Ela saiu da sala sem explicações depois do telefonema. Não tinha o menor pique para acompanhar mais essa loucura. Bastava por hoje. Que fosse.
Estava sendo extremamente difícil. Havia horas que eu desejava dar umas boas palmadas naquela mal-educada, cansei de tanto fazer força e ela resistindo, arrastando-se. Pesava em meus braços. Logo depois, derretia feito manteiga, seus olhos ofereciam-se em pura doçura, uma doçura longe da minha capacidade de compreensão. Eu não entendia. Nunca ia entender completamente. E aquilo tirava meu prumo.
Desde que ela me beijou, não sei mais o que fazer com essa falta de controle. Com esse desespero que me dá todas as vezes que tento entender meu comportamento. E nessas horas eu poderia beijá-la ali mesmo. Ainda que não admitisse isso para mim.
Mas esse é um comportamento intolerável. Irracional. Inaceitável em tantos níveis numa relação como a nossa.
Entretanto, quando ela saiu e eu tomava banho para partir, tentava me convencer que estávamos confundindo tudo. Que eu gostava de Milena. Que nossa relação era profissional, nada mais. Mas, então, por que eu insisti tanto em quebrar a resistência? Eram apenas passos, era apenas tango. A resposta não me convencia.
Caminhei distraído. Trabalhei distraído. Nem as contas da boate tiraram meu pensamento de Bruna. Era um alívio saber que estava tudo acabando. Mais um domingo e cada um iria para seu canto. Eu poderia ser dono de mim novamente.
***
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Onde Andei
Ficção AdolescenteNo quarto volume da série Nando, pela primeira vez, temos a visão simultânea dos dois protagonistas: Bruna e Carlos Eduardo. Ela, atriz desde menina, não está acostumada a confiar nas pessoas. Resolve os seus problemas a sua maneira, nem sempre acer...