Romênia - 15 anos atrás
- Adivinha quem é! - Felipe cobriu os olhos de Jade e sentiu o cheiro de jasmim que vinha de seus cabelos.
- Não sei... talvez seja meu noivo! - Brincou Jade, mas logo se arrependeu, porque Felipe saiu correndo deixando-a para trás.
- Vem aqui, vou te pegar! - gritou Jade, correndo atrás dele, pulando em suas costas quando caíram na grama macia dos campos romenos. Ele sentiu seu coração bater em um ritmo estranho, bem como um embrulho no estômago, como se ele fosse virar do avesso.
Os dois caíram soltando gargalhadas enquanto faziam cócegas um no outro. Com o movimento, acabaram abraçados, ofegantes e com isso, rapidamente Felipe se afastou e Jade sentou-se de frente para ele.
O sol refletia nos cabelos castanho acinzentados dela e formavam um halo ao redor de sua cabeça; a visão dela fez com que ele lembrasse de um anjo, como os que viu nos murais da Catedral. Foi quando Felipe sentou-se também, ficou sério, lentamente se aproximou, puxou a rosa que ficou emaranhada nos cabelos de Jade, ao mesmo tempo em que reverentemente falou:
- Eu serei seu noivo um dia e você poderá dançar para sempre! Vou construir um castelo para que você seja minha rainha!
- Você é louco mesmo. Quem disse que vou me casar, ainda mais com você! - respondeu Jade, com seus olhos verdes refletindo alegria e um sorriso que não conseguiu conter.
- Eu digo e sempre cumpro minhas promessas! - Felipe falou e seus dedos tocaram os contornos do rosto de Jade e baixinho ele sussurrou - Garota cigana, você é tão linda.
Felipe Balan pisca rapidamente, afastando as memórias ao observar a paisagem através de sua janela. Seus olhos ficam marejados mas suas mãos esfregam as lágrimas que ainda não caíram.
O local da lembrança tão nítida em sua mente ainda está lá, logo atrás do bosque, ao fundo dos campos verdes, na linha do horizonte. O sol está se pondo e há uma ligeira névoa caindo. As lembranças são agridoces; tanto que a vida lhe trouxe e em tão pouco tempo tirou-lhe. Cheiro de grama, jasmim e rosas invade sua memória e entorpece seus sentidos.
Ele apoia sua mão no batente branco da janela e vira olhando ao redor, examinando o aposento ricamente ornamentado em madeira, couro e ouro. Apesar de tudo o que vivera, nada lhe trouxe a alegria completa de volta, aqueles dias em sua adolescência foram gravados em seu cérebro como um ferro em brasa queimam a carne... sua mão vai até o local da marca que há muito tempo não reside em seu corpo... a memória cruel de um destino triste, sem esperança.
Em um dos lados do seu escritório, a lareira aquece o ambiente, o crepitar do fogo lento e constante traz uma sensação de paz e conforto. No entanto, seus pés o levam até o lado oposto, no qual se encontra a escrivaninha de madeira de lei que pertence à sua família há gerações, bem como quase tudo que o cerca.
Felipe passa a mão por seus papeis organizados por assunto e retira de baixo de todos, uma pasta de couro marrom, ricamente ornamentada com arabescos. Colocando-a sobre o centro do móvel, ele passa as mãos em um desenho específico entalhado na pasta, próximo ao fecho de amarrar: uma pequena rosa que adorna e dá significado ao conteúdo.
Flashes de cores e risos, de sua linda garota cigana e também de choro, desespero e dor, do dia em que quase morreu no acampamento cigano. O dia que mudou suas vidas, no qual viu seu futuro ser envolvido por uma maldição e um feitiço, duas coisas nas quais foi criado para não acreditar. O dia fatídico no qual perdeu uma parte de sua alma.
Com o tempo, todos os fatos foram se interligando às memórias de sua vida após o episódio que mudou tudo. A negação, a procura e o momento no qual a magia deixou-lhe.
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A rosa enfeitiçada (degustação)
RomanceEsta é uma história de reencontro de almas, de amor e de perdão. Uma maldição e um feitiço, o futuro foi traçado. A roda do destino não para de girar, muitas vidas foram interligadas, quem arrisca qual será o resultado final? Giulia vive e respira a...