albus, me entregando a pena que eu tinha emprestado para ele em outra
aula.-Sério, me desculpe, eu sempre esqueço a minha.
-O que você não esquece, não é?-comentou Scorpius, rumando ao salão principal conosco, com o
mesmo sorriso sincero de sempre estampado no rosto.
E eu abri a bolsa no meio do corredor para guardar a pena, ficando para trás, e eles indo na frente.
Dezenas de alunos passando por lá, e eu guardando a pena, distraída. Claro, Albus teve que
esquecer a maldita pena, como sempre.
Só lembro de ter sentido algo como um empurrão e ter caído. Meus cabelos extremamente
cacheados, quase crespos, voaram na minha cara, e por um momento eu não conseguia ver muito
bem o que estava à frente. Somente os cabelos muito negros de uma garota, meio cambaleando
pelo impacto, que também deixou um livro cair. Era o Mil Ervas e Fungos Mágicos, de Herbologia,
mas eu nunca a tinha visto em uma aula dessas. Devia ser Corvinal, já que de lá eu só conhecia os
gêmeos Scamander. Com a Lufa-Lufa eu tinha aulas, e a Sonserina... bem, eu tinha bastante
afinidade com o pessoal da Sonserina.
-Agrh, olhe por onde...
-Me desculpe, eu estava atrrasada.-me cortou, com notório arrependimento em sua voz.
Joguei os cabelos para trás e encarei ela, que tentava rapidamente recolher o que tinha derrubado,
inclusive meu estojo de penas. Eu estava no chão, tentando absorver a voz que eu tinha acabado de
ouvir. Aquilo definitivamente não era sotaque britânico. Uma francesa, em Hogwarts?
Ela também arrumou os dela, e pude ver com clareza seu rosto: magro, porém bem desenhado, com
as maçãs do rosto um pouco salientes. Os olhos dela eram de um verde muito claro e eletrizante,
grandes e brilhantes. A pele era pálida, manchada por muitas sardas. Usava o típico uniforme da
Sonserina, com brasão estampado no peito. Como diabos eu nunca a tinha visto?
Ela estendeu a mão delicada para mim, me ajudando a levantar, e me entregando o estojo. Ainda
pedia desculpas, dizendo algo de estar atrasada e perdida.
-Não pode estar atrasada, agora é hora do almoço.-eu disse, ainda analisando a garota. Ela não
parecia passar dos quinze, como eu.
-Quê? É sério? Pensei que agora fosse a minha aula de herbologia. Mais cette merde, nunca vou
acostumar com o horário.-disse, bufando, e agora se encaminhando para o lado oposto, em
direção ao salão principal. E eu fui atrás, curiosa.
Talvez se eu tivesse deixado ela ir, ignorado, tudo seria diferente.
-Você não é daqui, né? Sotaque francês...?
-Beauxbaton. Meus pais mudaram para cá, o ministério de vocês tem um programa com o nosso e
ele teve que vir. Qual é o seu nome?
-Rose. Rose Weasley. E o seu?-respondi, enquanto adentravamos no salão, tomado pelo aroma
do almoço incrível de Hogwarts.
-Adelline Charpentier. Bonito nome, Rose.-disse ela, sorrindo. Não pude deixar de notar que o
sorriso dela era bonito.-E me desculpe pelo acidente! Vou para a minha mesa. Você é grrifinória,
certo? Acho que temos aula juntas depois. Até.
E saiu, os cabelos negros esvoaçando a cada passo que dava, e foi se juntar à mesa dos sonserinos.
Certo, algo de errado estava acontecendo.
Eu tentei tirar os pensamentos da cabeça e fui para minha mesa. Percorri toda ela até chegar à outra
ponta, onde estava Jullie, minha melhor amiga, e a grande massa de cabeças ruivas dos Weasleys,
com quem eu geralmente me sentava. Fred, James, Nique, Louis, Lucy, Molly, Lily e meu irmão,
Hugo. Era uma família bem grande.
-Nossa, Rose, que tipo de feitiços você usou hoje? Você tá toda bagunçada, realmente péssima.-
começou Fred, sutil como sempre.
-O mesmo que você usou para ficar com essa cara de trasgo, Fred. Me erra.-respondi, mesmo
abrindo um pequeno sorriso.
-Você é doce como um limão.-disse, sorrindo também.
Eu sempre me relacionei melhor com meus primos do que com qualquer outra pessoa, a não ser
Jullie e Scorpius. Os almoços, tanto nas férias como em Hogwarts, as comemorações de quadribol
(inclusive um James Sirius berrando "GANHAMOS! CHUPA, COBRAS!" em plenos pulmões nas mesas
da sala comunal), os natais e todos os outros momentos eram melhores com eles. Mas naquele dia a
minha cabeça estava um pouco longe e eu não sabia o porquê. Não foquei nas brincadeiras e
conversas agitadas deles, nem em Jullie tagarelando, como sempre fazia, sobre tudo e todas as
coisas. Durante o almoço eu me permiti vagar o olhar por todo o salão, com a mente longe dali. Ia de
Albus e Scorpius, na mesa da Sonserina, rindo com outros amigos da casa, e passando por mais
alguns rostos conhecidos, todos aproveitando o tempo livre de preocupações.
Até que meu olhar recaiu sobre Adelline.
Eu não estava entendo o porquê de tanta curiosidade sobre aquela garota. Talvez por que era nova
em Hogwarts? Transferida de Beauxbaton? Quem sabe, não é? Afinal, eu sempre tive muita
curiosidade com os segredos que aquele castelo escondia. Como ela fora selecionada? Eram muitas
dúvidas que vieram na minha cabeça.
-Ok, pessoal, antes de começarmos, temos que adubar um pouco mais a Bocha-de-Guincho com
excremento de dragão. O de testrálio é mais forte, mas a Bocha faz um barulho bem desagradável
no sol com ele, então vamos usar o outro.-dizia o professor Longbottom, na aula de Herbologia
depois do almoço.
As estufas estavam em um clima agradável, apesar da estação e de lá geralmente ser bem quente. A
luz do sol, que já começava a abaixar no céu, transparecia pelos vidros do aposento, deixando o
lugar com uma iluminação até aconchegante. As aulas do Longbottom sempre foram bem
agradáveis para mim.
Eu, como sempre, estava anotando tudo o que ele falava. Um olho nas anotações e o outro em
Jullie, que cuidava da planta, temendo que ela fizesse algo com ela. Minha melhor amiga não se
dava tão bem com plantas.
-Você viu que tem uma aluna nova? Curioso, não acha? Eu nunca vi alguém entrar assim no quinto
ano, nem em ano nenhum, na verdade.-comentou, brincando distraída com as ferramentas, e
tentando colocar incansavelmente uma mecha do cabelo loiro, quase ouro, ondulado e muito
rebelde, para trás da orelha.
-Vi, esbarrei com ela no corredor de Aritmancia. É francesa.
-Olha só, nunca pensei que uma matéria tão chata te proporcionaria amizades novas.
-Prefiro Aritmancia do que Adivinhação. Aquela charlatã da Trelawney é péssima, nem pra você
fazer aulas com o Firenze.
-E eu prefiro botar o sono em dia no tempo de Adivinhação. Afinal, ela é veela também, igual sua
prima? Toda francesa que eu vejo, penso que é. É bem bonita, eu aposto que os garotos vão babar
nela.
Eu confirmei com a cabeça para o fato de ela ser bonita apenas, pois o professor tinha alterado o
tom de voz, como se indicasse que a nossa conversa estava atrapalhando. Sim, eu achei Adelline
bonita. Mas tinha algo a mais.
Desviei o olhar para ela, do outro lado da estufa, os cabelos negros amarrados em um coque mal
feito no alto da cabeça, concentrada em seu trabalho. Fazia par com Henry Bones, um sonserino
baixinho com cabelos cor de areia, que ficava segurando os potes que Adelline quase deixava cair.
Soltei uma risada baixa, sem querer. Era sorte a garota ter feito par com o cara mais paciente da
escola.
Adelline, talvez me notando, olhou também, e sorriu. Os olhos verdes fixaram-se nos meus
castanhos, e eu senti minha pele aquecer. Sorri de volta, meio desajeitada.
Ao fim da aula, encontrei com ela na porta das estufas. Suas mãos estavam sujas de terra, e ela
parecia querer se dirigir à algum lugar, mas sem saber onde. Como se estivesse perdida. De novo?
-Qual sua próxima aula?-perguntei, me aproximando, ao mesmo tempo que fazia um dos meus
feitiços básicos de limpeza para me livrar da sujeira de nossas mãos. Ela sorriu em agradecimento.
-Valeu. Não tenho aula, a diretora pediu que eu fosse à sala dela para resolvermos umas coisas
sobre a minha transferência.-respondeu, com aquele sotaque acentuado.
Eu assenti, receando se devia fazer mais perguntas. Minha curiosidade estava gritando por
respostas, mas ela realmente parecia com pressa e eu tinha aula de Poções, infelizmente. De todas
as matérias, era a que eu menos gostava.
-A sala dela fica no terceiro andar, vai ter uma gárgula. Quer dizer, caso não saiba onde fica.
E ela foi ver a McGonagall, com passos rápidos, seguindo na direção oposta que eu deveria seguir.
Jullie logo me alcançou, me questionando por que é que eu estava falando com a francesa. Eu
simplesmente dei ombros e continuei o caminho ao seu lado.
A aula de Poções daquela tarde estava incrivelmente cansativa. Tive que me controlar para não
decidir pegar no sono, como Jullie fez e acabou pegando uma detenção. Ou Scorpius, que só não
dormia porque Albus o acordava de cinco em cinco minutos.
Não que o professor Slughorn estivesse mais puxa-saco dos incríveis-preparadores-de-poções-da-
classe-que-eram-coincidentemente-filhos-de-outros-preparadores-excelentes, ou qualquer outra
característica típica dele tivesse se tornado pior do que já era. Estávamos preparando a poção do
Sono Simples, e só o cheiro já me deixava muito sonolenta. Pelo menos a da minha, que eu já havia
terminado e agora passava à limpo as anotações, e a de Albus, que era realmente bom na matéria.
Isso para mim era uma grande surpresa, porque toda a família dele eram tão péssima em poções
quanto o meu pai, e eu não via de quem ele tinha puxado tal talento.
Certo, talvez o meu pai fosse pior, mas isso não vinha ao caso.
-Al,-exclamou Scorpius, sonolento, apoiando a cabeça na mesa-eu odeio poções.
-Eu sei, Scorp. Acorde, você não pode pegar uma detenção ou vai pegar mal para a sua reputação
de menino bonzinho.
-Pensei que você dissesse que Scorpius não era um menino bonzinho, Al.-comentei, abrindo um
sorriso malicioso, mas ainda concentrada nas anotações. Scorpius levantou a cabeça subitamente e
lançou um olhar indignado para Al, realmente acreditando no que eu disse. E Albus lançou um olhar
indignado para mim, irritado com o que eu disse. E eu me segurei para não rir alto e acabar
chamando a atenção do professor.
-Me erra, Rose. Eu não falei nada disso, Scorp.-mas Al estava incrivelmente corado, e nós três
acabamos por rir, baixinho.
Éramos os únicos que tinham terminado a poção, um pouco mais complicada do que a turma estava
acostumada; Jullie tinha desistido de fazer quando chegou na metade e a poção ainda estava
alaranjada e pastosa, bem longe do que deveria estar; Elisa Rallis, uma menina da Sonserina, estava
misturando por mais vezes do que se podia contar e não conseguia finalizar; o resto da classe não
obteve tanto sucesso, tampouco. Mas eu tinha conseguido fazê-la, e eu sempre ficava feliz com meu
bom desempenho nas matérias. E naquele dia, o meu humor já estava relativamente bom.
-Rose, fez amizade com a francesa? Vi vocês no corredor, antes da aula. Como ela é?-perguntou
Al, enquanto terminava de guardar a poção acinzentada num pequeno frasco. Slughorn, vendo isso,
abriu um largo sorriso e veio em nossa direção para pegá-lo. Eu já estava me preparando
mentalmente para o clássico "ó, não esperava menos do meu aluno favorito! É a cara do seu pai". Só
de pensar eu me arrepiei.
Não era amizade ainda, mas confirmei com a cabeça. Contei para os meninos sobre o episódio do
corredor, antes do almoço, e sobre a minha curiosidade de saber em como fora essa transferência
para Hogwarts.
Adelline estava do outro lado da sala, concentrada na própria poção. Ela parecia ser boa naquilo,
seguindo cada passo minuciosamente, e a cor do líquido parecia chegar ao esperado. Scorpius seguiu meu pensamento, dizendo-se curioso sobre a menina também, que nunca conversara com
uma francesa. Albus arqueou as sobrancelhas, e eu abri um sorrisinho. Era engraçado ver meu primo
com ciúmes.
-Desculpe? O britânico aqui não serve não, Malfoy?-indagou, ao passo que Scorpius o olhava
sorrindo, divertido.
-Para Slughorn você serve, não se preocupe.-comentei, baixo, quando o professor chegou na
mesa dele e começou a analisar a poção.
-Muito bom mesmo, sr. Potter! Não esperava menos! 5 pontos para a Sonserina.-exclamou, com
um sorriso bobo por baixo do bigode gigante, e voltou para sua própria cadeira segurando a poção
de Albus como se fosse a Felix Felicis mais poderosa do mundo.
-Você tem inveja porque ele não dá pontos para a Grifinória, Rose. Aceite, a Sonserina é a melhor
casa.-disse Albus.
Eu revirei os olhos. Na verdade, eu não dava a mínima para essas brigas de casa, ou quem ficava em
primeiro, ou qual casa era a melhor. Claro, eu ficava feliz quando a minha casa ganhava. Ou até a
dos meninos. Mas não era como eles, que davam de tudo para ganhar a Taça das Casas pelo máximo
de anos seguidos.
-Não preciso dos pontos de um puxa saco, Al.
Do outro lado do aposento, Adelline entregava a amostra da poção para Slughorn. O professor parou
alguns minutos, conversando com ela, e eu sabia que ele estava tentando achar algum parente
famoso dela. Ela falou algo, tímida, e ele simplesmente concordou, parcialmente satisfeito. Eu engoli
seco, desconfortável. Odiava aquele favoritismo do professor.
Sendo o ano dos NOMs, eu comecei a estudar desde cedo. Eu tinha pavor de matéria acumulada.
Certo dia eu estava na biblioteca estudando a parte teórica de transfiguração. Era outubro, início da
temporada de quadribol. Scorpius jogava no time da Sonserina e Albus foi apoiá-lo no treino, então
não foi estudar comigo. Jullie não tinha acordado ainda, então eu fui sozinha.
A mesa onde eu estava sentada estava completamente bagunçada e cheia de pergaminhos e livros
de transfiguração, até alguns mais avançados, o que tornava até difícil achar algumas coisas em cima
dela. No geral, eu era bem organizada, mas naquele momento eu não podia parar para ficar
organizando tudo e acabar perdendo meus pensamentos. Os NOMs estavam chegando e eu tinha
que me concentrar.
Mas, como sempre, algo tinha que dar errado. Passei uns bons minutos pesquisando os males que
um feitiço de desaparecimento mal executado poderia causar, e quando eu finalmente consegui
formular a resposta para a tarefa, vi que minha pena tinha sumido. Revirei toda a mesa, à procura
dela, e não achei. Nem dentro da minha bolsa, ou caída no chão. E eu precisava logo de uma pena.
Até que lembrei que, em uma das mesas, madame Pince, a bibliotecária, deixava algumas penas
reservas para os alunos.
Tinha uma garota sentada na mesa onde estavam as penas. Ela tinha os cabelos presos em um
coque que me pareceu familiar, mas a mão estava apoiada no rosto e eu não consegui reconhecer.
Era sábado e ela também não usava uniforme, portando eu não sabia de qual casa era.
Eu não queria assustar ela, mas não valia a pena ir lá (irônico, se você parar pra pensar nessa
expressão). Então eu murmurei um feitiço convocatório simples.
-Accio pena.
A pena veio até mim no mesmo instante, e eu me preparei para continuar o raciocínio. Mas, claro,
eu assustei a garota, que virou bruscamente para me ver.
Por acaso, era Adelline.
Mas ela simplesmente sorriu e acenou. E eu consegui corar ainda mais, na minha tentativa idiota de
responder o sorriso e o aceno.
Certo, eu tinha que concentrar. Malefícios de um feitiço de desilusão mal executado.
Adelline tinha se levantado.
Desaparecimento permanente da parte humana atingida...
Ela estava se aproximando da minha mesa.
Não, desaparecimento não... O que era mesmo?
Ela se sentou na cadeira ao lado da minha, e sorriu novamente. Eu levantei a cabeça, tentando
retribuir. Percebi que ela tinha o mesmo exercício em mãos.
-Transfiguração? Estou com um pouco de dúvida nisso, em Beauxbaton não estudamos esse feitiço
ainda. Pode me ajudar?
Eu, claro, ajudei. Eu sempre fui acostumada em ajudar as pessoas com deveres e estudos. Albus
sempre dizia que eu era inteligente demais para a minha idade, mas eu não achava isso. Bem, eu
sempre tirei notas altas e até que tinha um bom conhecimento das coisas, mas não era como se eu
fosse essa gênia que ele idealizava.
Ficamos quase a tarde inteira estudando. Foi a primeira vez que eu falei de verdade com Adelline.
Não só um oi ou um "qual a sua próxima aula?". Não, nós conversamos mesmo, sobre a matéria,
sobre Hogwarts, sobre a França e sobre tantos outros assuntos.
Ela contou como era na outra escola e como fora selecionada para a Sonserina. Eu contei sobre
Albus e Scorpius e sobre eles nunca terem a visto.
Ela também contou sobre o que estava achando da escola. E a primeira impressão dela sobre mim.
-Quando me falaram de você pela primeira vez, achei que fosse um pouco introvertida.-disse,
enquanto adiantava um dever de Trato de Criaturas Mágicas-Rose Weasley, filha da mulher que
está quase virando ministra da magia da Grã-Betanha, o crânio de Hogwarts... Falaram que você era
um pouco fechada, falava mais com seus primos e algumas outras pessoas. Mas você foi tão gentil
comigo! Gostei de você, Rose. De verdade.
Aquilo me atingiu. Falar que gostou de mim me fez ganhar o dia, mas falar que as pessoas me
achavam introvertida alterou o meu ver sobre os estudantes de Hogwarts.
E não, eu não os achei nojentos ou fiquei chateada. Eu só comecei a perceber que, de fato, eles não
falavam comigo sempre. Como se achassem que eu ia virar a cara ou não achasse eles bons o
suficiente.
-James, eu sou antipática?
Era quinta à noite, e eu estava na sala comunal com James, Fred e Dominique. Os três estavam no
último ano de estudos, último ano na equipe de quadribol (exceto Fred, que dizia ter outros talentos
melhores). Aliás, no dia seguinte eles teriam a primeira partida da temporada, contra a Sonserina.
Um clássico.
Eu estava deitada em um sofá à frente da lareira, com a cabeça apoiada no colo de James.
-É sim, Rose. Você é um monstro sem coração. Por quê?-respondeu, enquanto tentava fazer uma
trança nos meus cabelos. Eu dei um tapa em sua mão. Odiava que mexessem no meu cabelo.
-É sério. Eu sou... Metida, ou fechada? Sei lá, qualquer coisa assim?
-Que pergunta mais sem nexo, Rosinha.-disse Dominique, que jogava uma partida de Snap
Explosivo com Fred. Mas sempre perdia; Nique era péssima nesse jogo. Ela tinha os cabelos loiros
perfeitos caindo como cascata pelos ombros magros, que estavam amostra por causa da blusa larga.
Mesmo que a comparassem com sua irmã, Victorie, que já tinha se formado, eu sempre a achei mais
bonita.
-Uma amiga minha me disse que comentaram que eu sou assim. Isso é ruim?
-Você é meio fechada, não vou mentir. Mas não é antipática não. Só meio tímida, eu acho. É bem
complicada pra ganhar intimidade, acho que se não fôssemos primos eu só ia conseguir ter essa
intimidade com você esse ano.-brincou James, ainda persistindo em fazer uma trança em mim. Eu
bati em sua mão de novo.
-Rose, não esquenta. Não é coisa ruim. Quer dizer, não é exatamente bom, mas não é nada sério
pra você se preocupar.-disse Nique, gemendo de frustração logo em seguida quando Fred jogou
uma carta que explodiu todo o seu baralho.
-Aposto que estão falando merda sobre a tia Mione.-comentou Fred, deitado em outra
poltrona.-ignora, Rosinha. É só por que a mãe deles não vai ser ministra.
Eu revirei os olhos. Era difícil lidar com aquilo.
O último ministro da magia, Shacklebolt, tinha renunciado à pouco tempo. Desde então, a disputa
estava acirrada para ver quem tomaria a posse do cargo mais importante do ministério: Hayes
Middleton, um bruxo de meia idade que antes trabalhava no departamento de cooperação
internacional da magia, e, é claro, minha mãe, Hermione Granger-Weasley. Diziam que eu me
parecia com ela; determinada, inteligente, independente, e outros adjetivos que geralmente usavam
para nos descrever. Talvez por isso ambas estivéssemos receosas com a possibilidade de minha mãe
conseguir o cargo.
Sim, ela era uma mulher incrível. Ela podia, sim, ser a melhor ministra da história do mundo bruxo.
Mas não é assustador? Um cargo de tanto peso sob as costas? E eu tinha muita empatia com minha
mãe; eu sabia o quão preocupada ela estava, o quão ocupada. Até mandar menos cartas ela estava
mandando. A última não tinha passado de uma página.
"Rose, por aqui está tudo bem. A volta às aulas ocorreu bem? Espero que sim. Como está Hugo? Ele
não tem mandado cartas, diz que ninguém do ano dele manda tantas cartas . Fica mais de uma
semana sem mandar notícias.
E, sobre a sua pergunta, sim, o trabalho está puxado, mas não é nada que eu não dê conta. Farrel
continua colocando pressão sobre o mandato, isso está me desgastando. E Middleton está levando
isso muito para o lado pessoal, é péssimo, devíamos trabalhar juntos.
Eu e seu pai estamos com saudades. Esperamos que vocês venham passar o natal aqui, sei que você
precisa estudar para os NOMs, mas também precisa descansar um pouco, querida.
Te amo muito. Beijinhos,
Hermione"
Eu suspirei. Já estava cansada, o dia tinha sido longo. Passei ele inteiro estudando com Adelline. Pelo
menos eu não teria que fazer ronda de monitores naquela noite, então eu já podia dormir. Mas,
mesmo cansada, quando eu fui, o sono demorou para chegar. Não sei quanto tempo, mas
pareceram horas até chegar. Jullie e as outras colegas de quarto chegaram mais tarde do que eu e
dormiram antes, submersas em seus sonhos. Mas eu não. Eu sentia como se minha cabeça estivesse
cheia demais dos mais variados pensamentos e isso me impedisse que descansar. Era em momentos
como esse que eu desejava ter uma penseira.
E o pior é que eu não sabia o que estava pesando mais.

About it AllOnde histórias criam vida. Descubra agora