Os dias seguintes foram bastante intensos, eu nunca poderia reclamar do fato de minha esposa querer ter relações todos os dias, alguns dias até mais de uma vez. Eu seria louco se reclamasse disso. Mas em alguns momentos eu me sentia como uma máquina de pronta-entrega de bebês. Não me entenda mal, Valerie e eu sempre tivemos uma excelente vida sexual, ela sempre foi disposta e eu também, mas a maratona sexual que se seguiu, foi incomum e por mais que desse para entender os motivos dela, por algumas vezes eu me sentia em segundo plano, como se nosso momento mais íntimo, ela olhasse através de mim, ao invés de me olhar.
Não quero parecer paranoico, mas as palavras de Mauro sempre retornavam à minha mente, os horários, a loucura para conseguir que um pequeno espermatozoide fosse mais esperto que os outros. Tentei conversar algumas vezes, mas sempre me parecia sem propósito reclamar que ela queria sexo demais. Comecei a tomar energéticos, porque eu não sou de ferro O.K.?
Tínhamos acabado de ter uma sessão de sexo matinal e Valerie parecia estranhamente distante, novamente. Resolvi tomar banho, pois tinha de correr para o hospital. Ela foi até o espelho do banheiro e notei que seu olhar estava fixo na barriga.
―Está tudo bem, amor?
―Sim.
―Por que não toma banho comigo? ― chamei ligando o chuveiro.
―Não. Acho que vou organizar algumas coisas antes.
Ela saiu, mas não parei para pensar muito. Quando voltei ao quarto para me vestir, ela não estava, o barulho na sala também tinha cessado, provavelmente tinha ido levar o Pedrinho. Tomei o copo de vitamina que ela tinha deixado na bancada da cozinha, com um bilhete.
"Estarei no estúdio com a Melous até tarde, lembre-se de pegar o Pedrinho e jantem sem mim. Beijos, tenha um ótimo dia. Te amo. V."
Droga, aquela banda de novo! Eu sabia que Romeu era passado, mas não conseguia evitar que meu sangue fervesse quando sabia que ela estava perto dele. Por mais que ele tivesse uma namorada, eu sempre notava o olhar de admiração que ele lançava para minha esposa. Sabia que naquele dia eu ia ter de me controlar, para não encher Vale de mensagens e ligações. Ela me conhecia bem o suficiente para saber quando eu estava preocupado, ou só morrendo de ciúme.
O hospital estava particularmente lotado. Tantas crianças com todo tipo de viroses, suspeitas de dengue, zika vírus, toda sorte de doenças emergenciais, com pais preocupados e sem dormir. Comecei a atender e só consegui parar depois das 14:00, quando subi para almoçar na lanchonete.
―Doutor Ricardo.
―Oi, Márcia.
―Chegou esse envelope para o senhor.
―Quem deixou? ― perguntei pegando o envelope pardo e sem remetente.
―Disseram que foi uma moça loira.
―Ela disse o nome? Ou do que se tratava?
―Não sei, doutor, ela deixou isso bem cedo, era o plantão anterior, eu apenas fiquei de lhe entregar, mas com a correria da manhã, esqueci.
―Tudo bem, obrigado.
Abri o envelope e tirei uma fotografia de dentro. Era um menino, provavelmente com três ou quatro anos, cabelos loiros e lisos, olhos verdes, sorrindo. Segurava uma bola e parecia bastante sujo de grama. Um lindo garotinho, não era um rosto conhecido, nem me parecia um antigo paciente, mas também, são tantos rostos e tantas crianças, que eu poderia ter esquecido mesmo. Atrás da foto, apenas uma data 15 de abril de 2011.
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Confissões de um Traste (DEGUSTAÇÃO)
RomanceEles completaram um ano de casados e concordaram que é a hora de tentarem seu segundo filho, já que Pedrinho está grande e eles querem passar a um novo estágio da relação. Mas o passado de um ex-traste volta a todo vapor e um vendaval se instala na...