Capítulo 15

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- Eu dei ordens expressas para que não disparassem para cima do meu filho! - exclama de uma forma irritada o meu pai. 

Pouco a pouco consigo apoderar-me novamente da plenitude das minhas funções vitais, mas uma dor bastante angustiante ainda predomina no meu ombro. Raios violentos de sol batem-me na cara. É de manhã. Passei aqui a noite. Consigo sentir uma ligadura que exerce uma pressão em volta do meu ombro. 

- 21 jovens foram abatidos e infelizmente dois conseguiram escapar, senhor. - diz uma voz vinda atrás de mim. 

- DOIS O QUÊ? - grita o meu pai - Quem são os nossos fugitivos? - interroga os guardas. 

- O doente número 6543, Thomas Jackson e a doente número 5421, Ana Lugs. - responde-lhe. 

Thomas Jackson? Esse é o filho da minha minha professora de Cálculo, esse é o rapaz que o governo tinha anunciado como morto, mas pelos vistos mentiram. Qual o interesse deles nisso? 

- Quero todas as unidades em busca destes dois fugitivos. Temos de os apanhar. - diz ele com agressividade. - Saiam! - aumenta o tom. 

Assim que me apercebo que me encontro sozinho com o meu pai abro os olhos lentamente conseguindo perceber que nos encontramos no seu escritório. 

- Peter! Estás bem? - diz ele virando-se para mim. 

- Porquê pai? Porque é que  anunciaste a morte de um doente que, na verdade, está vivo? - profiro sem mover o meu olhar que se encontra completamente centrado no dele. 

Um silêncio entre nós se instala. Não obtenho nenhum tipo de resposta por parte dele, e então continuo sem saber o porquê de o governo ter declarado a morte de alguém que não morreu.

- Sabes Peter, há momentos na vida em que não podes simplesmente ter todas as respostas que desejas. Por causa de ti, aqueles dois guardas morreram naquela tarde, por causa de ti vinte e um jovens morreram hoje. Estás orgulhoso? - diz ele com um ar sério. 

Com as suas palavras, o meu pai consegue com que uma sensação de culpa e um grande peso de consciência se instalem nos meus pensamentos. Será que todas estas mortes, foram realmente culpa minha? 

- Não! Se eles não tivessem sido abatidos hoje iriam ser executados só por serem o que eles realmente são. A culpa é tu. Tu é que devias sofrer com cada pessoa que morre por tua causa. Abandonaste-me, a mim e à mãe para quê? Para te dedicares a isto? Porquê PAI? Tinhas um futuro tão brilhante connosco. - deixo uma lágrima escorrer pelo meu rosto que se encontra agora pálido. 

Caminho na direção da saída e antes de sair pela mesma consigo ouvir um choro fungado vindo do meu pai, mas mesmo assim não olho para ele.

- Feliz aniversário meu filho!-  exclama. 

Engulo em seco, e sem lhe responder saio do escritório. 

Encontro-me agora no corredor sangrento onde tudo tinha acontecido ontem. À minha frente encontram-se duas empregadas que limpam os últimos pingos de sangue situados no chão que retratam perfeitamente aquilo que aqui aconteceu. Não estou acompanhado por nenhum guarda, o que acho estranho. Mas é provavelmente por ser  filho de quem sou. 

Depois disto tudo tenho de ir ver se Jhon está bem.

 Ando até ao quarto número um, que é onde ele está inserido. Bato à porta tentando escutar pela porta se ele se encontra lá ou não. Verifico que a porta está um pouco aberta. Franzo a sobrancelha pois os guardas nunca deixariam as portas dos quartos abertas. 

Entro no quarto olhando em volta. Jhon não está aqui. Começo a entrar em pânico  pois hoje é o dia da sua execução. Mesmo com o ombro ferido tenho de arranjar uma solução para puder salvá-lo.

Saio do seu quarto rapidamente indo até ao meu que fica no corredor ao lado. Assim que lá entro vejo que Jhon está sentado na minha cama. Tranco a porta do quarto. 

- Jhon? - pergunto num tom de voz baixo aproximando-me dele. 

- O que se passou ontem à noite? - pergunta-me. 

- Tentei armar-me em herói, mas não consegui como já é habitual. - lamento. 

- Podes não conseguir ser o herói de ninguém, mas pelo menos estás a conseguir ser o meu.  

Um tom rosado preenche a minha cara ao ouvir as suas palavras. Mantenho-me em silêncio. 

- Feliz Aniversário Peter! - Grita ele abraçando-me de seguida. 

Mais uma vez esqueci-me do meu dia de aniversário. Hoje faço anos, e não vou poder estar com quem mais amo. 

- Obrigado. - aperto o abraço. 

Os quartos possuem uma televisão com um único canal. Ligo a televisão que se encontra a uns centímetros de distância da cama. 

" Thomas Jackson, que há meses tinha sido declarado como morto pelo governo, por não resistir aos tratamentos relativos à Sindrome de Homoslor, ao que consta encontra-se vivo. Segundo os seus relatos o governo manipula os dados de todos os doentes contaminados com esta síndrome e o jovem vai mais longe afirmando que todos os jovens são bastante maltratados dentro das instalações hospitalares. Os partidos da oposição exigem justificações e estas declarações já levaram a centenas de manifestações por todo o país. Esta é uma notícia que iremos continuar a acompanhar."

O meu olhar cruza-se com o de Jhon e uma incerteza à cerca do nosso futuro instalasse ente nós. 


Executado Por Ter NascidoOnde histórias criam vida. Descubra agora