Carlos Eduardo - Sentei no lugar de sempre

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Sentei no lugar de sempre. Milena passou por mim e me cumprimentou. Parece que as fotos na revista garantiram meu lugar na seleta elite dos que valem a pena no colégio. Grandessíssima porcaria. Mas pelo menos eu recebia um pouco da atenção dela.

─ Oi.

─ Oi.

─ Você está bem? – Disse carinhosa. Eu não deveria mesmo estar com cara de muitos amigos.

─ Problemas. – Por que sou tão monossilábico às vezes?

─ Sei como é. Coisas do coração? – Sentou do meu lado. Segurou minhas mãos. Foi tão surpreendente que até hesitei. Mas acabei a deixando guardar a minha mão entre as suas.

─ Não diria que o problema seja do coração. Meu problema tem nome e sobrenome: Bruna Drummond.

─ Nem me fale nessa garota.

Eu sabia que Milena não estava na lista de fãs de Bruna, porque ela e o herói olímpico tiveram um rolo no passado. Por isso a mencionei, eu estava gostando de bancar o confidente.

Além do que, Bruna não estava lá. Ela não fora para a aula. Claro. Deveria ter ido para a Alemanha com o camisa dez da seleção. Atletas.

─ Você é ciumenta, Milena? – Perguntei na maior inocência.

─ Eu? Claro que não! – Olhava-me com uma indignação que afirmava que era extremamente ciumenta. – Aquela garota é que é enxerida. E se acha demais só por ser atriz... Não sei como você a aguenta.

─ Ossos do ofício. Faz parte.

─ Vive se metendo com meu namorado... – Milena divagava. – Se arrastando. Mendigando atenção. Ridícula. Quero é que morra!

─ E você ainda diz que não é ciumenta? – Provoquei.

─ Não. O ciumento da relação é ele.

─ Imagino...

─ Acredita que ele detestou o fato de eu ter dançado com você? Brigou comigo e tudo. Como se eu tivesse que relatar todos os meus passos. Quis dançar, dancei, oras... A gente se conhece faz séculos, oras...

─ Foi mesmo? – Eu não estava gostando do rumo que essa história estava tomando. Definitivamente, eu não precisava provar da fúria do atleta olímpico. Nunca entendi o que levara uma princesa como Milena a se envolver com aquele brutamonte. Mas agora eu tinha a impressão de que eles eram mais parecidos do que eu imaginava a princípio.

─ Mas quer saber? Não estou nem aí. – Parecia decidida. – Não vou abrir mão dos meus amigos por causa dele. – Disse segurando minha mão mais forte ainda. – Principalmente quando ele não desgruda da ex-namorada...

─ Eles mal se falam... – Soltei sem pensar. O olhar de Milena me fuzilou. Naquele instante, eu soube que uma mulher enfurecida poderia me matar facilmente se quisesse. Aquilo sim era fúria. E eu que a via apenas como uma princesinha. Mulheres enganam.

─ Pois saiba que Felipe faltou aula hoje para ficar com ela no hospital. – Estava ensandecida. – E vem falar de mim...

─ Hospital? – Milena continuou a vomitar um monte de asneiras sobre as falsidades do namorado. Não ouvi mais nada.

─ Parece que a avó dela está doente. – Fez uma careta leviana.

Recolhi meu material. Antes de o sinal tocar eu já estava no carro.

***

Por Onde AndeiOnde histórias criam vida. Descubra agora