─ Você tem alguma intenção de me explicar o que está acontecendo hoje? – Bruna passou a aula com a cara fechada, nem conversou, nem nada. Agora saía da sala com cara de poucos amigos. – Fiz alguma coisa? – Eu não conseguia entender. Só com meu apelo ela abriu um sorriso tristonho.
─ Não está sendo um dia fácil... – Confessou.
─ Quer almoçar comigo? – Convidei. Milena, que estava na porta da sala me esperando, lançou-me um olhar de arrancar pedaço. A gente não estava bem também. Não posso fazer nada, por mais que a gente se goste, preciso sair do país e ela é nova demais para abrir mão de tudo e ir seguir meus passos. Precisamos encontrar um jeito para sofrer menos e crises de ciúmes de ambas as partes simplesmente não vão ajudar.
Minha namorada jogou o cabelo na minha direção, provavelmente torceu aquele narizinho lindo e partiu com pisadas fortes. Bruna, por um instante, ficou sem saber direito o que fazer, ela sabia dos meus problemas com a "princesinha ciumenta do papai", mas como eu nem desviei o olhar em direção a Mile, ela me abraçou com força. Devia mesmo estar precisando de ajuda.
Saímos dali para um restaurante de bairro perto da escola. Tive de obrigar minha amiga a fazer um prato no self-service, eu detestava essa mania louca da Bruna de não comer. Mais um pouco ela iria sumir.
─ Pode mastigar e engolir, dona teimosa. – Insisti com ela. – Não vou deixar a senhora em paz enquanto não fizer isso.
─ Você sabe quantas calorias tem essa torta de palmito? – Ela me olhava como se eu fosse um monstro.
─ Você quer discutir alimentação saudável comigo?
─ Vai tudo para minha bunda... – Ela não tinha argumentos e apelou mais uma vez para a estética.
Para não perder a piada, eu me levantei e dei uma boa sacada no material da minha amiga e respondi:
─ Bem que está precisando. – Ela me deu um seguro murro no ombro. – É sério. Quando você namorava comigo era muito mais gostosa.
─ Até parece! Esse manequim foi conquistado a base de muita malhação.
─ Malhação? – Balancei a cabeça. – Piração, você quer dizer. Tenho certeza de que continua com aquelas dietas malucas de suco de laranja, pepino e melancia.
Bruna colocou um pedaço de brócolis na boca e começou a mastigar. Prova inconteste de que ela continuava com as dietas malucas. Eu me preocupo demais com essa moça. Quando eu namorava com ela, era muito fácil manter o peso para as competições. A geladeira de Bruna, se você somar todas as calorias, não dá um sanduíche do Mc Donald's. Ela consegue viver mais estressada com a sua forma física do que eu mesmo. Já tentei de todas as formas fazer com que ela compreenda que isso pode fazer muito mal, mas cadê que ela me escuta?
─ Como é que você está? – Mudou de assunto. – E a Milena?
─ Que eu saiba, nós estamos aqui por sua causa. – Insisti. – Como você está? O que aconteceu?
─ Já estou melhor... – Outro pedaço de brócolis na boca para encerrar o assunto. Bruna tinha muita dificuldade em falar dos seus problemas. Passara tempo demais resolvendo tudo sozinha. Não deixava ninguém ultrapassar suas barreiras para ajudá-la.
─ Não vai falar mesmo? – Ela desviou o olhar. - Eu estou vendo que você está péssima, colega. Nem adianta tentar disfarçar...
─ Coisas da vida, Lipe. – Foi logo me interrompendo com uma voz irritada. – Muito desaforo de patrocinador. Exigências. Compromissos. Família...
─ Sua mãe?
─ Não. Ela nunca mais deu as caras...
Conheci a mãe de Bruna. Ela foi certa vez pedir ajuda. Minha impressão foi das piores. Pedia dinheiro à filha, mas fazia isso com uma empáfia horrorosa. Como se fosse obrigação de Bruna manter seus luxos. Aquela mulher é chave de cadeia.
Bruna sabia bem de quem se tratava. Afinal, cresceu com ela. Trocaram farpas e desaforos, acusações de todas as naturezas. Temi que as duas se engalfinhassem no meio da sala. Percebi que Bruna pode ser bastante valente caso precise ser.
Mas, para a minha surpresa, apesar da cena dantesca, minha amiga ainda deu dinheiro para a mãe, contrariando toda e qualquer expectativa. Foi bizarro. Nós nunca conversamos sobre essa cena. Bruna caiu no choro quando ela partiu e só me restou como então namorado, consolá-la.
─ E a dança, como está? – Foi a minha vez de mudar de assunto. Nem eu tinha coragem para falar sobre a relação de Bruna com aquela mulher.
─ Nem me fale. Nem me fale. – Outro pedaço silenciador de brócolis.
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Por Onde Andei
Novela JuvenilNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...